Dia da Mulher: deputadas alertam para desigualdade de gênero no mundo

Em 09/03/2020 - 18:03
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Deputadas ocuparam a tribuna, na Reunião Plenária desta segunda (9), para registrar a passagem do Dia Internacional da Mulher, comemorado nesse domingo (8). Delegada Gleide Ângelo (PSB), Simone Santana (PSB), Teresa Leitão (PT) e Jô Cavalcanti, das Juntas (PSOL), chamaram atenção para a persistência da desigualdade de gênero, destacando que a discriminação gera diferença de oportunidades para o público feminino em vários setores e favorece a escalada da violência contra essa população.

GLEIDE – Requerimento dela pede policiais femininas em todas as delegacias do Estado: “Se a mulher não se sentir acolhida, ela não vai denunciar”. Foto: Roberto Soares

Gleide Ângelo afirmou que a falta de políticas públicas para as mulheres é uma das causas da violência de gênero, que não para de crescer. Ela lembrou que a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o Dia Internacional da Mulher e, em 2010, criou a ONU Mulheres, com o objetivo de lutar pela garantia de direitos do segmento. “A cada ano, a entidade elege um tema de enfrentamento. Em 2020, será: ‘Eu sou a Geração Igualdade: concretizar os direitos das mulheres’. A comunidade global fará um balanço, mas o consenso é de que, apesar de alguns progressos, as mudanças têm sido lentas para a maioria das mulheres no mundo”, pontuou a parlamentar. 

A deputada do PSB informou que, em 2019, 3.739 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que representa um aumento de 32% em relação ao ano anterior. Contudo, em Pernambuco, o feminicídio caiu 23% nesse período. “Nos últimos anos, houve um crescimento no número de boletins de ocorrência no Estado, revelando que a denúncia protege as cidadãs.” Gleide ainda reforçou requerimento de sua autoria solicitando a presença de policiais femininas em todas as delegacias do Estado: “Se a mulher não se sentir acolhida, ela não vai denunciar”. 

SIMONE – “O que impede a ascensão feminina é a escassez de oportunidades, pois existe um preconceito arraigado que impossibilita essa ocupação.” Foto: Roberto Soares

Simone Santana comentou uma pesquisa realizada pela Universidade de Harvard, em 2019, atestando que mulheres são líderes mais eficientes do que homens. A parlamentar afirmou que, segundo o estudo, em 84% das competências, as mulheres tiveram melhor resultado. Elas também se saíram melhor em 19 habilidades. “Essa pesquisa reforça outra, realizada em 2012, e aponta uma estagnação da ocupação de vagas: apenas 4% dos 500 CEOs dos Estados Unidos são mulheres. O que impede a ascensão feminina é a escassez de oportunidades, pois existe um preconceito arraigado que impossibilita essa ocupação”, frisou.

Segundo a socialista, o estudo aponta que a própria mulher interioriza esse preconceito, não percebendo a própria capacidade. “Isso começa na infância, tem o ápice aos 25 anos, e apenas por volta do 40, a mulher reconhece seu valor”, alertou. Ela afirmou que os pesquisadores recomendam aos contratantes que  passem a se questionar sobre como as seleções e as progressões profissionais têm sido feitas. “É preciso prestigiar a meritocracia e a equidade de oportunidades.”

TERESA – “Homens não podem mais negar o direito das mulheres de se afirmarem”, defende, lamentando dados de pesquisa recente. Foto: Roberto Soares

Teresa Leitão relatou dados, que classificou como preocupantes, de uma pesquisa realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em 75 países, divulgada na semana passada. “O estudo revelou que o mundo é sexista. A análise mostra que 90,6% dos homens e 86,1% das mulheres mostraram ter ao menos um preconceito na questão da igualdade de gênero“, pontuou. A petista registrou que cerca de metade da população considera que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres, e mais de 40% acham que eles são melhores diretores de empresas. Além disso, 28% dos consultados consideram justificado que um homem bata na esposa.

A parlamentar observou que os brasileiros se revelaram mais preconceituosos na questão da integridade física da mulher – o que inclui a violência doméstica e os direitos reprodutivos–, atingindo o percentual de 77,95%.  Na América Latina, países como Colômbia e Equador têm médias semelhantes às do Brasil, ou seja, perto de 90%. Já na Argentina, Chile ou Uruguai, o percentual cai para 75%. “O estudo pede que os governos invistam em políticas públicas para combater a discriminação. Os homens não podem mais negar o direito das mulheres de se afirmarem. Que esses dados não sirvam só para constranger, mas para elucidar políticas públicas”, disse. 

JUNTAS – “Somos uma mandata feminista e estamos em aliança com os movimentos sociais em busca do empoderamento feminino.” Foto: Roberto Soares

Falando pelo mandato coletivo Juntas, a deputada Jô Cavalcanti reafirmou que o grupo do qual faz parte escolheu a bandeira do feminismo como uma das causas de luta. “Somos uma mandata feminista e estamos em aliança com os movimentos sociais em busca do empoderamento feminino. Ontem participamos de vários atos e hoje também iremos. Também vamos continuar nossa luta contra o racismo, o patriarcado e o capitalismo, que estimulam a desigualdade de gênero”, salientou.

Para a parlamentar, o Brasil tem sentido na pele o aumento da discriminação contra a mulher, porque o machismo, o racismo e a misoginia fazem parte da gestão de Jair Bolsonaro. “Inclusive, nos textos das reformas trabalhista e da Previdência, ficou claro que a mulher foi mais penalizada”, lembrou. Cavalcanti afirmou que as mulheres estão, cada vez mais, sendo mortas ou perdendo o direito de fala. “Estaremos nas ruas em defesa de nossas vidas e de nossos direitos. Conclamamos os homens a compartilhar dessa luta conosco.”

Alberto Feitosa (SD), Delegado Erick Lessa (PP) e Doriel Barros (PT) também registraram a passagem do Dia da Mulher. “Já participamos e continuaremos atuantes nas manifestações a favor do segmento, como a Marcha das Margaridas, que existe para  reivindicar direitos e denunciar abusos”, frisou o petista.