Deputados repercutem vazamento de óleo na costa pernambucana

Em 21/10/2019 - 18:10
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DESCASO - Para Teresa Leitão, atitude de Bolsonaro foi ideológica ao acusar, sem confirmação, a Venezuela pelo desastre. Foto: Roberto Soares

DESCASO – Para Teresa Leitão, atitude de Bolsonaro foi ideológica ao acusar, sem confirmação, a Venezuela pelo desastre. Foto: Roberto Soares

O vazamento de óleo que atinge a costa de Pernambuco e outros Estados do Nordeste ganhou destaque na Alepe, nesta segunda (21). Durante a Reunião Plenária, parlamentares discutiram as ações adotadas pelos Governos Federal e Estadual diante da tragédia e a mobilização feita por prefeituras e voluntários para limpar as praias do Litoral Sul. Também foram propostas a criação de uma Comissão Especial e a realização de uma audiência pública para encontrar soluções e discutir medidas preventivas.

Primeira a falar do assunto, a deputada Teresa Leitão (PT) registrou a moção aprovada no domingo (20), durante o 7º Congresso Estadual do Partido dos Trabalhadores em Pernambuco. O documento aponta descaso do governo do presidente Jair Bolsonaro ao não buscar impedir que as manchas de óleo atingissem as praias. De acordo com ela, a atitude do governante foi ideológica ao acusar, sem confirmação, a Venezuela pelo desastre, em vez de tomar as medidas necessárias para evitar o sofrimento do povo.

No pronunciamento, Teresa enfatizou que o vazamento atingiu estuários e santuários ecológicos. “Apesar do esforço do Governo do Estado e dos voluntários para recolher os rejeitos, não é possível que o Governo Federal diga que não pode fazer nada e dificulte toda a proteção que deveria conceder”, disse.

COLEGIADO - João Paulo Costa propôs a criação de uma Comissão Especial na Alepe para discutir as consequências do desastre ambiental. Foto: Roberto Soares

COLEGIADO – João Paulo Costa propôs a criação de uma Comissão Especial na Alepe para discutir as consequências do desastre ambiental. Foto: Roberto Soares

João Paulo Costa (Avante) propôs a criação de uma Comissão Especial na Alepe para discutir os impactos do vazamento de óleo. O grupo deve visitar os locais afetados e ouvir entidades públicas e movimentos da sociedade civil, para saber o que está sendo feito e traçar estratégias para a prevenção de novos desastres ambientais. O parlamentar destacou os setores da pesca, do turismo e o meio ambiente como sendo os mais afetados.

“Esse está sendo considerado, pelo Ibama, o maior desastre ambiental do Brasil em extensão. Mais de 600 toneladas de resíduos foram retiradas de praias nordestinas. É de extrema importância trazer esta discussão para a Casa”, enfatizou o parlamentar. Ele repercutiu, ainda, a decisão da Justiça Federal que determinou à União a adoção de medidas para recolher o óleo que atinge o litoral e proteger áreas sensíveis do Estado.

DEBATE - Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Wanderson Florêncio quer audiência pública para cobrar esclarecimentos dos órgãos competentes. Foto: Roberto Soares

DEBATE – Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Wanderson Florêncio quer audiência pública para cobrar esclarecimentos dos órgãos competentes. Foto: Roberto Soares

Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Wanderson Florêncio (PSC) solicitou a realização de audiência pública para cobrar esclarecimentos de órgãos como a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). De acordo com ele, a instituição não respondeu a ofícios que o colegiado enviou após se reunir em 4 de setembro, quando as primeiras manchas de óleo apareceraram no litoral pernambucano. “A única resposta que tivemos até hoje foi o silêncio”, pontuou.

Florêncio rebateu, ainda, uma nota do Governo do Estado divulgada no último dia 15, que indicava que o litoral do Estado estava livre das manchas e que estas não apareciam há um mês. “É mais do que clara a falta de responsabilidade do Poder Executivo ao subestimar o que vem acontecendo em nossas praias e nas de outros Estados do Nordeste”, observou o deputado, que também acusou o Governo Federal de omissão.

RELAÇÃO - Delegado Erick Lessa mostrou-se preocupado com o “tensionamento” da relação entre os Governos Estadual e Federal. Foto: Roberto Soares

RELAÇÃO – Delegado Erick Lessa mostrou-se preocupado com o “tensionamento” entre os Governos Estadual e Federal. Foto: Roberto Soares

O deputado Delegado Erick Lessa (PP) mostrou-se preocupado com o “tensionamento” da relação entre os Governos Estadual e Federal, além de criticar o presidente Jair Bolsonaro por realizar uma viagem de dez dias à Ásia em meio ao desastre ecológico. Ele elogiou a atuação dos voluntários nas praias, mas sustentou que as providências necessárias envolvem estratégia e tecnologia para identificar os causadores do problema.

“O momento é de muita preocupação, mas não pode ser de pânico. É preciso que medidas sejam tomadas em parceria, e que se coloquem de lado as ideologias, para que a gente possa ter um alento e o turismo do nosso Estado não seja tão gravemente afetado”, acrescentou.

Romero Sales Filho (PTB), por sua vez, abordou o trabalho de limpeza das praias feito no fim de semana pela Prefeitura do Ipojuca, por meio do Comitê Gestor de Crise. O mutirão envolveu secretarias municipais, ONGs, associações, empresários, rede hoteleira, além da participação voluntária da sociedade civil. Conforme ele expressou, a tragédia estava anunciada desde o início de setembro.

MUTIRÃO - Romero Sales Filho destacou trabalho de limpeza das praias feito no fim de semana pela Prefeitura do Ipojuca, com a ajuda de voluntários. Foto: Roberto Soares

MUTIRÃO – Romero Sales Filho destacou trabalho de limpeza das praias feito no fim de semana pela Prefeitura do Ipojuca, com a ajuda de voluntários. Foto: Roberto Soares

“A ausência de ações e respostas atesta a inoperância do Governo Federal diante do que estamos sofrendo. O Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC) não foi posto em prática e os comitês foram extintos, deixando o litoral vulnerável às manchas”, ressaltou. Ele defendeu, ainda, que o Governo do Estado preste contas do que vem sendo feito. Em apartes, Antonio Fernando (PSC) e Alberto Feitosa (SD) defenderam que as disputas políticas sejam colocadas em segundo plano, em prol do meio ambiente e do turismo.

Na avaliação de João Paulo (PCdoB), são incomparáveis as atuações dos Governos Estadual e Federal diante do problema ambiental. O comunista criticou a omissão da União na estruturação de um plano integrado para conter o avanço das manchas de óleo e, em contrapartida, destacou o gabinete de crise montado pelo Executivo pernambucano. “Em oposição ao descaso do Governo Federal, o povo nordestino, em ação conjunta com o Estado, tem realizado grandes mutirões para evitar danos maiores ao nosso litoral”, pontuou.

INTEGRAÇÃO - João Paulo vê omissão da União por não estruturar plano para conter o avanço das manchas de óleo no Nordeste. Foto: Roberto Soares

INTEGRAÇÃO – João Paulo apontou omissão da União por não estruturar plano para conter o avanço das manchas de óleo no Nordeste. Foto: Roberto Soares

“Seria necessária, no entanto, uma ação integrada articulada pelo poder central”, opinou. O deputado afirmou que os Estados nordestinos foram “abandonados” pela União, creditando este comportamento ao “preconceito do presidente Bolsonaro” com a região. “O Governo Federal se ocupa, de forma leviana, em encontrar um culpado entre seus inimigos ideológicos, neste caso, a Venezuela”, ressaltou.

Em aparte, o deputado José Queiroz (PDT) defendeu ações de orientação da população, “que pode ser vítima por não saber as consequências dos rejeitos”. “Vemos o Governo de Pernambuco promovendo um conjunto de esforços que, talvez, não sejam suficientes para resolver o problema em sua totalidade, pois isso exige ações em nível federal”, avaliou, por sua vez, Waldemar Borges (PSB). “Se essa situação tivesse acontecido fora do Nordeste, teríamos uma postura diferente do Governo Federal, que age com preconceito e xenofobia com nossa região”, opinou Isaltino Nascimento (PSB).

 

*Foto em destaque (home): Diego Nigro/SEI