
ANÁLISE – “Disseminar medo, ódio, insegurança e desconfiança entre os cidadãos é método antigo e eficiente para figuras autoritárias se sustentarem no poder.” Foto: Jarbas Araújo
Em discurso na Reunião Plenária desta quinta (9), o deputado João Paulo (PCdoB) apontou semelhanças entre práticas do governo do presidente Jair Bolsonaro e as de regimes fascistas. Ele defendeu uma resposta firme de democratas e liberais. “Precisamos repudiar esses elementos que, combinados, destroem pouco a pouco nossa capacidade de conviver com as diferenças”, disse.
Citando autores de ciência política, o parlamentar elencou algumas características de regimes fascistas. Entre elas, a idealização de um passado mítico e de uma nação religiosa, racial e culturalmente pura. Também a propaganda baseada em informações falsas, a desvalorização da educação e da ciência (anti-intelectualismo), o uso de linguagem bélica no lugar do debate fundamentado e o ataque à credibilidade das instituições.
“Disseminar medo, ódio, insegurança e desconfiança entre os cidadãos é um método antigo e eficiente para figuras autoritárias se sustentarem no poder quando sua incompetência e mediocridade para lidar com as liberdades se tornam evidentes”, afirmou. “Utilizando o aparato do Estado, o Governo Bolsonaro tenta emplacar a divisão entre os brasileiros e fomentar as bases para legitimar seu autoritarismo”, prosseguiu.
O comunista avaliou os atos políticos realizados pelo presidente e apoiadores no último dia 7 de setembro como um sinal de desespero. Para ele, o público foi inferior ao esperado e o golpe que estaria previsto não obteve sucesso. Ainda assim, é preciso “levar a sério as intenções de tolher liberdades e destruir o ordenamento jurídico do País, pois, quanto mais acuado estiver, mais apostará suas fichas no caos”. “Só restou, como refúgio, a lógica fascista. Somente nela, teria como se manter no poder e se safar da prisão ou da morte, como ele mesmo já reconheceu.”
João Paulo acredita que o Congresso Nacional falhou ao não encaminhar os pedidos de impeachment contra Bolsonaro e ao reconduzir o procurador-geral de Justiça, Augusto Aras, que teria prevaricado em favor do presidente. “Conclamamos os colegas deputados e o corpo legislativo para que se juntem à campanha nacional em defesa do Estado Democrático de Direito”, assinalou, sugerindo a realização de uma audiência pública sobre o tema pela Alepe.
O deputado mencionou possíveis ameaças à democracia, com risco de um “talibanismo tropical”. Isso ocorreria por meio da cooptação de policiais militares, do aparelhamento de órgãos públicos “com figuras de perfil nazifascista e integrantes da Forças Armadas”, além da disseminação diária de notícias falsas, da criação de inimigos imaginários e da corrupção desenfreada.
“Se não agirmos agora, podemos acabar sendo cúmplices de uma tragédia humanitária como ocorrida em outros tempos, quando agentes democráticos e liberais renunciaram ao seu protagonismo e não conseguiram responder com a devida ênfase a declarações e atos de opressores”, emendou.
Apartes
Ao comentar o discurso do colega, o deputado José Queiroz (PDT) observou que o Bolsonaro “tenta sequestrar do povo brasileiro o marco da Independência, o Hino e a Bandeira Nacional” e comparou cenas protagonizadas por ele a episódios com o ditador italiano Benito Mussolini. Já o deputado Isaltino Nascimento (PSB) refutou ataques dos bolsonaristas às urnas eletrônicas e a tese de que o presidente foi impedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de combater a pandemia no País.
Em defesa de Jair Bolsonaro, o deputado Alberto Feitosa (PSC) pontuou que “as maiores tragédias humanitárias foram feitas por ditaduras de esquerda inspiradas em Karl Marx”. Ele criticou o ministro do STF Alexandre de Moraes e tachou de inconstitucional o inquérito instaurado pela Corte para investigar a disseminação de fake news nas redes sociais. “O verdadeiro ‘genocídio’ que Bolsonaro fez foi exterminar de vez a esquerda em nosso País”, crê.
Por fim, o deputado Doriel Barros (PT) frisou que o presidente da República teria cometido crime de responsabilidade ao afirmar, em discursos no Dia da Independência, que não cumpriria decisões judiciais.
Inflação
João Paulo voltou a se pronunciar, no tempo destinado à Comunicação de Lideranças, para repercutir a inflação de 0,87%, medida pelo IPCA, a maior taxa para um mês de agosto desde 2000. Nos últimos 12 meses, o indicador acumula alta de 9,68%. Conforme destacou, um dos fatores que mais pesa nesse resultado é o aumento de 31,09% na gasolina e de 40,75% no etanol este ano.
“O preço da gasolina é influenciado pelos reajustes aplicados nas refinarias, de acordo com a prática de preços da Petrobras. Responsabilizar o Governo do Estado por isso é uma grande fake news, defendida por deputados desta Casa”, declarou. Também para José Queiroz, “o valor dos combustíveis cairia a menos da metade se fosse calculado com base nos custos nacionais, e não no alinhamento internacional”.