Profissionais de saúde criticam fechamento de maternidade em Caruaru

Em 18/03/2024 - 19:03
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DEBATE – Comissão de Saúde foi até Caruaru ouvir questionamentos sobre encerramento do hospital. Foto: Giovanni Costa

A Comissão de Saúde da Alepe debateu, em audiência pública nesta segunda (18), o plano anunciado pelo Governo do Estado para fechar o Hospital Maternidade Regional Jesus Nazareno (Fusam).  A reunião ocorreu na Câmara Municipal de Caruaru, cidade onde fica localizada a maternidade. 

O Fusam é uma referência no atendimento secundário de gestantes e crianças em toda a área, abrangendo cerca de 90 municípios e uma população de aproximadamente 2,5 milhões de habitantes. Lá se realiza uma média de 18 partos por dia, dos quais 86% são de alto risco.

Segundo o Governo, o fechamento do Fusam só ocorrerá após a inauguração do Hospital da Mulher do Agreste (HMA) naquela mesma cidade. No entanto, profissionais da saúde e representantes da sociedade defenderam na audiência a manutenção e ampliação da unidade atual.

POSIÇÃO – Para a deputada Rosa Amorim, Caruaru precisa não apenas manter, mas expandir sua rede de saúde. Foto: Giovanni Costa

O debate foi solicitado pela deputada Rosa Amorim (PT). A parlamentar argumenta que Caruaru, como uma cidade polo, precisa não apenas manter, mas expandir sua rede de saúde para atender às necessidades da população.

“A notícia do fechamento da Fusam causou grande surpresa e preocupação sobre a quantidade e qualidade do serviço de saúde em boa parte do Interior. Não é o primeiro hospital que ameaçam fechar em Cauaru”, disse a petista, referindo-se à UPA de Vassoural. 

“Há uma histórica superlotação na Fusam que só seria resolvida se mais um hospital fosse aberto, mas não fechado”, prosseguiu.

Profissionais da Saúde

NOVAS VAGAS – Médico da Fusam, Frederico Araújo avalia que estudos de demanda para novo hospital estão defasados. Foto: Giovanni Costa

O médico Frederico Araújo, que trabalha na Fusam, indicou que os estudos de demanda feitos antes da obra do Hospital da Mulher estão defasados diante da demanda atual. 

“Com serviços extras que serão inaugurados, de mastologia, histeroscopia, cirurgias ginecológicas e outros, os novos serão insuficientes. E em breve, as macas que ficam no chão do Jesus Nazareno terão que ir para lá”, alertou 

Vice-presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, Ana Carolina Tabosa reforçou que, mesmo com sobrecarga e necessidade de investimentos, o Jesus Nazareno entrega 6 mil partos por ano e cerca de 30 mil procedimentos. 

“Hoje a gente tem na nossa rede mulheres ainda parindo em macas baixas, sem um leito adequado. Uma simples transferência não reflete uma real ampliação de leitos”, observou. Esse ponto foi reforçado pelo conselheiro do Cremepe (Conselho Regional de Medicina), Miguel Arcanjo. 

RISCO – Para Marília Cavalcanti, fechamento do Jesus Nazareno ameaça a vida de mulheres e crianças. Foto: Giovanni Costa

Diretora do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Pernambuco (Seepe), Marília Cavalcanti avalia que o fechamento da unidade põe em risco as vidas de mulheres e crianças.

“A gente encontra em vários plantões corredores lotados de mulheres grávidas, em estado grave, perto de parir”, frisou. Ela ainda destacou o serviço de atendimento de vítimas de violência doméstica.

“Por conta da superlotação, há transferências de pacientes, causando uma peregrinação muito grande. Então, fechar 120 vagas e abrir 153 não vai resolver.” emendou a vice-presidente do Conselhos Regional de Enfermagem (Coren-PE), Thaíse Torres, que relata dificuldades para dialogar com o governo do estado.

Terreno

RELATO – Gilvanilson Ferreira apontou que fechamentos de vagas já ocorreu anteriormente em Caruaru. Foto: Giovanni Costa

Por sua vez, o representante da loja maçônica Dever e Humanidade, Antônio José Soares,  desmentiu a informação de que, que a entidade, que cedeu o terreno na década de 1940 para a construção do hospital estaria agora reivindicando a posse da área. Essa justificativa teria sido dada pelo Estado para o fechamento da unidade. “Fomos surpreendidos com essa falsa notícia”, comentou.

Representando o Conselho de Saúde de Caruaru, Romário Santos apontou possíveis interesses privados em comprar o terreno onde hoje funciona a Fusam. Ele ainda lamentou os atrasos na inauguração do Hospital da Mulher e cobrou melhorias para o Hospital Regional do Agreste e o Hospital São Sebastião.

O conselheiro tutelar Gilvanilson Ferreira afirmou que o fechamento da Fusam não é um fato isolado. Ele citou a redução da operação do Hospital São Sebastião após a abertura do Hospital Regional do Agreste e encerramento da Casa de Saúde do Bom Jesus após a inauguração da maternidade municipal. 

“Está provada a necessidade de abrir novos serviços. Basta ir na margem da BR-232 e ver a quantidade de carros de TFD (Tratamento fora do Domicílio) se deslocando para a Capital Pernambucana”, frisou.

Encaminhamentos

CRÍTICA – Abimael Santos lamentou ausência do Governo na audiência. Foto: Giovanni Costa

Durante os debates, os deputados Rosa Amorim e Abimael Santos (PL) lamentaram a ausência de representantes do Governo do Estado e da diretoria da Fusam. 

Como encaminhamentos resultantes da audiência, Rosa mencionou a articulação de ações junto ao Ministério Público e a cobrança ao governo pela manutenção e ampliação dos serviços da Fusam. 

Abimael Santos disse, ainda, que levará o pleito à audiência pública que a secretária estadual de saúde Zilda Cavalcanti fará na Comissão de Saúde para prestação de contas.