A Alepe promoveu, nesta quinta (16), a abertura da sétima edição do Seminário Estadual de Educação do Poder Legislativo. Neste ano, o evento celebra o centenário do educador pernambucano Paulo Freire e debate os desafios pedagógicos do atual momento político brasileiro. Profissionais, estudantes e movimentos sociais falaram sobre o papel fundamental da educação no processo de superação das discriminações raciais, sociais e religiosas no País.
“O objetivo deste encontro, promovido a cada dois anos na Assembleia, é reunir visões plurais que contribuam na construção de caminhos para superar as adversidades da educação no Brasil, em especial neste cenário de tantas dificuldades”, afirmou a deputada Teresa Leitão (PT), coordenadora da comissão organizadora do Centenário Paulo Freire. Outra finalidade, segundo ela, é aproximar a Casa de Joaquim Nabuco das discussões referentes ao setor, colaborando com a melhoria da prática legislativa.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), Ivete Caetano registrou a relevância do seminário como espaço de reencontro daqueles que lutam por uma sociedade mais justa e por uma educação emancipadora. “Paulo Freire nos mostrou caminhos democráticos e humanizadores para a educação. Precisamos colocá-los em prática para resistir a todo este desmonte que estamos vivendo”, declarou Maria Elaine da Silva, da União dos Estudantes de Pernambuco.
“Neste ano que marca o centenário de nascimento do nosso patrono, estamos realizando uma série de eventos para disseminar o legado dele. Encerrando as atividades, este seminário é mais uma chave que abre as portas para esse universo de ensinamentos”, enfatizou a representante do Centro Paulo Freire, Maria Aparecida Vieira.
Em nome da Secretaria Estadual de Educação, Regina Coeli de Melo destacou as contribuições trazidas pelo Concurso Cultural Paulo Freire: 100 anos em (con)texto, promovido pela pasta em 2021. A iniciativa buscou estimular a produção de atividades culturais que refletissem sobre a obra do educador pernambucano. “Abrangeu toda a comunidade escolar e permitiu que nossos estudantes conhecessem o legado desse grande intelectual”, avaliou.
As dificuldades impostas pelo isolamento social foram pontuadas pelo reitor do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), José Carlos de Sá. “A situação social do País tem se agravado e acreditamos que, no pós-pandemia, vamos enfrentar uma evasão escolar ainda mais elevada”, lamentou. “Espaços de debate como este são fundamentais para encontrarmos formas de superar as adversidades”, acrescentou.
Já a representante da Escola do Legislativo (Elepe), Ana Cristina Fonseca, compartilhou as expectativas com relação ao evento, que prossegue na manhã desta sexta (17). “Vim aprender com todos os presentes e seguir ‘esperançando’ por um futuro melhor, como nos ensinou Paulo Freire.”
Programação
A abertura contou com a palestra do professor da Cátedra Paulo Freire da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Nelino Azevedo. Ele frisou que o Patrono da Educação Brasileira alertou sobre a necessidade de “resistir a um processo de desumanização promovido por nossa injusta estrutura social”. “É um caminho complexo e doloroso, que exige de nós uma postura de luta, mas também de esperança”, disse o acadêmico, salientando o caráter essencial do diálogo e da amorosidade na pedagogia freireana.
Pesquisador do Laboratório de Educação para as Relações Étnico-Raciais da UFPE, Cledson Severino de Lima falou sobre a importância da mobilização e da resistência contra o racismo estrutural. “Essa luta se faz com educação, pois é preciso conhecer nossa história, nossa cultura e nosso povo. É por esse caminho que conseguiremos construir um País capaz de incluir e respeitar a população negra”, assinalou.
O racismo institucional também foi denunciado pela representante da Associação Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, Mãe Elza. Ela registrou a importância do legado de Paulo Freire para combater o preconceito religioso. “O Brasil tem que aprender a respeitar o povo que nele habita. Somos miscigenados e com práticas religiosas diferentes. Tentar discriminar a fé do povo negro é abalar a base estrutural de nossa identidade”, sentenciou, no encerramento das atividades.
Amanhã, o evento segue com o lançamento do livro Olhares sobre Paulo Freire, às 9h. Na sequência, haverá um painel com a mesma temática da publicação e uma homenagem aos 80 anos da Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire).