
MILITANTES – Amparo Araújo e mais 24 pessoas receberam tributos e votos de aplauso. Foto: Roberta Guimarães
A importância da memória, verdade e justiça foi tema de uma reunião solene realizada pela Alepe na noite de terça (1º), por solicitação da deputada Dani Portela (PSOL). O evento reuniu parlamentares, ativistas e entidades do movimento estudantil para reforçar a necessidade de preservar a democracia e evitar a repetição dos crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985).
Portela, que presidiu a reunião, criticou os ataques de 8 de janeiro de 2023 ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal (STF), enfatizando a luta pelos direitos à memória e à justiça.
“O nosso grito ‘sem anistia para golpista’ entende que é permanente o esforço para se construir uma democracia plena e real”, disse. “Para que a gente não esqueça, para que nunca mais aconteça, nós sempre estaremos aqui”, prosseguiu.
A parlamentar Rosa Amorim (PT) ressaltou a importância de os deputados se mobilizarem para demarcar, na Casa Legislativa, um espaço de luta pela democracia.
“O dia de hoje tem um sentimento a mais. Não é só pela história presente do nosso país, mas sobretudo pelo nosso passado. O passado daqueles que lutaram pela democracia brasileira desde o golpe de 64. É pelo nosso presente, mas especialmente sobre o futuro da nação brasileira e da nossa democracia”, expressou.
Homenageados
Delzuite da Costa Silva, ex-integrante das Ligas Camponesas — associações de trabalhadores rurais que lutavam pela reforma agrária e por melhores condições de vida no campo —, relembrou os acontecimentos do golpe militar de 1964.
“Eu olho para minhas netas, meus bisnetos e digo: ‘meu Deus, ditadura nunca mais’. Nunca mais podemos passar por uma tristeza terrível como aquela que passamos. Portanto, vamos lutar e fazer de tudo para derrotar essa onda que vem acontecendo no país e acabar com essa proposta de anistia [para os envolvidos nos atos anti-democráticos de 8 de janeiro]”, salientou.

RESISTÊNCIA – Ex-integrante das Ligas Camponesas relembra os desafios enfrentados durante a ditadura. Foto: Roberta Guimarães
Representando o Ministério Público do Estado de Pernambuco, o promotor de justiça Fabiano de Melo afirmou que a geração atual deve persistir na luta democrática, relembrando o passado. “O Ministério Público saúda a todos os familiares e organizações aqui presentes que resgatam a memória dos seus familiares, dos seus heróis”.
Aníbal Valença, representante do PCdoB, relembrou alguns dos nomes importantes na resistência do golpe, salientando a luta de quem vivenciou a ditadura. “Nós temos a obrigação de não só lembrar a memória, como também tentar honrar a luta, a vida e a dedicação daqueles que resistiram ao golpe. Se nós não fizermos isso pela memória dessas pessoas, quem o fará?”, refletiu.
O sociólogo e coordenador do Comitê Verdade, Memória e Justiça de Pernambuco, Edival Nunes da Silva Cajá, foi uma das vítimas da repressão durante a ditadura militar no Brasil. Ainda estudante da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ele foi sequestrado pelo Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), torturado e mantido em solitária por um ano. Cajá foi o último preso político libertado após a promulgação da Lei da Anistia, em 1979.
Durante a, Cajá destacou a importância da memória e da resistência daqueles que lutaram contra a ditadura. “Todos esses companheiros que enfrentaram a repressão estão sendo lembrados hoje em todas as capitais do país, na marcha do silêncio que reverbera a voz dos mortos da resistência, para que hoje pudesse ter eleições livres para presidente da República”, afirmou.
Fundadora do Movimento Tortura Nunca Mais de Pernambuco, Amparo Araújo relembrou o nome de companheiras que lutaram ao seu lado na resistência contra a ditadura e ressaltou a importância da luta contínua pela verdade e justiça:
“Nós, por tudo o que vivemos e perdemos, temos o dever e o direito de continuar nossas buscas pela verdade e pela justiça, pela consolidação da democracia e para que nosso país possa um dia, vir a ser uma nação plena de felicidade, paz e prosperidade para todos. Sem anistia para golpistas. Democracia sempre.”
A solenidade contou com a apresentação musical de Helena Cristina e a presença de manifestantes.