Famílias fazem acordo histórico na Assembléia A Assembléia Legislativa foi palco ontem da celebração de um acordo inédito para marcar o início do processo de pacificação entre as famílias Araquan/Gonçalves e Benvindo/Cláudio/Russo. Estas famílias se enfrentam há 17 anos, em Belém de São Francisco, Cabrobó e outros municípios, resultando num saldo de mais de 60 mortos. A CPI do Narcotráfico e da Pistolagem intermediou o entendimento iniciado em julho e que teve ampla colaboração da igreja católica, através da Diocese de Floresta.
Após destacar a importância histórica do ato de pacificação, o presidente da CPI, deputado Pedro Eurico (PSB), convocou os chefes das famílias Rogério Carvalho (Araquan/ Gonçalves), José Neto (Benvindo) e Cristian Barná Medeiros (Russo) para assinarem o termo de compromisso, assinalando a disposição de buscar a paz.
Os três discursaram para galerias lotadas de familiares, justificando a necessidade do entendimento. “Todas as famílias sofrem com este conflito, onde inocentes morrem. Conversei com pessoas com as quais não falava há muito tempo e senti força e coragem para se chegar a um acordo”, afirmou José Neto. “Chegou a hora de fazermos o acordo de paz, o momento é positivo para acabar com a violência”, afirmou Rogério Carvalho. “Precisamos perdoar e sermos perdoados para acabar com o conflito e podermos trabalhar em paz”, completou Cristian Barná.
Até este momento tudo indicava que o acordo seria celebrado sem nenhuma contestação. Mas, as divergências afloraram quando os detentos dos dois lados fizeram exigências para assinar o documento. O primeiro a levantar a questão foi Osvaldo Santos (Vavá Araquan), que reivindicou o benefício da liberdade condicional e indenização das terras das família para confirmar apoio ao processo de paz. Pedro Eurico justificou que os detentos poderiam ser contemplados com benefícios previstos pela legislação e se comprometeu a tentar intermediar junto ao Incra a inclusão das terras das famílias em conflitos em programas de reforma agrária.
Presente ao encontro, o vice-presidente da CPI do Narcotráfico Federal, deputado Fernando Ferro (PT/PE) disse que o acordo precisaria ser detalhado com questões concretas. E citou a necessidade do apoio do poder público a recuperação econômica das famílias, a busca da progressão da pena e o empenho para se tentar reduzir as penas, observando-se a legislação em vigor. Eurico concordou com a sugestão e explicou que o levantamento de todos os casos será feito na continuidade do processo de paz. Com isso, Vavá assinou o termo. Porém o clima de incertezas persistiu e a audiência foi concluída sem a assinatura de dois dos detentos, Dodo Araquan e Reginaldo Gonçalves.
Também assinaram o acordo os membros da CPI, Pedro Eurico e José Queiroz (PDT), o bispo de Floresta, dom Adriano Ciocca, o superintendente da PF/PE, Zulmar Pimentel, o secretário de Governo, Dorany Sampaio, representando o governador, e o procurador-chefe do Ministério Público Federal, Joaquim José de Barros.
(Pedro Marins)