Brasão da Alepe

PROJETO DE LEI ORDINÁRIA 1299/2020

Adota a escritora Clarice Lispector como Patrona da Literatura Pernambucana.

 

Texto Completo

Art. 1º A escritora Clarice  Lispector é declarada Patrona da Literatura Pernambucana.

 

Art. 2°  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Autor: Professor Paulo Dutra

Justificativa

Clarice Lispector e família chegaram ao Brasil em 1922. Aportaram no Recife e seguiram para acolhimento do parente por parte de mãe, em Maceió. Graças aos laços de parentesco no Recife, o pai, Pedro Lispector à capital Pernambucana. Ele, a mulher, Mania Krimgold, e as três filhas, Elisa, Tanya e Clarice, passaram a morar no andar de cima do casarão de número 387, na Praça Maciel Pinheiro.

Ali Clarice teve seu primeiro contato com o Jardim da infância. Não a expressão utilizada para o ambiente escolar que recebe crianças da primeira fase. Um jardim mesmo. Diante da casa, acolhendo os imigrantes de várias partes do mundo, circundando este espaço planejado que viria a ser chamado de praça com direito a fonte representando lendas brasileiras.

Clarice e as irmãs tiveram acesso à melhor educação possível na época, em escolas públicas. Do João Barbalho ao Ginásio Pernambucano, onde a adolescente colecionou memórias, recuperadas em contos e crônicas, publicadas em diferentes coletâneas, por diversas vezes.

Podemos citar algumas como "Felicidade Clandestina", onde uma garota sofre quando uma colega, filha do dono de livraria, adia o empréstimo do livro que tanto aspira. Ou a lembrança da piora no estado de saúde da mãe, quando pela primeira vez participaria dos festejos momescos,  característicos do povo pernambucano, momento recuperado na crônica "Restos de Carnaval". São muitos os momentos em que o povo  Pernambucano e as memórias no período vivido no Recife surgem na sua obra, como na crônica, menos conhecida ou comentada, "A favor do medo", onde escreveu a frase: "Boca de povo em Pernambuco não erra".

Carlos Drummond de Andrade quando escreveu um poema para Clarice Lispector, por ocasião da morte dela, cita as “brumas do Recife”. Como se fossem estas as vestes a contornar o corpo da autora, que primeiro se tornava  estátua pública na Praça Maciel Pinheiro, diante da casa onde a família morou. O corpo devolvido, na matéria-prima da pedra, pelo pertencimento dela à cidade da infância. Ainda que não haja um espaço para apreciação da obra e da história de vida da autora, aquele símbolo confere alguma recuperação à importância literária e histórica desta autora para o nosso estado.  Tão relevante são estas expressões herdadas de uma infância marcada pela dor da morte da mãe, no lugar que guarda, da mesma matéria de pedra, a mensagem das filhas, na lápide da sepultura de Mania Krimgold Lispector, localizada no cemitério dos Israelitas, no bairro do Barro, Região Metropolitana do Recife.

Do pertencimento de Clarice Lispector ao Recife dos anos de 1925 a 1935. No documentário “A descoberta do mundo”, de Taciana Oliveira e Teresa Montero, exibido em 2017, não por acaso no Teatro Santa Isabel, palco onde Clarice conheceria seu primeiro espetáculo de teatro, e correria para casa escrever de próprio punho a primeira peça de autoria dela mesma, em apenas duas páginas de caderno escolar, vimos o depoimento da ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon, afirmando que Clarice tinha “certos dizeres, certas expressões muito próprias do Nordeste, sobretudo de Pernambuco”.

E o que dizer do livro “A descoberta do mundo”, editado pelo filho da autora, Paulo Gurgel Valente, no ano de 1984, mostrando que enquanto cronista, uma face da Literatura dela que se revelou no exercício de preenchimento do espaço de uma coluna semanal, publicada aos sábados no Jornal do Brasil, e de onde extraímos textos onde Clarice menciona em pelo menos dezesseis de seus textos a cidade-personagem, capital pernambucana, o Recife. Nas palavras do filho, então editor: “Este livro reúne, em ordem cronológica, as contribuições de Clarice que apareceram aos sábados no Jornal do Brasil, de agosto de 1967 a dezembro de 1973. Julgamos que seria importante oferecer ao leitor esta visão geral, que de outra forma ficaria dispersa, destes textos que não se enquadram facilmente como crônicas, novelas, contos, pensamentos, anotações. ”

Patrono é aquele que luta ou defende uma causa, é um protetor de um princípio. Por extensão, um escritor, cientista, artista eleito por uma classe como tutor de seus ideais e seus princípios. Com a culminância da obra de Clarice Lispector sendo a nordestina Macabéa, e diante de todo o apreço demonstrado pela classe artística e escritores locais, como se observa em redes sociais, podemos aqui dizer que a decisão apenas reflete o desejo de todos que se expressão a partir da Literatura, e que encontram o consolo da Arte nas Letras.

Para concluir esta argumentação, talvez caiba ainda recuperar a frase escrita de próprio punho pela autora, em carta endereçada ao amigo Augusto Ferraz, também nordestino como ela, que ajudou Clarice em seu retorno à cidade, no ano de 1976.

Como lembra o poeta, Clarice partiu de um mistério para o outro. “E ficamos sem compreendê-la”, o poeta tem seu grão de razão. Talvez porque seja difícil entender esta mulher de rosto enigmático, que guardava em si mesma tanta beleza. O que lhe movia não eram os rumores das saias armadas nos salões de festa do Itamaraty ou o brilho dos lustres, mas os rumores das ruas e de seus habitantes.

 

Histórico

[01/07/2020 11:11:30] PUBLICADO
[01/07/2020 11:11:30] PUBLICADO
[01/07/2020 11:11:30] PUBLICADO
[01/07/2020 11:11:31] PUBLICADO
[01/07/2020 11:16:13] PUBLICADO
[01/07/2020 11:16:14] PUBLICADO
[01/07/2020 11:35:40] PUBLICADO
[01/07/2020 11:36:10] PUBLICADO
[01/07/2020 11:36:47] PUBLICADO
[05/09/2022 16:50:46] AUTOGRAFO_CRIADO
[05/09/2022 16:57:42] AUTOGRAFO_ENVIADO_EXECUTIVO
[05/09/2022 16:58:08] AUTOGRAFO_PROMULGADO
[05/09/2022 16:58:23] AUTOGRAFO_TRANSFORMADO_EM_LEI
[28/06/2020 16:45:18] ASSINADO
[28/06/2020 16:53:46] ENVIADO P/ SGMD
[30/06/2020 15:46:28] ENVIADO PARA COMUNICA��O
[30/06/2020 21:02:59] DESPACHADO
[30/06/2020 21:03:24] EMITIR PARECER
[30/06/2020 21:39:30] ENVIADO PARA PUBLICA��O
[31/07/2020 08:25:49] EMITIR PARECER

Professor Paulo Dutra
Deputado


Informações Complementares

Status
Situação do Trâmite: AUTOGRAFO_PROMULGADO
Localização: SECRETARIA GERAL DA MESA DIRETORA (SEGMD)

Tramitação
1ª Publicação: 01/07/2020 D.P.L.: 15
1ª Inserção na O.D.:




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