Ceasa é o portão de entrada das drogas no Recife, diz CPI A CPI do Narcotráfico e da Pistolagem confirmou ontem a interligação do tráfico de maconha e cocaína na rota Recife/Caruaru. O depoimento do preso José Mariano da Silva, acusado de tráfico de drogas pela Polícia Federal, mostrou que o portão de entrada na capital se dá através da Ceasa. “Essa rota deverá ser analisada pela polícia, uma vez que o depoente declarou que o transporte da droga é feito pelos caminhoneiros”, afirmou Antônio Moraes (PSDB).
Apesar de não ter informado nomes dos envolvidos no esquema da droga, José Mariano confirmou à CPI que possuía armas e coletes à prova de bala em seu sítio, em Brejo da Madre de Deus. No local, existia um buraco onde era escondida a droga. Além disso, ele reconheceu que utilizava uma casa no bairro do Ibura, no Recife, para armazenar as drogas, que eram comercializadas na Ceasa.
“Trata-se de um elemento perigoso, que já foi preso várias vezes e tem um filho envolvido em assaltos e outro no tráfico e na pistolagem”, resumiu Moraes.
A CPI também ouviu ontem Adalberto Alves Filho, conhecido como “Beto de Nuca”, acusado de pistolagem na região de Serra Talhada. Ele negou envolvimento em aproximadamente 15 crimes dos quais é acusado. Disse também que não tem conhecimento sobre tráfico, embora tenha reconhecido ter ouvido falar do envolvimento de integrantes da família Gaia – através do vereador Edmundo- no crime. Informou também que reconhece como pistoleiros em Serra Talhada os integrantes da família Novaes (Deneilson, Noguinha, Clodo, Djair) e Ferraz (Mauro, Stênio).
O tenente da Polícia Militar Carlos Roberto da Silva Júnior também prestou depoimento. Ele está preso sob acusação de participação em grupos de extermínio e de envolvimento na morte de um vereador do Cabo.
Segundo o presidente da CPI, deputado Pedro Eurico (PSB), Carlos Alberto trouxe várias denúncias sobre a ligação de PMs com o narcotráfico, crimes de tortura e corrupção. O deputado informou que a CPI vai agir com cautela diante das afirmações do tenente, já que pesam sobre ele várias acusações. O depoimento foi tomado em caráter reservado.
Na tarde de ontem, a Comissão também ouviu duas testemunhas: o austríaco Werner Rydl e o alemão Werner Walter. Eurico explicou que a CPI obteve informações de que os estrangeiros estariam ligados a empreendimentos que operam de forma ilegal. Mas ressaltou que as denúncias ainda não foram confirmadas.
O alemão Walter, que foi sócio-fundador de uma importadora de bebida, disse que o empresário Edsá Sampaio, que tinha participação na importadora, deu um desfalque de R$200 mil. O fato ocorreu após uma viagem de Walter a Portugal, motivada pelas ameaças de morte sofridas pelo depoente. Ele contou ainda que, no período em que esteve fora do país, Sampaio falsificou o contrato social da importadora, passando a parte do depoente para seu nome. A Delegacia de Defraudações. abriu inquérito baseada nessas informações. A CPI intimou o empresário Edsá Sampaio, que não foi localizado. De acordo com Pedro Eurico, será feita a condução coercitiva do empresário, caso este não compareça para depor.
Os deputados também ouviram o depoimento de Sílvio Pontual, dono dos bares Downtown e Alcatraz, no Recife. A CPI recebeu denúncias de que os bares servem como ponto de distribuição de crack e cocaína. O empresário se limitou a dizer que nunca soube de nenhuma transação com drogas nos estabelecimentos. (Ana Lúcia Lins/Carolina Flores)