A professora Anália Ribeiro ingressou no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) em 1994. Desde então, além de exercer as atividades de docência, foi diretora de Ensino e de Assistência Estudantil e também atuou em duas pró-reitorias: a de Ensino e a de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação. Formada em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Anália é mestre em Educação e doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi eleita pela comunidade acadêmica do IFPE para exercer o cargo de reitora em dezembro de 2015 e empossada em 15 de abril de 2016. A Reitoria do IFPE é o órgão executivo responsável pela administração, coordenação e supervisão de todas as atividades da instituição e está instalada na sede do Campus Recife.
Em Discussão – Na configuração atual, o IFPE existe desde 2009, mas é uma instituição que carrega consigo uma história muito antiga. Você pode me contar um pouco dela?
Anália Ribeiro – Temos a característica de sermos uma instituição jovem com a história já bastante longa, começada com Nilo Peçanha, quando ele fundou as escolas de aprendizes e artífices, sob uma forte visão social, voltada para as pessoas mais vulneráveis da sociedade. De lá para cá, a gente passou por várias transformações, acompanhando o ritmo da história – às vezes, dando um passo para frente, outras vezes dando um passo um pouco mais para trás, na construção de uma sociedade mais justa. Um grande marco dessa história aconteceu em dezembro de 2008, com a promulgação da lei dos Institutos Federais, criados em rede, já a partir de outra lei em que transforma completamente a institucionalidade da educação profissional no Brasil. A partir daí, o IFPE se transforma nessa máquina motora do desenvolvimento, com uma educação voltada para a construção da dimensão e da autonomia do trabalho das pessoas, mas com base científica.
ED – É possível traçar um perfil do que é o IFPE hoje, em termos de número de professores, alunos e orçamento anual? Qual é a dimensão da instituição?
AR – A educação profissional vai muito além da técnica, que ela engloba. Também tem uma base científica e, principalmente, a possibilidade do itinerário formativo, que se baseia na perspectiva de que nós não somos seres acabados, mas estamos sempre em formação. Assim sendo, vamos fazer a educação profissional do ponto de vista da técnica, mas também podemos continuar nos educando, fazendo um curso superior na mesma área, uma pós-graduação, etc. Nesse sentido, o Instituto Federal de Pernambuco tem prestado um grande serviço à sociedade, especialmente aos mais vulneráveis, porque nós oferecemos os cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC), de menor duração, para uma primeira formação. Temos também muitos cursos de extensão, oferecemos o Pronatec [Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego] e três tipos de curso técnico. O primeiro deles é o integrado, em que o estudante vai ao instituto cursar ao mesmo tempo, com a mesma matrícula, o médio e o técnico. Nesse modelo, ele sai de lá com os dois diplomas. Temos também o técnico subsequente, para aqueles que terminam o Ensino Médio. São 60 cursos técnicos diferentes oferecidos hoje no Instituto Federal Pernambuco. E os cursos superiores, tanto em nível de graduação como de pós-graduação. Oferecemos, por fim, a Educação de Jovens e Adultos (Proeja), que é um programa específico de educação profissional que une a formação escolar do EJA à formação profissional. Além disso, o IFPE oferece a modalidade educação a distância, com vários cursos de nível técnico, superior e pós-graduação Lato Sensu. Atualmente, a instituição possui 16 polos de ensino no Estado.
ED – É possível traçar um perfil do aluno do IFPE?
AR – Estão matriculados no instituto hoje em torno de 27 mil alunos. Há estudantes de todos os estratos sociais, mas cerca de 90% são oriundos de famílias de baixa renda. São estudantes realmente vulneráveis, que recebem uma educação de qualidade, independente do curso que façam. Segundo números que obtivemos do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), nossos índices se comparam aos de países considerados excelentes, como a Coreia do Sul. Na avaliação geral, não estamos entre os primeiros lugares, mas, se você separar os Institutos Federais nesse extrato, a nota do Brasil vai lá para cima. Isso significa que nós conseguimos, com a população vulnerável, fazer uma educação que eleva o nível de escolaridade com excelência.
ED – Que impacto isso gera nas famílias?
AR – Há uma coleção de narrativas, de histórias familiares emocionantes. Temos estudantes da periferia que competem e já estão cotados para a seleção brasileira em algum tipo de esporte. Outros competindo na Olimpíada Mundial de Astronomia, na de Astrofísica, indo para a China agora em novembro. Mas também uma grande massa que tem suas vidas modificadas, no sentido de que obtêm um trabalho digno, que lhe permitem sustentar suas famílias e exercer a cidadania.
ED – Como é a relação do instituto com as atividades econômicas de cada um dos municípios em que ele está instalado?
AR – Antes de implantar os campi e definir os cursos a serem oferecidos, fazemos um estudo do arranjo produtivo e cultural, ou seja, da cena da região. De acordo com cada município e entorno, organizamos os cursos por eixo tecnológico e por área de atuação. Como exemplo, posso citar o campus de Olinda, uma cidade muito voltada para a economia criativa e as artes. Lá são ofertados dois cursos técnicos subsequentes, um de arte visual e o outro de computação gráfica. Já em Belo Jardim, temos cursos ligados às ciências da terra, que também é o forte daquela região. Mas o município também é muito musical, então criamos uma Licenciatura em Música lá.
ED – Gostaria de saber sobre a parte de extensão e pesquisa no IFPE.
AR – Nós temos ensino, mas também muita pesquisa acontecendo no instituto. São 191 projetos de pesquisa que envolvem quase 400 estudantes. Quanto aos projetos de extensão, são 119. E a pesquisa no Instituto Federal de Pernambuco cobre uma variedade de temas, com ênfase no desenvolvimento tecnológico, na inclusão de pessoas e na humanização dos processos. É muito comum no projeto de extensão a gente aprender com a comunidade. Isso abre um leque muito grande de processos de comunicação com a sociedade. Procuramos incentivar, inclusive oferecendo bolsas para os estudantes se tornarem pesquisadores e extensionistas. Além disso, temos uma série de ações de assistência estudantil, por exemplo: em vários campi, temos três refeições ao dia, para esses estudantes, em três deles nós temos alojamentos; o bolsa-permanência, que no fim é um auxílio para o aluno conseguir acesso a transporte, conseguir se alimentar e comprar algum material necessário para os estudos; e uma equipe multiprofissional, que é extremamente comprometida com o bem-estar desse estudante. Então, o estudante dos Institutos Federais são envolvidos com uma proteção para que ele possa permanecer e ter êxito naquilo. Nós temos também alguns núcleos que mobilizam uma variedade de ações e oportunidades. Temos os núcleos que dão assistência às pessoas com deficiência, outro que trata dos indígenas e dos quilombolas. Por fim, há o núcleo de estudos de gênero, que trata da questão da diversidade na educação profissional.
ED – Como acontece o ingresso ao Instituto Federal, já que tem vários tipos de cursos?
AR – Há várias formas de entrada, mas a principal ainda é o vestibular, que realizamos duas vezes por ano. Se o aluno provar que é de baixa renda, ele terá isenção da taxa de inscrição. Além disso, há o vestibular um tratamento especial para as pessoas com deficiência, ou que temporariamente estejam com alguma dificuldade. Isso tudo para dizer Aos nossos candidatos que eles são bem-vindos ao Instituto Federal de Pernambuco. Também temos algumas vagas oferecidas por meio do Sisu [Sistema de Seleção Unificada] e outras para portadores de diploma.
ED – Para terminar, quais são os desafios da rede federal e especificamente do IFPE para os próximos anos?
AR – Um deles é a própria manutenção e expansão dos Institutos Federais. A gente acredita muito no modelo de educação que os institutos oferecem. Mas, para isso, a gente precisa fortalecer o que já existe, que é uma carreira sólida para os docentes e para os servidores e uma estrutura que possibilite aos nossos alunos vivenciarem integralmente o que a instituição pode proporcionar. Para isso, é necessário contornar, por exemplo, os problemas que foram trazidos pela Emenda Constitucional do teto dos gastos, que tem trazido dificuldades. Outra questão é se aprofundar cada vez mais nos grupos vulneráveis da sociedade e nos voltarmos cada vez mais para aqueles que não têm acesso à educação. O ensino a distância e a extensão ajudam muito, mas ainda há muito o que desenvolver. Estamos no caminho certo. Em 10 anos, já fizemos muito, mas este País é muito grande e nós temos muita ainda para fazer.