
PROJETO DE RESOLUÇÃO 1405/2020
Concede a Medalha Leão do Norte Mérito Cultural Gilberto Freyre ao poeta, compositor e cantor Valdir Rodrigues Teles (post mortem).
Texto Completo
Art. 1º Fica concedida a Medalha Leão do Norte, Mérito Cultural Gilberto Freyre, ao poeta, compositor e cantor Valdir Rodrigues Teles (post mortem).
Art. 2º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Justificativa
Com origem em São José do Egito, Sertão do Pajeú pernambucano, onde teve uma infância dura e sofrida, Valdir Teles ficou órfão de pai aos 11 anos de idade e, como filho mais velho, desde cedo assumiu a responsabilidade de sustentar a mãe e os 4 irmãos, trabalhando como agricultor até os 19 anos, quando resolveu sair do sertão pra tentar a profissão de "operário de firma" na Bahia, chegando ainda a trabalhar em Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso, período em que, nas horas vagas, fazia bico como retratista. Anos mais tarde, o poeta traduziu em versos parte da infância:
"Pai vinha de São José/Com uma bolsa na mão/ Minha mãe abria a bolsa/ Me dava a banda de um pão/ Porque se desse o pão todo/ Faltava pro meu irmão".
Em 1979, regressou ao sertão pernambucano, quando em uma cantoria da dupla Sebastião da Silva e Moacir Laurentino, no Sítio Grossos ,em São José do Egito, foi apresentado aos poetas pelo Mestre das Artes e Poeta Zé de Cazuza, ocasião em que teve a oportunidade de mostrar seus dotes poéticos, sendo de imediato convidado para apresentar um programa de viola numa rádio da cidade de Patos.A partir de 1979, quando fixa residência em Patos, inicia a trajetória poética que já se anunciava de grande dimensão para a cultura popular nordestina. Os anos vindouros marcaram a gravação do seu primeiro LP com o poeta Lúcio da Silva, pela gravadora Chantecler, a popularização dos maiores programas do gênero, em emissoras como a Rádio Panati e a Rádio Espinharas de Patos, e a participação nos grandes eventos da cantoria e o destaque nos congressos e festivais.
Em 1993, Valdir Teles muda-se para Tuparetama, cidade vizinha a São José do Egito e também situada no alto sertão do Pajéu, região internacionalmente conhecida como a Grécia dos cantadores e o reino imortal da poesia.
Tuparetama foi destino de todo regresso de Valdir. Apaixonado pelas raízes do pé de serra e fã incondicional de Luiz Gonzaga e Lampião, Valdir trouxe para sua atividade artística reflexos do forró, gravando cinco cds do gênero e se destacando no vaneirão improvisado, que por hobbie divide os estúdios e os pés de parede das comemorações familiares com o grande amigo e irmão Delmiro Barros, celebrado cantor pernambucano. Com admirável acesso no meio artístico, Valdir traz em seu rol de confrades artistas como Maciel Melo, Alcymar Monteiro, Chiquinho de Belém, Santana, Flávio José, Flávio Leandro, Galego Aboiador, Nico Batista, Amazam, Bia Marinho, Val Patriota e Raimundo Fagner.
Seja nos palcos ou sentado num tamborete nas cantorias de pé de parede, Valdir cantou em dupla com os maiores nomes do universo da poesia popular a exemplo de Louro do Pajeú, Ivanildo Vila Nova, Sebastião Dias, Sebastião da Silva, Zé Viola, Geraldo Amâncio e Zé Cardoso.
Com mais de 500 troféus de primeiros e segundos lugares, uma turnê pela Europa com Ivanildo Vila Nova, outra pelo norte do país até a Bolívia, Valdir (com mais de 50 CDs e DVDs) é reconhecido e mencionado em tudo que envolva os grandes nomes da viola.
Militante político, Valdir sempre emprestou sua arte para as eleições de amigos Nordeste a fora, através de composições e posicionamentos. Com sua arte, expressou para ministros e autoridades em Brasilia as reinvindicações dos prefeitos de mais de 100 municípios pernambucanos. Ainda no campo da política, é de se destacar o trabalho de Valdir a frente da Secretaria de Cultura de Tuparetama, no período de 2005 a 2012, quando criou o balaio cultural, evento que valoriza e promove a cultura sertaneja, artistas e talentos da região, reúnindo, mensalmente, cerca de 3 mil pessoas, bem como proporcionou a realização do inédito show de Raimundo Fagner, antigo desejo do município.
Em 1997, ao se apresentar em reunião na presença do então presidente da república Fernando Henrique Cardoso, juntamente com seu parceiro Sebastião Silva, Valdir através dos seus versos inteligentes elogiaram o trabalho do presidente e, também com versos, aproveitou a ocasião para reinvidicar recursos para a construção da Casa do Violeiro, em São José do Egito, vindo a ser atendido pelo então presidente, que liberou recursos à associação que reúne os repentistas da cidade sertaneja. Além de Fernando Henrique, Valdir Teles também cantou e encantou os ex-presidentes José Sarney e Lula.
Valdir teve a trajetória muito ligada a radiodifusão, sendo o principal programa em Pernambuco, o Programa Violas em Liberdade, que era realizado com Ivanildo Vila Nova e transmitido pela Rádio Liberdade de Caruaru.
Valdir era casado com Maria Elza Fernandes Teles, e deixa quatro filhos, o Juiz do Estado de São Paulo e Professor de Direito da PUC SP e do IBET, Galderise Teles, o administrador Glaubenio Teles, a poetisa e Advogada Mariana Teles e Edilza Carla.
Em 22 de março de 2020, Valdir foi arrastado de repente para o outro mundo por um infarto fulminante aos 64 anos de idade, deixando orfã uma legião de fãs, admiradores da cultura popular nordestina, e amigos que Valdir soube cativar em todos os lugares em que passou.
Histórico
Álvaro Porto
Deputado
Informações Complementares
Status | |
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Situação do Trâmite: | AUTOGRAFO_PROMULGADO |
Localização: | SECRETARIA GERAL DA MESA DIRETORA (SEGMD) |
Tramitação | |||
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1ª Publicação: | 08/08/2020 | D.P.L.: | 5 |
1ª Inserção na O.D.: |
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Tipo | Número | Autor |
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