Criada por fiéis católicos por conta de uma promessa pela vitória contra ocupação holandesa no século 17, a Venerável Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos foi homenageada pela Alepe na quarta (4). Os 370 anos da instituição foram celebrados em reunião solene solicitada pelo deputado Abimael Santos (PL).
A Irmandade é uma associação leiga, destinada a preservar e promover a procissão em honra ao Bom Jesus dos Passos, realizada pela primeira vez em 31 de março de 1654. Os principais líderes da Insurreição Pernambucana fizeram a promessa de realizar o desfile religioso anualmente se conseguissem a vitória contra os holandeses, que veio em definitivo com a rendição de seus adversários em janeiro de 1654.
Para o deputado Abimael Santos, a homenagem da Alepe “celebra não apenas a longa trajetória da Irmandade, mas também os valores de fé, devoção e resistência que a sustentaram ao longo dos anos”. Já o deputado Coronel Alberto Feitosa (PL), que presidiu a reunião, parabenizou a Irmandade, e manifestou o desejo para que dure “não só mais três séculos, mas por toda a eternidade”.
Os parlamentares entregaram uma placa comemorativa ao integrante mais antigo da associação religiosa, Jones Carlos de Albuquerque. O atual representante da Irmandade, Anderson dos Santos, destacou o esforço dos integrantes para manter a promessa do século 17. “Buscamos formas de revitalizar a devoção e atrair uma nova geração de participantes, num esforço contínuo para preservar e fortalecer uma das mais veneráveis tradições religiosas da região, reforçando a importância da fé e da devoção na vida religiosa do Recife e de Pernambuco”, comentou em seu discurso.
História
O Senhor Bom Jesus dos Passos é uma devoção especial da Igreja Católica dirigida à memória do trajeto percorrido por Jesus Cristo da condenação à morte até a crucificação e o sepultamento. A devoção, popular em Portugal desde a Idade Média, chegou ao Recife junto com os colonizadores ibéricos. Por isso, havia no século 16 uma imagem do Nosso Senhor dos Passos na antiga Igreja de São Frei Pedro Gonçalves (conhecida como Igreja do Corpo Santo), que ficava próxima de onde hoje está a Praça do Marco Zero, no Bairro do Recife.
Foi diante desta imagem que líderes da resistência contra os holandeses realizaram a promessa ao Nosso Senhor dos Passos. Em um momento crítico da luta contra seus adversários, João Fernandes Vieira, Antônio Dias Cardoso, Francisco Barreto de Menezes e André Vidal de Negreiros fizeram um compromisso de fé e devoção em troca da proteção divina e do sucesso nas batalhas contra o exército holandês.
A tradição da procissão com a imagem do Bom Jesus dos Passos ficou ligada à Igreja do Corpo Santo até o ano de 1913, quando o templo foi demolido em obras de modernização da cidade. A partir daquele ano, a imagem passou a ficar abrigada na Igreja da Madre de Deus, também no bairro do Recife.
O padre Paulo Dutra Morais, representante da Arquidiocese de Olinda e Recife no evento, destacou que a celebração de Bom Jesus dos Passos é “a única procissão penitencial que resistiu ao avanço do progresso, às dificuldades do trânsito e à urbanização da cidade”
Atualmente, a devoção dos Passos da Paixão feita pela Irmandade dura dois dias, nos dias 14 e 15 de março de cada ano. No primeiro dia, é realizada uma missa e uma procissão até a Basílica do Carmo, no bairro de Santo Antônio. No dia seguinte ocorre a missa na Basílica e a procissão com o retorno da imagem ao templo da Madre de Deus.