
LUTA – A presidente do colegiado, Dani Portela (centro), manifestou solidariedade ao pai de Assange. Foto: Roberto Soares
Diante do pai do jornalista Julian Assange, a Comissão de Cidadania da Alepe afirmou nesta sexta (1º) o compromisso com a defesa dos direitos humanos e a liberdade de imprensa. A escuta foi realizada em uma reunião extraordinária do grupo parlamentar, como parte da campanha mundial pela libertação do fundador do site WikiLeaks. Na ocasião, John Shipton agradeceu o apoio do governo brasileiro e pediu que o tema seja levado aos organismos internacionais que reúnem países latino-americanos (ver entrevista exclusiva no final).
Para Shipton, o caso envolve o direito ao conhecimento, garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além disso, ele apontou violação de garantias judiciais como o devido processo legal e qualificou como “um escândalo” a retirada à força de Assange da embaixada do Equador em Londres para ser preso, em 2019. Atualmente, ele segue detido na Inglaterra.
“Julian simboliza uma preocupação profunda entre as pessoas que constituem as nações do mundo. O apoio a Julian tem se tornado mundial. Os presidentes de nações da América Latina, como Bolívia, Chile, Brasil, Argentina, El Salvador, Colômbia e México tem oferecido seu suporte a ele”, disse ele, agradecendo às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor do ativista.
Julian simboliza uma preocupação profunda entre as pessoas que constituem as nações do mundo”.
Presidente do colegiado, a deputada Dani Portela (PSOL) citou a tortura psicológica a que Assange tem sido submetido, que pode se agravar em caso de extradição para os Estados Unidos. Ela expressou solidariedade ao pai do ativista, manifestando que a luta dele é “de todos que lutam contra violações de direitos humanos”. A parlamentar afirmou que considera Julian Assange um preso político.
“A acusação de espionagem não pode ser aplicada ao jornalismo investigativo por ferir o direito humano à comunicação e à verdade. A prisão de Assange é a ponta do iceberg de um projeto de ameaça e silenciamento contra a imprensa. A liberdade de expressão no mundo inteiro vem sendo ameaçada com este caso”, afirmou.

DEPUTADOS – João Paulo quer o apoio do Plenário da Alepe ao pleito do pai de Assange. Foto: Roberto Soares
Ao final, a comissão decidiu, como encaminhamentos, enviar a ata da reunião para a Presidência da República, o Ministério dos Direitos Humanos e às embaixadas de Inglaterra e Equador. Por sugestão do deputado João Paulo (PT), uma proposição será levada ao Plenário da Alepe, para que essas medidas de apoio se deem em nome de todo o Legislativo, e não apenas da Comissão de Cidadania. “Essa audiência traz o drama de um pai cujo filho fez um trabalho de identificação de crimes e foi penalizado”, avaliou o petista.
O vereador do Recife Ivan Moraes (PSOL) considerou que “Assange deveria ser tratado como um herói, e não como um bandido”. Durante a atividade, houve manifestações de militantes ligados ao PT e a movimentos sociais em apoio ao jornalista.
Sobre Assange
Jornalista, ativista e programador de computador, o australiano Julian Assange criou, em 2006, o site WikiLeaks. Alegando o objetivo de promover transparência e prestação de contas, a plataforma permite a fontes anônimas vazar documentos confidenciais e informações sigilosas de governos, empresas e outras organizações.
Em 2010, o WikiLeaks divulgou comunicações diplomáticas e registros militares dos Estados Unidos relacionados às guerras no Iraque e no Afeganistão. Essas publicações geraram um grande impacto político e diplomático, levantando questões sobre segurança nacional, liberdade de imprensa e privacidade.
No ano de 2012, ele buscou refúgio na embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia, onde enfrentava acusações de agressão sexual, que ele negou. Ele permaneceu na embaixada por quase sete anos, até ser preso pela polícia britânica em abril de 2019, após o Equador revogar seu asilo.

FILME – A trajetória de John Shipton foi registrada no documentário Ithaka – A Luta de Assange. Foto: Divulgação
Ele também enfrenta acusações nos Estados Unidos, onde é acusado de conspiração para cometer invasão de computadores e espionagem devido à sua colaboração com Chelsea Manning, uma ex-analista de inteligência do Exército dos EUA.
A campanha liderada pelo pai de Assange tem percorrido vários países. Ele busca a extinção do processo, que está na última instância da Suprema Corte inglesa, e a recusa da extradição solicitada pelos Estados Unidos. A visita a Alepe ocorre um dia após a exibição do filme Ithaka – A Luta de Assange, com debate aberto ao público, no Teatro do Parque, no Centro do Recife. Além da capital pernambucana, a obra percorreu Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.
Confira entrevista exclusiva para a Alepe:
John Shipton: “eu continuo seguindo em frente”

DIREITOS – Para John Shipton, a causa de Assange é fundamental para a liberdade de imprensa. Foto: Roberto Soares
O senhor vem aqui como ativista e pai de um ativista, numa questão complexa que envolve liberdade de imprensa e direitos humanos. Qual é o principal objetivo desta campanha no Brasil?
Primeiramente, agradecer pelo apoio que o presidente Lula deu a Julian em fóruns internacionais e em conferências de imprensa. Isso é muito importante. A gratidão é importante. O outro objetivo é continuar pedindo apoio a Julian e que as instituições do Estado usem sua influência na Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), Mercosul, Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América) ou na Corte Interamericana de Direitos Humanos para levar adiante os esforços de Julian em busca da liberdade.
E além do Brasil, algum outro país tem apoiado essa causa?
O México tem sido maravilhoso.
Você acredita que a extradição pode ser negada ou que ele obtenha asilo político?
Acredito que sim. Acredito que está dentro das possibilidades de os Estados Unidos reconsiderarem as acusações com base na Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que estabelece que o governo não fará leis reprimindo a liberdade de expressão. Isso é um aspecto fundamental da Constituição dos Estados Unidos que é valorizado por todos no mundo. Admiramos esse aspecto dos Estados Unidos, a Declaração de Direitos e a Primeira Emenda.
Mas se essa extradição acontecer, a que tipo de riscos você acha que ele estará sujeito?
Acho que vão matá-lo.
As pessoas dizem que ele poderia enfrentar uma condenação a 175 anos de prisão.
Sim, mas, você sabe, isso seria matá-lo. É a mesma coisa que uma sentença de morte.
Qual é a sua avaliação da campanha até agora? Vocês têm recebido apoios importantes de outras organizações?
O apoio global a Julian tem sido magnífico. Todos os países que têm um parlamento têm um grupo de apoio a Assange. Alguns, como o da Grécia, têm um terço do parlamento apoiando Julian Assange. Na Austrália, cerca de 25%. O mesmo no Brasil, México, França, Alemanha, Reino Unido, Suécia e assim por diante. Em todos os lugares do mundo, as pessoas anseiam pela integridade moral que Julian demonstrou e se revoltam com demonstrações de injustiça.
Especificamente, qual é a importância dessa causa para a liberdade de imprensa?
É fundamental para a liberdade de imprensa. A Declaração Universal dos Direitos Humanos garante o direito ao conhecimento. Todo ser humano tem o direito ao conhecimento desde o nascimento. Isso é fundamental. A imprensa livre nos permite ter acesso ao conhecimento e construir uma compreensão do que é melhor para nossas famílias e como podemos contribuir para a formulação das políticas do governo.
E qual é a importância do trabalho do WikiLeaks ao divulgar esses documentos, revelando esses crimes, crimes de guerra?
É um evento extraordinário em 2010, 2011, 2012, que permitiu ao mundo inteiro entender a Guerra do Iraque, um grande crime de guerra, a Guerra do Afeganistão, outro crime de guerra, e os telegramas diplomáticos, que nos permitiram entender como os Estados Unidos agiram diplomaticamente subvertendo movimentos nacionais e subvertendo a soberania das nações que compõem a América Latina.
Como pai, como você foi afetado por essa situação?
Eu apenas continuo seguindo, sabe. Continuo seguindo em frente, seguindo em frente.