
DADOS – Pernambuco conta com 65 profissionais vinculados à Secretaria Estadual de Saúde. Foto: João Bita
Num País no qual, em três décadas, haverá um idoso para cada três habitantes e o Ministério da Saúde avalia existir uma epidemia de microcefalia, o baixo número de terapeutas ocupacionais em atividade na rede pública tem preocupado a categoria. A partir dessa constatação, a Comissão de Cidadania decidiu realizar, nesta segunda (5), uma audiência pública para debater os motivos que geram o déficit desses profissionais no Brasil e no Estado, bem como propor ações de valorização da atividade.
Ao dar início ao encontro, o presidente da Comissão, deputado Edilson Silva (PSOL), registrou que “as profissões formadas predominantemente por profissionais mulheres costumam ter uma atenção inferior dos empregadores”. Solicitante da audiência pública, a deputada Socorro Pimentel (PSL) acredita que o terapeuta ocupacional não recebe o tratamento correspondente à importância do seu trabalho.
Com desempenho em diversas áreas, como saúde mental, traumatologia, oncologia, gerontologia e inclusão escolar, o terapeuta ocupacional atua na promoção e potencialização da autonomia de pessoas. De acordo com o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito), Pernambuco, que lidera o número casos de microcefalia no País com 395 registros até 26 de novembro deste ano, conta com 65 terapeutas ocupacionais vinculados à Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Para reverter a carência de profissionais, a conselheira do Coffito Luziana Maranhão cobrou comprometimento do Poder Público com a abertura de novos cursos de graduação e a realização de concursos. “Em Pernambuco, apenas a Universidade Federal de Pernambuco disponibiliza a formação. Precisamos mobilizar a Universidade de Pernambuco também”, frisou.
Ressaltando que apenas sete terapeutas ocupacionais foram convocados após um concurso público realizado em 2014, oferecendo 34 vagas, Liliane Gomes, vice-presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito), chamou atenção para a insuficiência de profissionais na rede estadual de saúde. “Após fazermos alguns cálculos, descobrimos que Pernambuco necessita de 393 terapeutas ocupacionais para atender à atual demanda”, afirmou. “Também destaco que a maioria das famílias de crianças com a síndrome congênita do zika vírus é de baixa renda”, prosseguiu.
A gestora de Supervisão Hospitalar Maria Gorete Medeiros garantiu a prioridade dada ao programa. Atualmente, 26 unidades em Pernambuco já prestam algum tipo de atendimento relacionado à microcefalia. Acerca da convocação dos aprovados no concurso público realizado em 2014, a diretora-geral de Gestão do Trabalho da SES, Rita Tenório, afirmou que, desde março, o Governo Estadual publicou cinco atos de nomeação referentes àquele certame. Segundo ela, mais de 3.300 profissionais das mais diversas áreas já foram chamados. “Ainda há muito o que fazer, mas o Estado tem feito grande esforço para dar conta da demanda”, assegurou.
Participaram da audiência pública outras entidades de terapeutas ocupacionais e associações de famílias de crianças com a síndrome congênita do zika vírus. Também presentes, familiares de pessoas com doenças raras pediram o apoio do Governo Estadual para que haja continuidade dos tratamentos. O grupo considera que o atendimento aos pacientes está sendo negligenciado, tendo em vista o direcionamento das políticas públicas para os casos de microcefalia.
Ao encerrar a audiência, Socorro Pimentel – que presidiu a Comissão Especial de Acompanhamento dos Casos de Microcefalia em Pernambuco – declarou “que considera baixo o número de terapeutas ocupacionais convocados no último concurso público realizado pela Secretaria de Saúde, diante do alto número de casos da síndrome congênita do zika vírus em Pernambuco”. À tarde, durante a Reunião Plenária, a deputada voltou a repercutir o tema e reivindicou a abertura do curso de graduação em Terapia Ocupacional na Universidade de Pernambuco.