O encerramento das atividades da Faculdade Damas da Instituição Cristã (Fadic), no Recife, foi debatido em audiência pública da Comissão de Educação da Alepe, nesta segunda (9). A comunidade acadêmica reclama que o anúncio, divulgado no início de maio, foi feito de forma abrupta, prejudicando professores e, sobretudo, alunos.

IMPACTO – Audiência pública discutiu efeitos do anúncio e buscou mediação. Foto: Roberta Guimarães
A incerteza quanto ao futuro dos estudantes foi a principal questão discutida. O aluno de Relações Internacionais Carlos Henrique Campelo comentou a situação de quem teve o curso interrompido. “Foi uma decisão administrativa arbitrária, feita no escuro, que pegou centenas de estudantes, professores e demais funcionários de surpresa. Nos lançou em um abismo de insegurança, desinformação e abandono. Não somos apenas número de matrícula, não somos apenas mensalidade”, salientou.
O professor do curso de Direito, Rômulo Freitas, denunciou a falta de diálogo após o anúncio. “As irmãs leram uma comunicação e nunca mais apareceram na Faculdade. O encerramento das atividades de uma instituição dessa relevância não pode ocorrer sem debate público, sem transparência e sem o devido respeito à comunidade acadêmica e à sociedade pernambucana”, pontuou ele, que é diretor de Assuntos Jurídicos e Fiscalização do Sindicato dos Professores de Ensino Superior do Recife e Região Metropolitana (Sinproes).
Transição
A Faculdade Damas iniciou as operações há 19 anos e oferecia sete cursos de graduação, quatro cursos de pós-graduação e um mestrado em Direito. Apenas o curso de Relações Internacionais deve ser mantido até o final do ano, e o mestrado até fevereiro de 2026.

ESTUDANTES – Carlos Henrique Campelo criticou decisão abrupta e relatou insegurança. Foto: Roberta Guimarães
A instituição informou que fechou convênios com a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), o Cesar School e a Estácio, que absorveriam os estudantes com uma transição assistida, inclusive mantendo benefícios como Prouni e outras bolsas de estudo.
O apelo da comunidade acadêmica é para que as turmas atuais possam concluir a formação. “Terminem os cursos. Deixem que esses alunos se formem. É isso que nós pedimos. Eu vivo hoje um caos na minha casa. É difícil”, relatou Rodrigo Oliveira, pai de uma aluna.
As transferências dos cursos de Relações Internacionais, Sistemas de Informação e Engenharia de Software são os maiores pontos de insatisfação. Entre as queixas estão a diferença curricular e o desempenho inferior de outras instituições em indicadores de qualidade do Ministério da Educação.
Dificuldades
Os representantes da Faculdade Damas, porém, sustentaram a decisão de encerramento. O assessor jurídico da Fadic, Helder Nascimento, ressaltou que mais de 50% dos alunos já se matricularam em outras instituições de ensino. Ele também comunicou que o motivo do fechamento são as dificuldades financeiras que a faculdade enfrenta há anos.

JUSTIFICATIVA – Helder Nascimento explicou que dificuldades financeiras motivaram fechamento. Foto: Roberta Guimarães
“Temos cursos com a maioria das vagas ociosas. Fizemos um enorme esforço para nos manter de pé, mas há uma crescente inviabilidade econômica. Seria uma irresponsabilidade manter uma instituição de ensino sem condições, sem fôlego para prosseguir”, enfatizou.
O procurador institucional da Faculdade Damas, Daniel Lins Barros, garantiu que o diálogo e o acolhimento nunca deixaram de existir. “Montamos um mutirão, e mais de 230 alunos foram atendidos. Oferecemos escuta e atenção, para que o estudante não se sentisse perdido”, informou. Ele também afirmou que foram realizadas reuniões com representantes de outras faculdades, para tratar do processo de transição.
Apoios
O deputado João Paulo (PT) se solidarizou com a situação dos estudantes. “Nem estamos discutindo serviço público. São estudantes que querem pagar para, no mínimo, concluir os cursos. Isso é uma aberração. Tem determinado tipo de coisa que não dá para aceitar sem resistência”, considerou o parlamentar.
Wanderson Florêncio (Solidariedade), que solicitou o debate, apresentou uma sugestão à Faculdade Damas, para reforçar a busca pelo entendimento. “Que os alunos sejam recebidos de modo individualizado e cada caso possa ser avaliado. Eu acho que os alunos já entenderam que não adianta ir para o confronto. A gente tem que buscar solução, para que todos sejam contemplados dentro do possível”, avaliou.