
TOLERÂNCIA – Comunista defendeu diálogo entre religiões e apelou para que se abandonem “polêmicas estéreis”. Foto: Evane Manço
O deputado João Paulo (PCdoB) fez um alerta, na Reunião Plenária desta quinta (22), para os efeitos do crescimento do conservadorismo e do fundamentalismo religioso no Brasil e no mundo. De acordo com ele, as palavras da Bíblia vêm sendo usadas por “falsos profetas” para impor costumes, intimidar adversários políticos e formar um “monopólio das ideias”, o que pode levar a um governo teocrático. O comunista defendeu o diálogo entre as religiões e apelou para que se abandonem “polêmicas estéreis, que têm mais a ver com a extrema-direita do que com a essência do sagrado”.
O parlamentar lembrou o início de sua militância política na Juventude Operária Católica e se disse adepto de valores do Cristianismo, como amor, respeito ao próximo e defesa dos menos favorecidos. “Em nenhum momento, achei que minha concepção do divino deveria prevalecer sobre a do próximo. Minha vida de cristão não exclui a importância de outros livros sagrados nem me afasta daqueles que simplesmente não acreditam na existência de um deus ou de deuses”, emendou.
Ele apontou a democracia, o republicanismo, o liberalismo, o modelo de sociedade moderna, a alfabetização e, até mesmo, a literatura ocidental como legados da Reforma Protestante empreendida no século 16 por Martinho Lutero. “Sem ele, nada disso existiria”, disse. Contudo, avaliou que, dentro do próprio Protestantismo, hoje ocorrem situações semelhantes às enfrentadas pelo teólogo alemão.
O deputado criticou os religiosos que defendem os próprios interesses e visão de mundo, “manipulando a interpretação de textos”. Também condenou a associação entre o discurso religioso e expressões de homofobia, xenofobia, antifeminismo, racismo, negacionismo da ciência e outras formas de discriminações.
“Lutero traduziu a Bíblia para a língua do povo, e a Igreja Reformada fez um enorme esforço de alfabetizar os fiéis para que cada um pudesse ter o direito às palavras sagradas, sem intermediários maliciosos”, assinalou. “Lembrar essa contribuição é fundamental para entender por que precisamos repelir da política os falsos profetas que pretendem usar as palavras da Bíblia como forma de intimidar adversários.”
Atividade essencial

ARTICULAÇÃO – Tony Gel recebeu elogios pela construção do substitutivo na Comissão de Administração Pública. Foto: Evane Manço
No discurso, João Paulo fez referência ao Projeto de Lei nº 1094/2020, que considera as atividades religiosas essenciais em situações de calamidade pública. A matéria foi aprovada em Plenário pela Alepe nesta quinta. Ele anunciou o voto contrário, afirmando que permitir aglomerações em cultos e missas durante a pandemia é “colocar o credo religioso de um grupo acima do valor supremo da vida”.
“Os líderes políticos que reivindicam permissão do Governo para aglomerar não estão defendendo os fiéis. Estão, ao contrário, atrapalhando o importante trabalho dos pastores e demais figuras religiosas de proteger suas comunidades”, prosseguiu. “Como cristão, vejo a restrição de cultos em fases mais críticas da pandemia como uma situação em que o sacrifício é exigido de todos, inspirado no sacrifício maior de Jesus. A liberdade de culto não pode ser usada contra o direito à vida”, concluiu.
Em aparte, o deputado José Queiroz (PDT) elogiou o colega Tony Gel (MDB) por ter construído, na Comissão de Administração Pública, um substitutivo ao PL do deputado Pastor Cleiton Collins (PP). O texto atual prevê expressamente que, em circunstâncias excepcionais, o Poder Executivo poderá determinar, por decreto devidamente fundamentado, restrições a eventos religiosos presenciais. “Foi um exercício de inteligência ecumênica”, avaliou o pedetista.
Em seu pronunciamento, o deputado Antônio Moraes (PP) enalteceu o papel do colegiado de Administração, que, “de forma correta, conseguiu mediar a questão”. “Nossa Comissão encontrou uma forma que pudesse atender todos e chegar a bom termo”, observou o presidente do grupo parlamentar.

LIBERDADE DE CULTO – Joel da Harpa apontou a suposta ação de “grupos que se aproveitam da pandemia para inibir as religiões em suas práticas”. Foto: Evane Manço
Titular do mandato coletivo Juntas (PSOL), a deputada Jô Cavalcanti frisou que o voto contrário à matéria não significa desconsideração ao papel das igrejas. “Por mais que sigam os protocolos, os templos causam aglomeração no entorno, possibilitando a contaminação das pessoas. Não se juntar é a maior prova de fé, amor e generosidade que damos para a sociedade”, sustentou.
“Não estamos lutando para aglomerar. Estamos lutando para continuar a fazer o que foi reconhecido mundialmente pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pela OMS (Organização Mundial da Saúde), ou seja, que a espiritualidade também é cura na vida da pessoas”, rebateu Cleiton Collins. “As maiores ações sociais em tempos de pandemia saem das igrejas. Estamos querendo ajudar”, enfatizou.
Para o deputado Delegado Erick Lessa (PP), o debate tem como foco a liberdade religiosa prevista na Constituição Federal. Joel da Harpa (PP), por sua vez, falou da suposta ação de “grupos que se aproveitam da pandemia para perseguir e inibir as religiões em suas práticas”. Ele questionou o Governo Estadual por suspender atividades religiosas presenciais, mas não resolver a aglomeração no transporte público. “Pernambuco está e a Igreja faz o trabalho que o Estado não pode fazer, que é cuidar da saúde mental das pessoas”, agregou.