
ENCONTRO – Evento idealizado pela Comissão de Direitos da Mulher integrou o “Março de Luta”, mês dedicado à defesa dos direitos da mulher. Foto: Alepe
Na data em que o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco completa um ano, a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alepe se reuniu, nesta quinta (14), em um Grande Expediente Especial para homenagear e fortalecer as bandeiras de luta da parlamentar. Com a participação de lideranças políticas e movimentos sociais, o evento “Março de Luta: um ano do assassinato de Marielle Franco” integrou o “Março de Luta”, mês dedicado à defesa dos direitos da mulher.
No atentado, a vereadora e o motorista Anderson Gomes foram assassinados a tiros no Estácio, Região Central do Rio. Na última terça (12), dois suspeitos foram presos, acusados de envolvimento no crime. Durante o ato desta quinta, a presidente da comissão da Alepe, deputada Delegada Gleide Ângelo (PSB), afirmou que Marielle foi morta por representar, em um espaço de poder, os setores mais excluídos da sociedade – além de mulher, era negra, lésbica e favelada.
“Dia 8 de março representa o dia de todas as mulheres. Nossa luta contra feminicídio, desigualdade, preconceito e intolerância não vai parar. E não adianta só discurso. Precisamos aprender a ocupar os nossos espaços de poder e decisão. Isso incomoda”, disse a deputada, que reforçou a importância do trabalho preventivo para evitar a violência contra esse segmento da população.
Primeira mulher a ocupar a 1ª Vice-Presidência da Alepe, Simone Santana (PSB) resgatou histórias como a de Brites de Albuquerque, primeira e única governadora de Pernambuco, no século 16. Falou ainda da princesa congolesa Aqualtune, que ajudou a comandar o Quilombo dos Palmares, das heroínas de Tejucupapo, de Bárbara de Alencar (figura importante da Revolução Pernambucana), e de Adalgisa Cavalcanti, primeira deputada de Pernambuco.
“Neste dia, evoquemos ainda a memória de Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil, e de Marielle Franco. Com a morte de Marielle, vimos em todo o País um movimento de tomada de consciência política diante do absurdo. Porque não adianta tentar enterrar as mulheres. Somos sementes”, emendou.

ANÁLISE – Para a secretária da Mulher, Silvia Cordeiro, “quem matou Marielle foi o machismo, o patriarcado, a extrema direita e a cultura da violência”. Foto: Alepe
Outras deputadas que integram a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher também se pronunciaram. Roberta Arraes (PSB) qualificou como “feminicídio político” o assassinato de Marielle e defendeu a interiorização do debate sobre a violência contra a população feminina. Fabíola Cabral (PP) afirmou que, além de cobrar do poder público, é fundamental que todos denunciem casos de agressão, para que os responsáveis sejam punidos.
Teresa Leitão (PT), por sua vez, fez críticas a posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro e rechaçou o afastamento do delegado responsável por investigar a morte de Marielle. Alessandra Vieira (PSDB) afirmou que não se pode ter medo de lutar por direitos e Dulcicleide Amorim (PT) ressaltou a responsabilidade das famílias na criação dos filhos. Já a professora Kátia Cunha, em nome do mandato coletivo Juntas (PSOL) alertou para estatísticas que apontam que cinco mulheres são espancadas a cada 2 minutos no Brasil e um estupro ocorre a cada 10 minutos.
Para a secretária da Mulher do Estado, Silvia Cordeiro, “quem matou Marielle foi o machismo, o patriarcado, a extrema direita e a cultura da violência”. “Nós existimos, estamos aqui e lutamos – queiram aceitar ou não”, emendou a vice-presidente do Instituto Maria da Penha, Regina Célia. A advogada Danielle Portela lembrou do lema da filosofia africana Ubuntu adotado por Marielle (“eu sou porque nós somos”): “Marielle construiu muitas lutas, que o corpo dela representava. Justiça por Marielle é justiça por todas estas lutas”, expressou.
O presidente da Alepe, Eriberto Medeiros (PP), participou da reunião e saudou a iniciativa. Ele registrou que, nas últimas eleições, a população de pernambuco elegeu a maior bancada feminina da história da Alepe (dez deputadas), “incrementando a representatividade política desse segmento na Casa”.