Ouvir as angústias, demandas e propostas dos diversos atores que fazem parte da atividade equestre em Pernambuco. Com esse objetivo, a Comissão de Esporte e Lazer da Assembleia Legislativa realizou Audiência Pública, nesta quinta (4), para mapear a situação dos esportes equestres no estado.
O debate sobre as medidas necessárias para fortalecer o segmento reuniu deputados, autoridades, atletas e dirigentes de entidades representativas do setor. A proteção da saúde e bem-estar dos animais utilizados nas diversas modalidades, como o hipismo e a vaquejada, também foi discutida pelos participantes.
Presidente do Colegiado de Esporte, o deputado Pastor Júnior Tércio (PP), detalhou na reunião Projeto de Lei (PL) nº 494/2023, de sua autoria, que institui o Passaporte Equestre, que contemplaria em um só documento, todas as informações do animal, incluindo vacinas e exames.
Segundo Tércio, a medida facilitaria a fiscalização e o transporte dos cavalos. “É muito importante que toda a comunidade esportiva, que atua nessa modalidade tome conhecimento da ideia, para que possamos contar com o apoio de todos, inclusive os deputados desta Casa”, reforçou.
Mormo
Presidente da Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ), Pauluca Moura comentou que o estado de São Paulo tentou aprovar a criação do passaporte equestre, mas a iniciativa esbarrou nas dificuldades relacionadas a doenças como o mormo, uma zoonose causada por bactérias e que não tem cura.
Um problema apontado por Moura, que também é vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Quarto de Milha (ABQM), é a imprecisão dos exames para detectar a patologia, levando ao sacrifício de animais devido a falsos positivos.
O dirigente da ABVAQ discutiu com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. a possibilidade de uma portaria federal que retire a exigência do exame de mormo para o GTA (Guia de Trânsito Animal). Segundo Moura, a portaria com a mudança deve ser publicada em breve pelo ministério.
“Mesmo que um exame de mormo dê positivo, o cavalo só poderá ser sacrificado se ele for sintomático. Se não tiver sintoma, aí não poderá mais ser sacrificado”, explicou. Para ele, a medida foi “uma vitória importante para os esportes equestres”.
Por outro lado, Fernando Miranda, diretor de Defesa e Inspeção Animal da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro), vê a medida com preocupação. “Por que se a gente não acredita no resultado positivo, porque a gente acredita no resultado negativo? Então, deve haver condições de melhorar o exame, substituindo por outro que dê maiores garantias de que aquele animal realmente é positivo, ao invés de apenas retirar a exigência”, observou.
A professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Beatriz Dutra Vaz, concordou com a necessidade de aprimorar as técnicas de detecção da doença, e divulgou os serviços gratuitos da UFRPE voltados à saúde dos equinos, incluindo o fornecimento da medicação.
Na ocasião, o vice-presidente do Jockey Club de Pernambuco, Leonardo Uchoa, apresentou na audiência as principais atividades da agremiação dedicada ao turfe – a mais antiga do país, fundada pelo imperador D. Pedro II. Uchoa analisou como as corridas de cavalo ainda são desconhecidas do público e carecem de patrocínio, apesar de Pernambuco sediar a principal prova da modalidade no Nordeste, o Grande Prêmio Bento Magalhães.
Por fim, autoridades da área no Governo do Estado e na Prefeitura do Recife também estiveram presentes. O secretário executivo de Esportes de Pernambuco, Guilherme Falcão, enfatizou que a gestão não faz diferenciação entre as modalidades e contemplou, de 2018 a 2022, 17 atletas do hipismo com o benefício do Bolsa Atleta.
Parlamentares
Vários deputados se pronunciaram durante a reunião em apoio aos atletas e empreendedores dos esportes equestres no estado. Rodrigo Novaes (PSB) defendeu medidas para tornar a vaquejada mais rentável. O primeiro secretário da Alepe, Gustavo Gouveia (Solidariedade), que apresentou uma proposta similar de passaporte equestre em 2021, avaliou que é preciso ter cuidado em relação ao ato de legislar sobre a vaquejada pelo seu potencial econômico e importância cultural.
Gilmar Júnior (PV) chamou a atenção para a audiência da TV Vaquejada, líder na transmissão das competições, e defendeu a criação de centros veterinários gratuitos. Mário Ricardo (Republicanos), abordou a prática da cavalgada, e a necessidade de mais incentivo à atividade como forma de gerar emprego e renda, e fomentar o turismo. Já Kaio Maniçoba (PP) afirmou que a audiência desta quinta sinaliza “o olhar da Alepe para o bem-estar animal e para a valorização dos esportes”.
A deputada federal Clarissa Tércio (PP/PE) foi outra parlamentar presente ao encontro. Ela afirmou que está de “braços abertos” às causas do segmento, e destacou a vaquejada como um esporte que promove a união da família.