O que fica na fotografia

Em 18/05/2017 - 19:05
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ACOLHIMENTO - Alexandre e Ana Carolina, com os filhos Maria Clara e Nícolas: “Nos sentimos preparados”. Foto: Henrique Genecy

ACOLHIMENTO – Alexandre e Ana Carolina, com os filhos Maria Clara e Nícolas: “Nos sentimos preparados”. Foto: Henrique Genecy

Ivanna de Castro

Sem qualquer objeção ou ressalva, os irmãos Maria Clara, de 5 anos, e Nícolas, com 3, entregaram o comando de suas vidas a uma família que os preencheu com todo o amor que sonhavam ter. Inverter a perspectiva do processo de adoção é uma prática que a mãe das crianças, Ana Carolina Mendes, costuma exercitar. “São seres muito corajosos que, depois de passar por situações difíceis e dolorosas, adotam adultos desconhecidos para confiar a eles suas vidas”, resume.

Ana Carolina e o marido, Alexandre Mendes, tornaram-se pais de Maria Clara e Nícolas ( assista a vídeo) há pouco menos de um ano. O casal revela que a preparação começou em 2013, quando decidiu buscar o Cadastro Nacional com a ideia de adotar uma única criança, de até 3 anos. Com o tempo, os planos foram amadurecendo. “Depois de muitas conversas e esclarecimentos do Gead, nos sentimos preparados para adotar mais de uma criança, estender o limite de idade, bem como abraçar um filho com alguma doença ou deficiência”, revela Ana.

A filha do casal possui a síndrome de Dandy-Walker, uma malformação cerebral que provoca, entre outras coisas, aumento da caixa craniana e atraso no desenvolvimento motor. Após passar por cirurgia e receber estímulos diários dos pais, Maria Clara, assim como Nícolas, desenvolvem-se normalmente e já se habituaram ao novo lar. “Não são bonecos que enfeitam uma estante. O adulto que decidir adotar alguém precisa amar incondicionalmente, respeitando a história e o momento do filho”, alerta Ana.

Alexandre aconselha os interessados a se preparar para a decisão. “É preciso entender seus próprios limites. Há casais que se sentem preparados para ser pais de filhos com deficiência, e outros não. É essencial, portanto, que a decisão seja discutida e trabalhada”, opina.

NOVO LAR - Paulo e Sérgio são, respectivamente, o “papai” e o “painho” das pequenas Alice e Aline. Foto: Henrique Genecy

NOVO LAR – Paulo e Sérgio são, respectivamente, o “papai” e o “painho” das pequenas Alice e Aline. Foto: Henrique Genecy

Casados desde 2013, Paulo e Sérgio Costa Floro foram “adotados”, respectivamente, como “papai” e “painho” de Alice, de 6 anos, e de Aline, com 4. Eles revelam apreensões que fizeram parte do processo. “Tinha medo de não ser aceito ou respeitado como pai”, revela Paulo ( assista a vídeo). “Além disso, tive receio de receber crianças que, por conta da realidade preconceituosa em que vivemos, pudessem reproduzir uma cultura homofóbica.” Não foi o caso das irmãs: logo no primeiro encontro, ainda no abrigo, Alice verbalizou, sem ressalvas, o desejo de ser adotada pelo casal.

Em agosto de 2016, as meninas finalmente ganharam um novo lar e, com diálogo, carinho e limites, não tiveram dificuldades de compreender que aquela família lhes proporcionaria o afeto que faltou a elas. “Tenho consciência de que minhas filhas são pessoas em formação e de que meu compromisso é colocá-las sempre como prioridade na minha vida, dando amor e orientação. Meu objetivo como pai de Alice e Aline é oferecer a elas as condições necessárias para que se desenvolvam em toda a sua capacidade”, compromete-se Sérgio.

O casal avalia, no entanto, que ainda há barreiras em torno da adoção a serem superadas. “A sociedade precisa parar de ver os filhos adotivos como um ‘plano B’. Tenho colegas férteis, que já têm filhos, mas optaram por adotar também. Isso não pode ser visto com estranheza, mas como uma opção de planejamento familiar”, defende Paulo. Sérgio acrescenta: “É preciso naturalizar a questão. Eu simplesmente decidi ter filhos, e isso não é um ato de altruísmo ou bondade. É uma decisão que mudou a minha vida, assim como seria com filhos biológicos”, conclui.

Fique Sabendo:

Por iniciativa da deputada Teresa Leitão (PT), a Lei Estadual n° 14.349/2011 instituiu, no Calendário Oficial de Eventos do Estado, a Semana Estadual da Adoção, a ser realizada próximo ao dia 25 de maio. A proposta é de que, no período, sejam promovidos debates e reflexões sobre o tema.