Gestores discutem prevenção a eventos climáticos extremos

Em 04/06/2024 - 17:06
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PAINEL – Audiência pública debate desafios impostos pelas mudanças no clima durante a Semana do Meio Ambiente. Foto: Roberta Guimarães

O colapso climático é uma realidade, e a ocorrência de novas tragédias ambientais é uma questão de tempo. Diante desse cenário, apresentado durante audiência pública promovida pela Comissão de Meio Ambiente nesta terça (4), participantes debateram medidas de prevenção aos efeitos de eventos naturais extremos em Pernambuco. O encontro integra a programação da Semana do Meio Ambiente na Alepe.

Rio Grande do Sul

PREVENÇÃO – Para Luciano Duque, enchentes no Rio Grande do Sul demonstram a urgência do tema. Foto: Roberta Guimarães

O recente caso das chuvas no Rio Grande do Sul – que afetou 475 municípios, deixou mais de 580 mil pessoas desalojadas e 172 mortes confirmadas até o momento – foi o que motivou a audiência. Vice-presidente do colegiado, o deputado Luciano Duque (Solidariedade) entende que o desastre desperta a atenção para questões ambientais.

“Essa tragédia liga o alerta sobre o quanto estamos preparados para lidar com a crise climática. Precisamos nos apropriar dessa discussão”, avaliou.

ALERTA – Rosa Amorim relembra tragédia de 2022 no Grande Recife e atenta para população vivendo em áreas de risco. Foto: Roberta Guimarães


Rosa Amorim (PT), que solicitou o debate, ressaltou que Pernambuco também está exposto a esse tipo de evento e lembrou a tragédia das fortes chuvas de 2022.

“Foram 133 mortes, e mais de 2 mil pessoas ainda não voltaram para casa. Hoje nosso estado tem pelo menos 1 milhão de pessoas vivendo em áreas vulneráveis”, afirmou a parlamentar.

Ações

BARRAGENS – Marcelo Asfora enfatiza a retomada de obras como medida preventiva contra enchentes. Foto: Roberta Guimarães

Representantes do Poder Executivo apresentaram iniciativas da gestão para prevenir os desastres. O secretário executivo de Recursos Hídricos e Saneamento de Pernambuco, Marcelo Asfora, frisou que já passamos do ponto de não retorno, ou seja, a situação é irreversível. “O que podemos fazer é tentar nos adaptarmos e evitar que o quadro piore”, pontuou.

Ele indicou a retomada de obras de barragens como uma prioridade do Governo atual para proteger os municípios de eventuais enchentes. “Trabalhamos para a retomada e conclusão das barragens de Panelas II, Gatos e Igarapeba, na Mata Sul, e Barra de Guabiraba, no Agreste Central”, informou o secretário.

Diretora presidente da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), Suzana Montenegro expôs os esforços do órgão no trabalho de previsão e monitoramento meteorológico. Ela destacou ainda que a Apac coordena o Programa Estadual de Revitalização de Bacias Hidrográficas. “Se não pensarmos em conservação da água e do solo, em práticas sustentáveis, teremos o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Esse é um programa participativo, e eu convido todos a se envolverem”, informou a gestora.

Vulnerabilidade

DESIGUALDADES – Maior impacto dos eventos climáticos extremos nas comunidades periféricas foi destacado por João Paulo. Foto: Roberta Guimarães

O fato de as pessoas socialmente vulneráveis serem as mais atingidas por eventos climáticos extremos recebeu destaque em diversas falas, como a do deputado João Paulo (PT). “Essas ocorrências afetam, primeiro, as áreas de periferias, onde mora uma população que, muitas vezes, foi expulsa dos centros urbanos e passou a ocupar áreas de risco. A chuva cai em diversos bairros, mas quem morre são os pobres, periféricos e, na grande maioria, pretos”, analisou.

Nos próximos 50 anos, 17 milhões de pessoas devem deixar a América Latina por razões climáticas, segundo o Banco Mundial. O dado foi apresentado pelo Coordenador de Mobilização Social do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, Carlos Magno. Ele apontou a educação como uma das ferramentas para auxiliar o enfrentamento do colapso do clima. “Pernambuco deve investir em educação climática. Não são apenas os governos que devem discutir essas questões. Toda a população precisa entender os riscos a que estamos submetidos”, considerou.

Professora do Departamento de Ciência Florestal da UFRPE, Isabelle Meunier destacou a necessidade de preservar áreas verdes para evitar enchentes. “Precisamos de ambientes naturais que contenham água. Recife tem esse potencial, nós vivemos em uma cidade-esponja. Temos que preservar essas áreas, em vez de avançar sobre elas, como tem sido feito ao longo dos anos”, observou.

Recursos

GOVERNO – Secretária de Meio Ambiente, Ana Luiza Ferreira destaca ações contra o desmatamento. Foto: Roberta Guimarães

Coordenadora das promotorias de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Belize Câmara fez um apelo para que os deputados estaduais não afrouxem a legislação ambiental. Ela também mostrou razões econômicas para cuidarmos do meio ambiente. “Na tragédia de 2022, os danos econômicos foram de R$ 2,9 bilhões. Segundo estudo da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Ana), para cada R$ 1 investido em prevenção, outros R$ 661 são economizados”, ressaltou.

Pernambuco passa por uma reforma institucional, com o intuito de ampliar a fortalecer o cuidado com o meio ambiente. Foi o que informou a secretária da pasta, Ana Luiza Ferreira. A gestora afirmou que o Governo está elaborando um decreto de regulamentação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação, para aplicar R$ 200 milhões de recursos de compensação ambiental, que estão reservados para investimentos desde 2013.

Desmatamento

A secretária também celebrou a redução dos índices de desmatamento em Pernambuco, divulgados pelo Relatório Anual de Desmatamento. Somente na caatinga, a queda foi de 35%, em 2023. Ana Luiza Ferreira anunciou, ainda, o lançamento do Movimento Plantar Juntos, na quarta (5), quando é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente. “Temos como meta básica o plantio de 4 milhões de árvores, em parceria com os municípios e toda a população, que pode participar por meio de um aplicativo”, contou.

Questionada sobre as obras da Escola de Sargentos do Exército, prevista para ser instalada na Área de Preservação Ambiental (APA) Aldeia Beberibe, na Região Metropolitana do Recife, ela destacou que o projeto é do Governo Federal, não depende de licenciamento do órgão estadual e que o Ibama, outro órgão federal, é o responsável por autorizar a supressão vegetal. A secretária também ressaltou que, após a atuação de um Grupo de Trabalho, criado por iniciativa da governadora Raquel Lyra, a previsão de desmatamento da obra baixou de 188 para 90 hectares, e que o Executivo estadual segue acompanhando o projeto.