
REUNIÃO – Colegiado ouviu a Federação Pernambucana de Futebol, dirigentes de clubes e a Polícia Militar. Foto: Jarbas Araújo
O tumulto no jogo de futebol entre Sport e Santa Cruz, que resultou no ferimento de mais de 60 torcedores, no último dia 7, foi abordado pela Comissão de Cidadania na reunião desta quarta (21). O colegiado ouviu a Federação Pernambucana de Futebol (FPF), dirigentes dos clubes e o chefe do Batalhão de Choque para apurar se houve alguma falha nas decisões tomadas durante a partida.
O episódio ocorreu no Estádio da Ilha do Retiro, no Recife. O uso de sinalizador por um torcedor tricolor na comemoração do empate teria motivado a ação da Polícia Militar (PM) e iniciado o clima de tensão e correria. O artefato pirotécnico é proibido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em razão do risco de incêndio.
“Não foi a atuação da polícia que desencadeou o episódio. Do meio do campo, acompanhei toda a ação, que ocorreu de forma tranquila e sem reação do infrator”, frisou o tenente-coronel Cezar Moraes, comandante do Batalhão de Choque. Ele relatou, ainda, que todo o acontecimento se deu pela lateral da torcida, citando vídeo exibido pelo Bom Dia Pernambuco, da Rede Globo, como demonstrativo de que o “efeito dominó” ocorreu distante da área em que a PM agiu.
O policial aproveitou para narrar, em linhas gerais, como funciona a atuação do Choque durante dias de jogos e falar sobre dificuldades enfrentadas diante de torcedores mal-intencionados. “Apesar da abertura dos portões horas antes do início da partida, existem pessoas que insistem em entrar quando faltam apenas 15 ou 30 minutos, o que causa transtorno”, disse. “Há pessoas que não têm ingresso nem estão com dinheiro para comprar, mas ficam ali para causar tumulto e atrapalhar”, declarou.
A decisão pela continuidade da partida, mesmo diante da prestação de socorro aos feridos, foi defendida pelo presidente da FPF, Evandro Carvalho: “A total responsabilidade do reinício do jogo foi única e exclusivamente da federação, e a atitude foi a mais correta a ser tomada”. Ele argumentou que o encerramento precipitado da partida poderia trazer consequências mais graves, dentro e fora de campo. “Um grande número de torcedores sairia ao mesmo tempo, provocando encurralamento nos portões e congestionamento de pessoas nas ruas próximas ao estádio, o que poderia precipitar brigas entre torcidas”, ponderou.
O gestor também rebateu o entendimento de que a continuidade do jogo tenha sido motivada por critérios financeiros e por atenção a interesse das emissoras de televisão: “A motivação foi técnica. Tomamos o cuidado de nos certificar de que não havia risco de morte entre os feridos”.

DEFESA – “Não foi a atuação da polícia que desencadeou o episódio”, disse o tenente-coronel Cezar Moraes, comandante do Batalhão de Choque. Foto: Jarbas Araújo
Os dirigentes dos clubes sugeriram que deveria haver um batalhão específico para grandes eventos. “O nosso pleito é no sentido de um comando que não fosse tanto de enfrentamento, como o Batalhão de Choque”, destacou o presidente do Santa Cruz, Constantino Júnior. Mesmo avaliando que a medida seria benéfica, o diretor de Segurança do Sport, Romero Ribeiro, ressaltou que “o Choque sempre tem trabalhado com efetividade”.
De acordo com o presidente da Comissão de Cidadania, deputado Edilson Silva (PSOL), a ideia é que debates, somados ao pedido de apuração que fez ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), possam ajudar na construção de um procedimento eficaz de impedimento a ações de violência nos estádios. O parlamentar anunciou que realizará outra reunião sobre o tema, com a participação de vítimas e torcedores.
“Temos que zelar bastante pelo futebol, que, no Brasil, não é só um esporte, mas um espaço de diversão de muitas famílias. Queremos ouvir todos os lados para apurar, com detalhes, como o fato aconteceu e também para entender como o torcedor é tratado no estádio”, pontuou Edilson Silva. A deputada Socorro Pimentel (PSL) e o deputado Bispo Ossesio Silva (PRB) também participaram do encontro e cobraram medidas para evitar a ocorrência de novos episódios desse tipo.