
PREJUÍZOS – “Cerca de 80 mil pessoas sofrem consequências das cheias”, informou o presidente da Comissão de Meio Ambiente, Wanderson Florêncio. Foto: Evane Manço
Os transtornos provocados pelo acúmulo de lixo, assoreamento e ocupação irregular das margens do Rio Tejipió foram discutidos pela Comissão de Meio Ambiente da Alepe, em audiência pública promovida nesta quinta (9). No período de chuvas, diferentes comunidades são atingidas com transbordamentos do curso d’água, que tem 18 quilômetros de extensão e corta os municípios do Recife, além de de São Lourenço da Mata e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana.
“Estima-se que 80 mil pessoas sofram diariamente as consequências dos alagamentos do Tejipió, especialmente as vilas Maria Lúcia e Aliança, no bairro do Ipsep, no Recife. Queremos escutar os relatos das comunidades e das autoridades envolvidas para propor encaminhamentos construídos coletivamente”, informou o presidente do colegiado, deputado Wanderson Florêncio (PSC).
O parlamentar defendeu que o Governo Estadual lidere um projeto de recuperação do rio, promovendo ações de dragagem e revitalização das margens. “Além da intervenção do Poder Público, precisamos investir na educação ambiental da população”, acrescentou a deputada Laura Gomes (PSB). Já o deputado João Paulo (PCdoB) sugeriu a articulação de uma frente que envolva entes públicos e sociedade civil organizada. “Ou cuidamos do meio ambiente, ou vamos continuar tendo problemas seríssimos em nossas cidades”, pontuou o deputado Tony Gel (MDB).
Queixas da sociedade
“É necessário que o Estado envolva os prefeitos e demande recursos, tanto de emendas da bancada pernambucana no Congresso Nacional quanto do Governo Federal. O que não podemos é sofrer todos os anos com a mesma angústia”, argumentou Márcio Gadelha, representante do grupo Bem Viver do Ipsep. Segundo ele, as condições pioraram com a construção da Avenida Dom Helder Camara, no Recife.

DANOS – Géssica Dias registrou três tipos de problemas: materiais, físicos e emocionais. Foto: Evane Manço
Representante do Fórum Popular em Defesa do Rio Tejipió, Géssica Dias registrou os três tipos de consequências provocadas pelos alagamentos. “Há o rebatimento material, com a perda contínua dos móveis; o físico, com o acometimento de doenças relacionadas à água poluída; e os transtornos emocionais, por lidarmos com o medo todas as vezes que chove”, lamentou.
“Diante da falta de verbas para resolver a questão como um todo, devemos elencar prioridades”, frisou Alexandre Ramos, da Associação Águas do Nordeste. Ele recomendou transformar a mata da nascente do rio em unidade de conservação e buscar recursos de emendas parlamentares para intervenções pontuais nas comunidades mais atingidas.
“Talvez o problema não seja apenas de orçamento, mas de falta de vontade política para tratar de um espaço ocupado por populações menos favorecidas, como pretos e pobres”, acredita Josias Vieira, do Movimento Nacional Nós na Criação. “As propostas são sempre para o futuro. Enquanto isso, milhares de famílias são impactadas com toda chuva que chega”, complementou Cláudio Braga, do Fórum Popular do Rio Tejipió.
Estado
Representante da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Recursos Hídricos, Simone Rosa da Silva informou já haver um diagnóstico sobre a situação do rio. “Estimativas de 2014 mostraram que as soluções custam cerca de R$ 200 milhões. Nem os municípios isoladamente nem o Estado conseguirão arcar com as despesas totais. Precisamos de cooperação na produção de um projeto técnico que embase a prospecção de recursos do Governo Federal”, argumentou.

ORÇAMENTO – “Soluções custam cerca de R$ 200 milhões. Nem municípios nem Estado conseguirão arcar com despesas totais”, frisou Simone Rosa. Foto: Evane Manço
Diretor-presidente da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), Djalma Paes alertou para a necessidade de pensar soluções conjuntas de saneamento, já que as intervenções em uma cidade afetam diretamente as outras. “Estamos dispostos a trabalhar de forma integrada em busca do desenvolvimento sustentável”, afirmou Andreia Olindo, da Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
Municípios
“As intervenções necessárias são de grande complexidade e mobilizam diferentes estruturas do município, como ações de educação ambiental e gestão de resíduos sólidos”, explicou Érika Vidal, da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife. “Devemos unir esforços políticos, independentemente de partido”, acredita o vereador do Recife Chico Kiko (PP).
Representante da Prefeitura de Jaboatão, Edilene Rodrigues listou as ações promovidas pela gestão municipal, como campanhas de conscientização ambiental, implantação de barreiras ecológicas e aumento da frequência da limpeza urbana. De acordo com Gerson Vicente, do setor de Fiscalização Ambiental da Prefeitura de São Lourenço da Mata, a cidade tem atuado na proteção da nascente do rio. “Os problemas ficam mais sérios no Recife e em Jaboatão”, disse, colocando-se à disposição para iniciativas conjuntas.
“Se não é possível resolver o problema como um todo, é imprescindível que os gestores indiquem ações de menor custo que possam ser imediatamente realizadas”, enfatizou a promotora de Justiça Rejane Centelhas, da Promotoria de Meio Ambiente de São Lourenço da Mata.