Governo do Estado explica situação de UTIs à Comissão de Saúde

Em 29/04/2020 - 21:04
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CONVITE – Secretário-executivo de Regulação da Secretaria de Saúde, Giliate Coelho Neto participou da reunião e tirou dúvidas dos parlamentares. Foto: Reprodução/Nando Chiappetta

Das 423 vagas de UTI da rede pública reservadas para casos suspeitos e comprovados de Covid-19, 413 – 98% delas – já estão ocupadas. Foi o que ressaltou o secretário-executivo de Regulação da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Giliate Coelho Neto, ao participar da reunião virtual da Comissão de Saúde da Alepe realizada nesta quarta (29). Ainda segundo o gestor, a necessidade desses leitos pode variar de 800 a dois mil pacientes até o final de junho, no pior cenário apontado por projeções epidemiológicas. Ele enfatizou como caminho a intensificação das medidas de isolamento social.

Na avaliação de Coelho Neto, o aumento no número de internações, tanto em UTIs como em leitos ambulatoriais, indica que Pernambuco se encaminha para uma situação “dramática” no combate ao coronavírus. “No dia 28 de março, tivemos 13 internações de casos suspeitos. Um mês depois, em 28 de abril, foram 123”, observou. “ Conseguimos abrir mais de mil leitos em 40 dias, incluindo UTIs e outros. Mas, se seguirmos com a média de mais de 90 internações por dia, observada em abril, em apenas dez dias todos esses novos leitos serão ocupados.”

De acordo com o representante do Governo Estadual, diversos estudos independentes apontam um pico da doença entre os próximos dois meses. “Num cenário com 50% de isolamento social, chegaríamos a esse ápice em meados de maio, mas a situação se manteria até 30 de junho, com a necessidade de duas mil UTIs até essa data”, declarou, citando números do Comitê Científico do Consórcio Nordeste. Pesquisas preveem que cidades do Interior, como Salgueiro (Sertão Central), devem ser atingidas mais intensamente pela pandemia nas próximas semanas. 

“Um isolamento de 50% não é baixo, mas pode não ser suficiente para evitar uma situação dramática”, prosseguiu o secretário-executivo. “Não conseguimos aumentar esse índice. Tanto há uma dificuldade social intrínseca da população mais pobre, como também a mensagem pode ter ficado confusa, diante do que é passado pelo Governo Federal”, avaliou Coelho Neto. “Estudos da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de fevereiro mostravam o pico para o final de abril, mas, com o isolamento social, conseguimos achatar essa curva e ganhar algumas semanas, o que pode ter salvo cerca de duas mil vidas”, acrescentou.

CRÍTICA – Clarissa Tércio disse que Estado  deixou de informar idade e casos com comorbidades, o que reforçaria a tese do “isolamento vertical”. Foto: Reprodução/Nando Chiappetta

O gestor ainda apresentou o impacto que o isolamento social pode ter no futuro. “Se ele atingisse os 60%, poderíamos diminuir a pressão sobre o sistema partir do início de junho. No cenário mais otimista, com 75%, já teríamos a redução dos casos a partir da metade de maio, até chegar a 30 de junho precisando de 265 leitos de UTI”, explicou. 

Mão de obra – Coelho Neto relatou alguns dos gargalos enfrentados para expandir o atendimento. Segundo ele, apesar das tratativas do Estado para adquirir mais respiradores com fornecedores da China, tanto a rede pública como a privada encaram um risco de “apagão” na mão de obra de profissionais de saúde. “Chegamos a contratar técnicos de enfermagem da Paraíba e de Alagoas. Mesmo o sistema privado tem dificuldade em contratar médicos com experiência ou formação para trabalhar em UTIs”, citou.

Em razão disso, ele acredita que a flexibilização da validação de diplomas de médicos formados no Exterior – caso, por exemplo, de cubanos que participavam do Programa Mais Médicos e que ainda se encontram em Pernambuco – deve ser considerada. “Alguns desses profissionais têm, inclusive, experiência em emergências epidemiológicas internacionais”, registrou o gestor. 

Alguns detalhes técnicos também foram esclarecidos. Sobre a precisão do diagnóstico laboratorial da Covid-19, Coelho Neto frisou que o índice de falso negativo chega a 40%. “Ou seja, de cada dez pacientes, quatro não são detectados. É uma limitação tecnológica do melhor exame disponível”, afirmou. “Por isso, dos 413 casos que temos em UTIs no momento, 130 foram confirmados e o resto está esperando resultado de exame, ou deu negativo. Mas em todos os pacientes é enfrentado um quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), que é como a doença se apresenta clinicamente nos casos graves”, explanou.

Questionamentos – O secretário-executivo de Regulação respondeu a algumas indagações de parlamentares. Clarissa Tércio (PSC) questionou se o número de leitos anunciado pelo Governo dizia respeito a novas vagas de UTI ou incluía as que já existiam anteriormente. “Foram anunciadas mais de 40 vagas no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), mas eu fui lá e verifiquei que apenas 20 são realmente novas”, expôs a deputada. Coelho Neto explicou que o número citado por ele se refere a vagas de UTI reservadas exclusivamente para a Covid-19, que, no caso do Huoc, foram obtidas com o adiamento de cirurgias eletivas. “Mas a maioria das vagas para essa doença foram criadas agora”, assegurou. 

ANÁLISE – Para Isaltino Nascimento, isolar só uma parte da população não funciona: “Isso é uma ‘jabuticaba’, algo que só se discute no Brasil e não faz sentido”. Foto: Reprodução/Nando Chiappetta

Clarissa Tércio também pontuou que o Estado teria deixado de informar a idade e os casos de pacientes internados que têm comorbidades, o que, na opinião dela, reforçaria a tese do chamado “isolamento vertical”. O gestor informou que, de todos os internados em enfermarias e UTIs, 53,2% têm mais de 60 anos. A ideia de “isolamento vertical” foi criticada pelo líder do Governo, deputado Isaltino Nascimento (PSB): “Isso é uma ‘jabuticaba’, algo que só se discute no Brasil e não faz sentido”. 

Simone Santana (PSB), Priscila Krause (DEM) e Jô Cavalcante, do mandato coletivo Juntas (PSOL), indagaram Coelho Neto sobre a possibilidade de utilizar vagas de UTI do setor privado não conveniado com o SUS. O secretário-executivo lembrou que o Governo deve apresentar, na semana que vem, uma regulamentação sobre a questão, em diálogo com o sindicato dos hospitais privados. “Já estamos utilizando vagas em alguns, doadas por iniciativa dessas unidades, que estão em constante contato com o Executivo”, declarou. “Nem todas as vagas de hospitais particulares podem ser usadas. Elas precisam estar isoladas de outros setores, para evitar contaminação.”

Antonio Fernando (PSC), Dulcicleide Amorim (PT) e a presidente da Comissão de Saúde, Roberta Arraes (PP), debateram com o gestor a situação do combate à doença no Interior, particularmente no Sertão. Coelho Neto deu esclarecimentos sobre as regiões do Araripe e do São Francisco, e apresentou sugestões para prefeituras menores. “Recomendamos, por exemplo, que atendimentos dos Programas de Saúde da Família sejam feitos em locais abertos, para evitar contaminação. Os municípios também poderiam adquirir oxímetros para avaliar a capacidade respiratória dos pacientes”, indicou.