
CRIME – Discurso foi motivado pelo assassinato do menino Jonatas Oliveira, de 9 anos, na zona rural de Barreiros. Foto: Roberto Soares
O deputado João Paulo (PCdoB) fez um alerta, nesta terça (22), para “um possível derramamento de sangue no campo brasileiro e pernambucano”. O pronunciamento feito na Reunião Plenária foi motivado pelo assassinato do menino Jonatas Oliveira, de 9 anos, na zona rural de Barreiros (Mata Sul), e por dados recentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre conflitos agrários.
Jonatas era filho do líder comunitário Geovane da Silva Santos, que teve a casa invadida por homens armados encapuzados no último dia 10 de fevereiro, no Engenho Roncadorzinho. O agricultor foi baleado no ombro, mas conseguiu deixar o local, onde estavam, ainda, a esposa dele e outras três crianças. O menino tentou se esconder debaixo de uma cama, mas foi morto na frente da família.
“Sob o Governo Bolsonaro, o Brasil enfrenta números recordes de violência no campo”, afirmou João Paulo. Conforme registrou o parlamentar, o relatório da CPT divulgado no ano passado levantou a ocorrência de 103 conflitos do gênero em Pernambuco no ano de 2020, afetando 37.136 pessoas. “A média equivale a um confronto a cada três dias e meio”, reforçou.
De acordo com o comunista, o documento indica uma concentração dos casos de violência na região da Mata Sul, onde áreas de usinas falidas, ocupadas há décadas por trabalhadores rurais, vêm sendo arrendadas ou vendidas para empresas dos ramos imobiliário e pecuarista. “No ano passado, em plena pandemia, esses empreendimentos foram constantemente denunciados sob acusação de invasão de terras e violência contra centenas de famílias agricultoras”, pontuou.
O deputado criticou o “sucateamento” do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que, na avaliação dele, deveria estar desapropriando as áreas e entregando títulos de posse às famílias que vivem nelas. Também condenou a prioridade ao agronegócio e a liberação de agrotóxicos por parte do Governo Federal.
Áreas sob disputa
João Paulo demonstrou preocupação com ações de reintegração de posse na Zona da Mata pernambucana, especialmente em Barreiros, Rio Formoso, Tamandaré, Catende, Jaqueira, Maraial e Xexéu. “Famílias dessas cidades vivem sob o alvo da violência. Com sentenças decretadas pelos juízes e aparato militar, vai haver uma tentativa de expulsão delas das terras que ocupam e o sangue vai correr no campo pernambucano”, advertiu.
O líder do PCdoB relatou encontro realizado na sexta (18) com o governador Paulo Câmara, quando diferentes lideranças reivindicaram providências para ajudar a resolver a violência na região. E lembrou que, em julho de 2020, os movimentos sociais encaminharam ao governador um ofício alertando para o conflito no Engenho Roncadorzinho.
Em aparte, o deputado José Queiroz (PDT) buscou demonstrar otimismo com a superação do atual agravamento da violência no campo. Ele elogiou o discurso do colega: “Em horas decisivas, é preciso levantar a voz e mostrar que há resistência”.
Cenário
Em outro momento da fala, João Paulo fez uma retrospectiva dos conflitos pela terra no Brasil, lembrando que, com a chegada dos colonos portugueses, os indígenas foram as primeiras vítimas desse tipo de violência. Ele destacou a criminalização da luta por reforma agrária durante a ditadura militar e a resistência liderada por sindicatos rurais, pela CPT e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).
Na análise do parlamentar comunista, o quadro atual é fruto das graves distorções do modelo econômico adotado em todo o País, voltado para a monocultura da soja e a exportação de commodities.