
ENCAMINHAMENTO – Doriel Barros propôs reuniões com o Ministério Público e a governadora. Foto: Roberto Soares
Medo de demissão, pressão para atingir metas abusivas e ameaças são alguns dos problemas enfrentados por trabalhadores do setor bancário em Pernambuco. Os dados estão no dossiê Saúde da categoria bancária de Pernambuco em estado de emergência: assédio e adoecimento dos trabalhadores e trabalhadoras do setor bancário em Pernambuco, apresentado durante audiência pública da Comissão de Cidadania, nesta quarta (30). No encontro, foram debatidas as condições de trabalho da categoria.
O estudo foi solicitado pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco e desenvolvido pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Políticas Públicas e Desenvolvimento (Labor), vinculado ao departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Ao longo do ano passado, pesquisadores entrevistaram profissionais da categoria e observaram uma relação entre o modelo de gestão dos bancos e o adoecimento dos trabalhadores. Entre as principais questões de saúde identificadas estão burnout, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, depressão, insônia e consumo excessivo de bebida alcoólica.

METAS – Suzineide Rodrigues denunciou as más condições de trabalho dos bancários. Foto: Roberto Soares
Vestidos com camisetas com os dizeres “Assédio mata! Denuncie”, diversos bancários relataram situações de assédio. “As pessoas estão morrendo, os bancos estão matando as pessoas. Já teve bancário que chegou a se matar dentro da agência. E os colegas tiveram que continuar trabalhando para bater meta. Que lugar de trabalho é esse?”, questionou Suzineide Rodrigues, bancária há 33 anos e dirigente do Sindicato.
O secretário de Saúde da entidade, Alan Patrício, se emocionou ao relatar situações de trabalhadores acolhidos pelo Sindicato. Alguns casos envolvem profissionais afastados por problemas de saúde. “Muitas vezes, quando retornam ao trabalho, após se tratarem, são colocados numa sala branca, com outros quatro ou cinco trabalhadores. Só com uma mesa, sem computador, sem nenhuma ferramenta de trabalho, e são obrigados a passar oito horas ali. Trabalhar não é só produzir, precisamos de dignidade. Toda gestão que maltrata deve ser punida”, afirmou.
Estudo

SAÚDE – Alan Patrício relatou o acolhimento de trabalhadores pelo sindicato da categoria. Foto: Roberto Soares
A pesquisa cita dados do Dieese que apontam que, entre 2017 e 2022, o número de afastamentos por adoecimento nos bancos cresceu 70% mais que em outras categorias, no Brasil. Apesar de representarem cerca de 1% dos empregos formais no país, os bancários registram 25% do total de afastamentos acidentários por doenças mentais e comportamentais. Em 2012, esse percentual era de 12%.
Na avaliação do coordenador do estudo, professor Maurício Sardá, conquistas do setor nas décadas de 1980 e 1990, como a carga horária de seis horas por dia, tiveram como reação dos bancos uma cobrança maior sobre os trabalhadores. Ele classifica três tipos predominantes de assédio moral – interpessoal, institucional e sexual – e acredita que a prática está normalizada nesse ambiente de trabalho.

ESTUDO – Maurício Sardá detalhou os tipos de assédio moral sofridos pela categoria. Foto: Roberto Soares
“O assédio moral está presente no cotidiano das agências, e de certa forma tenta-se naturalizar essas relações de pressão. É uma gestão abusiva, fundada na hostilidade e em várias formas de violência: gestão por estresse, injúria e medo”, detalhou. “Há relatos de comércio informal de medicamentos para ansiedade e depressão dentro das agências”, contou o professor.
A imposição de metas abusivas foi a principal questão apontada pelos participantes da audiência pública. “Os profissionais trabalham sob ameaça de perder o emprego, no setor privado, ou de perder a comissão, no setor público. Esse é um instrumento perverso que precisa ser denunciado”, frisou o presidente do Sindicato dos Bancários, Fabiano Moura.

AMEAÇA – Fabiano Moura criticou a imposição de metas abusivas. Foto: Roberto Soares
Ele destacou que a ideia de produzir o dossiê surgiu a partir de visitas da entidade a agências no Agreste e no Sertão de Pernambuco. “Entendemos a necessidade de documentar o problema, para tirá-lo da invisibilidade. Os banqueiros têm que reconhecer a responsabilidade direta na saúde dos trabalhadores do setor”, considerou.
As consequências das transformações tecnológicas também foram abordadas. “O setor bancário talvez seja um dos mais atingidos, com uma grande redução no número de postos de trabalho”, ressaltou o deputado João Paulo (PT). “E os trabalhadores que permanecem sofrem uma superexploração, não apenas para manter o lucro, mas para ampliá-lo”, complementou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Pernambuco, Paulo Rocha.

TECNOLOGIA – João Paulo destacou o impacto das mudanças para os bancários. Foto: Roberto Soares
Apesar dessa realidade, muitos bancários silenciam por medo de punições. A deputada Rosa Amorim (PT) destacou o trabalho do sindicato para levar adiante as reivindicações da categoria. “O Sindicato dos Bancários é aguerrido, e não estamos falando de qualquer patrão, já que os bancos representam o poder hegemônico no capitalismo. A entidade de classe é fundamental na organização dos problemas”, defendeu a parlamentar.
Providências
O deputado Doriel Barros (PT), que solicitou a audiência, sugeriu alguns encaminhamentos, como pedir reuniões com o Ministério Público de Pernambuco e com a governadora Raquel Lyra, para levar as queixas da categoria. Ele também sugeriu a realização de visitas a agências bancárias. “Vamos fazer uma comissão com deputados e representantes do Sindicato. Vamos a uma agência de banco privado e outra de banco público, dizer que os deputados receberam denúncias de assédio, articular com a imprensa e divulgar, mostrar que não vamos aceitar essa realidade”, pontuou.

COLEGIADO – Dani Portela citou a possibilidade de criação de uma nova frente parlamentar. Foto: Roberto Soares
A presidente da Comissão de Cidadania, deputada Dani Portela (PSOL), acolheu todas as propostas. Ela comentou ainda a possibilidade de criação de uma frente parlamentar sindical e social. “A frente tem continuidade, tem prazos e precisa dar respostas. Infelizmente os problemas não estão restritos a uma categoria, e, quando a gente se soma, aumentamos a nossa força”, afirmou a deputada.
Dani Portela também elogiou o trabalho realizado na elaboração do dossiê e sugeriu que o documento seja protocolado oficialmente pela Alepe junto ao Ministério Público do Trabalho e ao Governo do Estado, para cobrar providências em relação às denúncias apresentadas.

SINDICATO – Rosa Amorim salientou a importância da representação da categoria. Foto: Roberto Soares