Pequenos leitores

Em 11/04/2019 - 08:04
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Tayza Lima

GOSTO PELA LEITURA - Maria Alice, de quatro anos, adora historinhas. Livros infantis abordam temas como autoestima e respeito às diferenças. Foto: Roberto Soares

GOSTO PELA LEITURA – Maria Alice, de quatro anos, adora historinhas. Livros infantis abordam temas como autoestima e respeito às diferenças. Foto: Roberto Soares

Era uma vez um soldadinho de chumbo que havia sido esquecido em uma velha loja. Um dia, um homem comprou o soldadinho de chumbo e o levou para casa, só que ele tinha se apaixonado pela bailarina…”

 

Reinos distantes, florestas mágicas, brinquedos e animais falantes. O universo criado pelas histórias infantis transporta o leitor para outra realidade, onde cabe tudo o que a imaginação quiser. Cativando até mesmo os adultos, a literatura infantil trabalha com características próprias das crianças, como a curiosidade, a fim de atrair a atenção dos pequenos para temas do mundo real.

A psicopedagoga Cynthia Novaes atua na área de educação especial na rede municipal de ensino do Recife. Nas aulas, ela utiliza a leitura e a contação de histórias como recursos didáticos, e explica que eles ajudam as crianças a desenvolver e a entender emoções e sentimentos de forma significativa. “Isso fica evidente quando a criança responde com sorrisos ou com uma carinha triste, no decorrer da história”, exemplifica. “É um momento em que ela brinca, interage e vivencia, junto com os personagens, os momentos de humor e de tristeza. Serve como uma ferramenta mediadora para ajudar a criança a resolver conflitos no futuro.”

 

… Certo dia, o soldadinho de chumbo caiu pela janela. Ele passou pelas ruas, pelo esgoto, e foi parar no mar. Parou na boca de um peixe…”

 

LIÇÃO - “Ninguém pode rir dos outros, senão ninguém vai brincar", diz Maria Alice. Foto: Roberto Soares

LIÇÃO – “Ninguém pode rir dos outros, senão ninguém vai brincar”, diz Maria Alice. Foto: Roberto Soares

Além de estimular a criatividade e a imaginação, as histórias infantis também reproduzem noções de ética, moral, empatia e amizade. Essa característica tem origem nos textos do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, cujo aniversário, em 2 de abril, marca o Dia Internacional do Livro Infantil. É de autoria dele histórias como A Pequena Sereia e O Soldadinho de Chumbo.

Andersen adaptou a linguagem das fábulas para o universo das crianças, abordando temas como autoestima e respeito às diferenças, como no Patinho Feio, também escrita por ele. A pequena Maria Alice Gomes de Souza, de quatro anos, conta a lição que aprendeu com a historinha. “Ninguém pode rir dos outros, senão ninguém vai brincar. A gente não pode maltratar ninguém. Se chegar um amiguinho novo, eu vou tratar ele como eu trato todo mundo.”

 

 

… Uma senhora comprou o peixe e o levou para casa. Quando ela abriu o peixe, o soldadinho de chumbo estava de volta ao lar…”

 

No Brasil, os livros adaptados para os leitores mirins surgiram no século 19, e ganharam força a partir de 1920, com as obras de Monteiro Lobato. O criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo é reconhecido como o pai da literatura brasileira para crianças. É no aniversário dele, em 18 de abril, que o país celebra o Dia Nacional do Livro Infantil.

Um século após o seu lançamento, as aventuras de Pedrinho, Narizinho e Emília continuam encantando adultos e crianças, como o estudante Sávio Gabriel, de dez anos. “Eu acho legal porque sempre tem um pouco de comédia pra alegrar. Nunca tem uma parte triste – e quando tem, é brincadeira. Eu gosto do Rabicó, porque ele come que nem eu – eu adoro comer – e também porque, quando ele aparece, ele é engraçado.”

Leitura e a contação de histórias, além de divertidas e prazerosas, contribuem para a formação cidadã

APRENDIZADO – Leitura e contação de histórias, além de divertidas, contribuem para a formação cidadã. Foto: Sabrina Nóbrega

 

O papel do Estado no oferecimento de espaços para acesso e fomento à leitura também precisa ser levado em conta, entendem os profissionais da área. Em 1994, um manifesto publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconhece a biblioteca pública como a porta de entrada para o conhecimento, e coloca, em primeiro lugar, a missão de criar e fortalecer os hábitos de leitura nas crianças, desde a primeira infância.

 

Por mais bibliotecas

Secretário de Cultura de Limoeiro, Geraldo Muniz recebe placa do ex-deputado Aluísio Lessa. Prefeitura foi premiada em 2018.

RECONHECIMENTO – Secretário de Cultura de Limoeiro, Geraldo Muniz recebe prêmio das mãos do então deputado Aluísio Lessa. Prefeitura foi vencedora em 2018. Foto: Jarbas Araújo

Em Pernambuco, a Assembleia Legislativa criou, em 2015, o Prêmio Prefeitura Amiga da Biblioteca. A premiação é uma forma de reconhecer os municípios que promovem a instalação e a manutenção de bibliotecas públicas e escolares.

De acordo com o presidente da Comissão de Educação da Alepe, deputado Romário Dias (PSD), a honraria serve de incentivo a políticas públicas exitosas. “Uma prefeitura amiga da biblioteca, e uma biblioteca amiga da população, fazem com que as crianças se interessem em ler”, analisa o parlamentar.

 

A importância da leitura para o desenvolvimento cognitivo, de escrita e de fala para as crianças é de conhecimento geral. Mas em tempos de televisão, celular e tablet, é possível um livro ganhar essa competição? A psicopedagoga Cynthia Novaes acha que sim, e dá dicas para incentivar o gosto pela leitura. “Um conselho para os pais é que eles deixem, realmente, a criança sentir os livros, bem coloridos, com gravuras grandes, e não ter medo que eles rasguem”, explica. “Também tem que ler histórias para eles dormirem, fazer perguntas a respeito e dar livros de presente.”

Clássicas ou contemporâneas, as histórias infantis ocupam um lugar especial na literatura, na memória e no coração das pessoas. São delas as primeiras viagens sem sair do lugar. Inspirações para brincadeiras e fontes de conhecimento, a leitura e a contação de histórias, além de divertidas e prazerosas, contribuem para a formação de cidadãos mais seguros de si, personagens do próprio “era uma vez”.

 

… O soldadinho e a bailarina estavam juntos, e agora, felizes para sempre.

 

Foto da home: Roberto Soares.