Alepe vai a Caruaru para discutir políticas culturais do Ciclo Junino

Em 19/06/2023 - 20:06
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ESCUTA – Comissão da Alepe se reuniu em Caruaru para ouvir demandas do setor cultural junino. Foto: Giovanni Costa

RECURSOS – A deputada Rosa Amorim ressaltou a importância da transparência na distribuição dos recursos. Foto: Giovanni Costa

A Comissão de Educação e Cultura da Alepe reuniu artistas e gestores para debater o Ciclo Junino de Pernambuco, em audiência pública realizada na manhã desta segunda (19), na Câmara de Vereadores de Caruaru (Agreste Central). Em pauta, estiveram a valorização do trabalho dos artistas durante todo o ano, a necessidade de aperfeiçoamento de editais e outros marcos legais relacionados aos festejos juninos, bem como o diálogo contínuo na construção de políticas públicas para o setor. 

A deputada Rosa Amorim (PT), autora do requerimento para a realização da audiência, reivindica a necessidade de políticas públicas que beneficiem todos os artistas ligados ao ciclo junino. “O objetivo deste evento é fazer um levantamento das demandas de toda a cultura popular. Não tem como o São João acontecer sem o pífano, sem o trio pé de serra, sem a quadrilha junina”, elenca. 

POLÍTICA PÚBLICA – “É responsabilidade do Estado proporcionar o acesso às manifestações de raiz”, avalia Waldemar Borges. Foto: Giovanni Costa

Além disso, a parlamentar levantou o debate sobre a desigualdade histórica no pagamento de cachês. “Grandes valores são destinados a artistas de impacto midiático, enquanto os artistas da cultura popular recebem valores irrisórios”, critica.

Ela citou o caso do cachê quase milionário para Gusttavo Lima, que se apresentou em Caruaru no ano passado – mesmo artista envolvido na redução do tempo de palco do cantor Flávio José em Campina Grande (PB), neste ano. 

Rosa também ressaltou a importância da transparência na distribuição dos recursos para os artistas e mencionou o curto prazo para eles se inscreverem no edital 2023 no Município. Ela lamentou que, apesar do convite à Fundação de Cultura de Caruaru ter sido protocolado, ninguém do Poder Executivo do Município compareceu. Por fim, a parlamentar ressaltou que um relatório sobre os debates será entregue aos gestores para orientar políticas públicas municipais. 

DISTRIBUIÇÃO – Secretário executivo de Cultura do Estado, Leo Salazar destacou valores enviados às prefeituras. Foto: Giovanni Costa

Além da petista, também se pronunciou o deputado Waldemar Borges (PSB), presidente da Comissão de Educação e Cultura da Alepe, que ressaltou o papel dos gestores na promoção da cultura popular. “É responsabilidade do Estado proporcionar o acesso às manifestações de raiz, ao que tem a ver com nossa cultura e com nossa história”.

Estado e municípios

Leo Salazar, secretário executivo de Cultura de Pernambuco, explicou que o governo estadual não possui um polo específico na programação do São João, mas apoia as prefeituras. Ele destacou o orçamento de 18 milhões de reais destinado à contratação de artistas e grupos em mais de 70 prefeituras, além do investimento previsto de R$ 100 milhões para Pernambuco pela Lei Federal Paulo Gustavo, que será destinado a premiações e editais.

“Além disso, o governo está em diálogo com instituições como o Tribunal de Contas do Estado, o Ministério Público e a Procuradoria Geral do Estado para simplificar a burocracia para os atores culturais”, informou. O gestor enfatizou ainda a busca por diálogos com a sociedade civil para resolver problemas e aprimorar os editais.

ARTISTAS LOCAIS – Vereador Jorge Quintino destacou proposta que reservaria 70% da verba do São João em Caruaru para produtores da região. Foto: Giovanni Costa

Como presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esportes da Câmara de Vereadores de Caruaru, o vereador Professor Jorge Quintino (PTB) lembrou da necessidade de respeito às diferenças e de valorização da cultura local no contexto junino.

“Estamos com um Projeto de Lei que estabelece que 70% dos recursos sejam direcionados aos produtores de cultura locais, enquanto 30% sejam destinados aos artistas e grupos de fora da região”, explicou.

Já segundo Júnior Darita, Vice-Prefeito de Gravatá, é preciso instituir um ambiente de incentivo contínuo aos artistas. “É crucial que a capital direcione sua atenção para nós, não somente no âmbito cultural, mas também no turismo. Dessa forma, os fazedores de cultura poderão viver de sua arte, sem a necessidade de buscar outras fontes de renda. ”

O gestor revelou que nem sempre os artistas conseguem fazer com que seus projetos cheguem até a prefeitura, especialmente devido às exigências documentais. 

Cultura Popular

CULTURA POPULAR – “Não tem como o São João acontecer sem o pífano, sem o trio pé de serra, sem a quadrilha junina”, defendeu Rosa Amorim. Foto: Giovanni Costa

Por sua vez, a Presidente da Federação das Quadrilhas Juninas de Pernambuco, Michelly Miguel, relatou as dificuldades enfrentadas pelos grupos que se apresentam no ciclo junino. “Falta estrutura para receber as agremiações nos arraiais. Às vezes não há sequer cobertura nos espaços em plena temporada de chuva, e a qualidade do som deixa a desejar.” 

PRECARIEDADE – Pagamento oferecido para quadrilhas não chega a cobrir os gastos mínimos, aponta Michelly Miguel. Foto: Giovanni Costa

Ela aponta, ainda, que o pagamento oferecido não é suficiente para cobrir os gastos mínimos que uma quadrilha precisa para se apresentar. “A maioria dos grupos não conta com apoio financeiro, apesar de realizarem um trabalho social durante todo o ano, com os participantes vindos de comunidades.” Além disso, ela alertou para que se respeite o prazo de pagamento dos cachês aos artistas.

Humberto Botão, representante do Conselho Municipal de Cultura de Caruaru, ressalta a necessidade de ajustes no fomento à cultura popular. “A estruturação dos editais do São João precisa ser revisada, pois atualmente não promove uma distribuição equitativa dos recursos. Enquanto 70% das atrações são realizadas pela população do município, ela recebe apenas cerca de 10% dos recursos.” 

Ele também questiona a ênfase da programação na música, enquanto as demais linguagens culturais não ganham visibilidade – como é o caso das artes visuais, que ele representa. “Algumas exposições sequer estão no mapa cultural de Caruaru”, denuncia. 

DESIGUALDADE – “70% das atrações são realizadas pela população de Caruaru, que recebe apenas 10% dos recursos”, questiona Humberto Botão. Foto: Giovanni Costa

Já Eva Gomes, assessora jurídica que acompanha grupos de cultura popular, ressaltou a importância de revisão dos editais relacionados ao ciclo junino para que respondam aos princípios da administração pública, como eficiência e transparência. “É importante aperfeiçoar os aspectos legais, desde a contratação até o pagamento, pois se trata de dinheiro público.” 

Ela também relatou a existência de uma ação judicial em tramitação na 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Caruaru relacionada ao uso privado de um espaço público em um dos pólos do São João caruaruense. “É importante lembrar que o espaço público pertence a todos”.

O presidente da Associação de Sanfoneiros do Município, Didi Caruaru, observou que “é essencial falar sobre cultura, mas também é crucial valorizá-la e transformar palavras em ações concretas.”

O evento contou ainda com a participação de representantes de trabalhadores que atuam nos bastidores dos festejos, como os roadies e produtores culturais. Também estiveram presentes representantes das Comidas Gigantes de Caruaru e do teatro de mamulengos, artistas do pífano e povos de religiões de matrizes africanas que fazem parte dos festejos juninos.