“Sinto-me impotente para colaborar”

Em 26/06/2002 - 00:06
-A A+

“Sinto-me impotente para colaborar” A frase, do deputado Gilberto Marques Paulo (PSDB), mostra sua falta de disposição para concorrer à reeleição. Para ele, o Parlamento sofre com a “hipertrofia do Executivo”. Ontem, ele apresentou todas as suas razões para desistir da eleição de outubro. “É uma decisão pensada há cerca de um ano”, afirmou.

“Decidido que estou a não mais tentar a reeleição a uma vaga à Assembléia Legislativa, tenho o indeclinável dever de justificar as razões que me levam a tão consciente tomada de posição.

Tendo chegado no Recife, em 1958, já em 1959, por concurso público federal, fui nomeado escriturário da velha e querida Faculdade de Direito, na qual eu cursava o quarto ano.

Em janeiro de 1961, mês seguinte à minha formatura, fui nomeado secretário da Faculdade, pelo Mestre Soriano Neto, permanecendo por longos nove anos exercendo as pesadas, mas honrosas tarefas daquele cargo. Foi o começo de tudo na minha vida profissional.

Em 1970, levado pelas mãos amigas do dinâmico prefeito do Recife, Dr. Geraldo Magalhães, fui secretário de Educação e Cultura da Cidade do Recife.

Em seguida, fui chefe de gabinete da Secretaria do Governo do Dr. Eraldo Gueiros, da qual era titular o brilhante homem público, hoje ministro do Tribunal de Contas da União, meu fraterno amigo Marcos Vinícios Vilaça.

Em sucessivo, ao lado do exercício da Advocacia, sempre que foi compatível, fui diretor administrativo da Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, levado pelas mãos do eficiente Fernando Freyre, seu presidente e meu amigo fraterno.

Em 1977, fui advogado e gerente administrativo da Cohab-PE, tendo trabalhado com leais companheiros como Leocádio Morais, sob o comando amigo e competente de Inaro Fontan Pereira, José Jorge de Vasconcelos, José Cláudio Pontual Duarte e Paulo Queiroz.

No começo da administração do prefeito Gustavo Krause, assessorei administrativamente a Empresa de Obras, hoje Emlurb, a qual ajudei a consolidar-se, formal e materialmente, ao lado de velhos amigos como Francisco Lins, José Mário Duarte Coelho, entre outros, sob a coordenação do secretário de obras, o competente Pedro Dueire.

Em 1981, fui alçado pelo contemporâneo de Faculdade e diletíssimo amigo Marco Maciel a assumir a presidência da Fundarpe.

Em 1983, fui nomeado pelo meu fraterno amigo Roberto Magalhães presidente da Fiam, entidade que tinha a missão de assessorar os municípios do interior, elaborando projetos, orientando nas prestações de contas, e viabilizando recursos. Exemplo desse trabalho foi o Projeto Mandacaru, criação do Governador Roberto Magalhães e que foi responsável pela realização de pequenas grandes obras em todos os municípios interioranos.

Tivemos o apoio da Sudene, que era comandada por Walfrido Salmito, grande exemplo de administrador.

Em 1984, o grande homem público Roberto Magalhães me fez secretário de Justiça, e a Fiam a que eu presidia saiu da área de planejamento e aquele órgão passou a ser Secretaria de Interior e Justiça.

No governo Gustavo Krause fui secretário da Casa Civil.

A partir daí, voltei à advocacia, às funções de procurador judicial e ao magistério na Faculdade de Direito do Recife.

Em 1988, eu que nunca pensei em ser político, fui levado a ser candidato a vice-prefeito do Recife, por gesto amigo de Joaquim Francisco, numa trama urdida por ele e Roberto Magalhães: coisa de amigos.

De abril de 1990 a 31 de dezembro de 1992, fui, com muito orgulho, prefeito do Recife, dando continuidade ao dinâmico trabalho de Joaquim Francisco. Sobre minha passagem, as ações, creio, não foram esquecidas, pois ainda hoje há uma seqüência delas. Ao grande programa de macrodrenagem, iniciado por Joaquim Francisco dei especial atenção. E os governos subseqüentes continuaram esse importante trabalho. Merecem menção a revitalização do centro do Recife, o trabalho editorial do período com a assessoria competente do amigo escritor Leonardo Dantas Silva, as ações no campo da cultura, e o projeto de revitalização do Bairro do Recife, para o que contei, e muito, com a dedicação e apoio amigo de Luiz Otávio Cavalcanti e Gustavo Krause, ambos secretários do Governo de Joaquim Francisco, entre outros abnegados.

Sou muito grato aos vereadores do Recife pelo apoio e confiança nas decisões firmes em que fomos fiéis parceiros pelo bem da cidade.

Fica só nisso: não se trata de uma prestação de contas.

Como se vê, toda a minha vida pública foi voltada para ações executivas.

Concorri duas vezes à Assembléia Legislativa e estou no término do segundo mandato.

Em razão, todavia, da hipertrofia do Executivo, em todas as esferas de poder, sinto-me impotente para colaborar, como gostaria, no crescimento de Pernambuco, pois os parlamentares ficam isolados na elaboração das propostas, sem qualquer ingerência na formulação das macrodecisões.

Na Assembléia, cumpro minhas obrigações em sua plenitude. Tenho consciência do relativo domínio das questões essenciais do Estado. Adoto postura crítica e posições firmes, sempre as pautando na minha consciência ético-jurídica.

Por oportuno, julgo valioso ser o presidente da Comissão de Educação e Cultura, que tem, também, obviamente, funções administrativas.

Por outro lado, a Escola do Legislativo, Professor José Joaquim de Almeida, cuja criação foi projeto de minha iniciativa, com o apoio unânime dos deputados, é uma realidade palpável, já sendo vista como modelar, entre as congêneres do País.

Dentre os cursos, ministrados a parlamentares e funcionários da Casa, o de capacitação, de técnica legislativa, Direito Administrativo, orçamento, informática, telecurso ensino fundamental e médio, Direito Financeiro ( parceria com a atuante Escola de Contas do TCE); redação, políticas públicas, planejamento estratégico, inglês, com vasta programação em pleno andamento. As próximas gerações irão testemunhar o acerto da Assembléia.

Se nada tivesse eu feito como parlamentar, a Escola, só ela, me dá a dimensão de que meus mandatos não foram em vão.

Devo dizer que, no Legislativo, tenho o respeito dos colegas deputados de todos os partidos, dos servidores, todos eles, de tudo tirando lições, as quais guardarei, com muito respeito, por toda a minha vida, testemunho de sólida amizade e no pressuposto de recíproca confiança.

Eu sou, realmente, um homem de sorte. Deus tem sido muito bom comigo, o décimo filho de Julião Paulo, primeiro carteiro de Palmeira dos Índios, minha pátria menor. Quando aqui cheguei em 1958, trazendo ” a coragem e a cara” e sem cartas de apresentação.

Cheguei e fui ficando.

O que vai acontecer? Deus proverá.

Repito o grande José Américo de Almeida: ” Não tenho medo de subir, nem medo de descer. De cima, saberei o que se passa em baixo; de baixo, aprenderei a viver em cima.” Como Graciliano Ramos, que foi prefeito de Palmeira dos Índios, tenho evitado ” emaranhar-me em teias de aranha.” Ainda como o velho Graça “devo ter cometido numerosos disparates. Todos os meus erros, porém, foram da inteligência, que é fraca.” Vou sentir falta do convívio dos companheiros da Assembléia.

O jornalista Aldo Paes Barreto, escreveu sob o título: ” UMA ADMINISTRAÇÃO DO MEU RECIFE “, ( Jornal do Commercio do dia 15.02.02 ). O Deputado Ulisses Tenório, a esse propósito, requereu fosse o mesmo inserido nos Anais da Casa.

Aldo é amigo caríssimo que, ao lado dos talentosos Marcus Accioli e Cussy de Almeida, foi membro da equipe comandada por Marcos Vilaça a qual integrei honrosamente.

Deputados presentes àquela sessão foram à Tribuna, tentando convencer-me a concorrer à reeleição, o que resultou em apartes muito candentes e de forte poder de persuasão, dos deputados e amigos André Campos, Tereza Duere, Carlos Lapa, João Braga, Hélio Urquisa, Romário Dias e Antônio de Pádua ( Toquinha ).

Sensibilizou-me bastante o artigo do médico, teatrólogo, membro da Academia Pernambucana de Letras, homem múltiplo que é Reinaldo Oliveira, publicado em 28.02.02, na Folha de Pernambuco, sob o título: ” GILBERTO MARQUES PAULO “.

Calou-me profundamente pelo seu conteúdo impregnado de grande generosidade.

Grato, do fundo do meu coração, a todos os pernambucanos, especialmente aos meus amigos, que são muitos, aos meus eleitores, à imprensa de Pernambuco, aos assessores que colaboraram com minhas ações no curso desses anos todos”.