
CULTURA POPULAR – Artistas da ciranda pediram políticas públicas para manter viva a tradição. Foto: Amaro Lima
O Dia Estadual da Ciranda, a ser celebrado na próxima sexta (10), motivou a realização de um encontro pela Comissão de Educação e Cultura da Alepe para debater demandas específicas desse segmento cultural, nesta quarta (8).
A reunião foi solicitada pelo próprio presidente do colegiado, deputado Waldemar Borges (PSB). O parlamentar, inclusive, é autor da norma que incluiu a data comemorativa, em 2019, no calendário oficial do Estado.
Ao reconhecer a importância do dia estadual, o presidente da Associação das Cirandas de Pernambuco, Josivaldo Caboclo, destacou, já na sua fala de abertura, que a data “é muito mais do que um momento para celebração”.
“Ela representa, acima de tudo, uma oportunidade para discutir as pautas do setor”, frisou. Segundo ele, de um modo geral, a cultura popular pernambucana sofre com a falta de incentivo do poder público.
“Enquanto vemos gestores direcionando milhares de reais para custear bandas de fora, nós temos dificuldade de conseguir recursos que não chegam nem a R$ 10 mil. Isso é preconceito financeiro”, afirmou.
Josivaldo reforçou a necessidade de serem implementadas políticas públicas permanentes para manter viva a tradição da ciranda. De acordo com ele, os recursos liberados em ciclos como Carnaval e São João são insuficientes para a sobrevivência de cirandeiros e cirandeiras.
Além disso, Ricco Serafim — também da direção da Associação das Cirandas — ressaltou que, até mesmo nas grandes festas, o segmento encontra entraves. Isso porque, conforme relatou, não existem editais específicos para essa expressão cultural.
“Terminamos tendo de concorrer como artistas isolados. Só que aí fica mais difícil porque temos de disputar com nomes como Alceu Valença e Almir Rouche, por exemplo”, argumentou.

DEMANDAS – Ricco Serafim e Josivaldo Caboclo, da Associação de Cirandas, pediram editais específicos para a modalidade. Foto: Amaro Lima
Em sua participação, Mestre Bi salientou que atualmente os cirandeiros e cirandeiras “praticamente pagam para tocar” e pediu mais atenção da Secretaria de Cultura do Estado e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
Maciel Salú, por sua vez, disse acompanhar o sofrimento da cultura popular desde a infância. Filho de Mestre Salustiano, ele lamentou a falta de incentivo por parte da administração pública. “Somos Patrimônio (Cultural Imaterial do Brasil), mas não somos valorizados.”
Mestre João Goitá pediu ações concretas para ajudar o setor. O cirandeiro observou que as dificuldades dos mestres e mestras são muito grandes, e já aparecem no momento em que decidem concorrer a editais. Conforme explicou, a maioria dos representantes da Ciranda não sabe como desenvolver projetos para concorrer aos editais.
Políticas públicas

GOVERNO – Jamila Marques se colocou à disposição para colaborar com grupos culturais. Foto: Amaro Lima
Representando o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Thamires Neves explicou a forma como é feita a manutenção de patrimônios culturais imateriais. Segundo ela, desde 2021, quando houve o registro oficial da ciranda de Pernambuco, foi feito um levantamento das fragilidades do bem cultural para definição de diretrizes.
“A partir daí, essa expressão cultural passou a compor um plano de salvaguarda, do qual são parceiros estados e municípios”, esclareceu, informando que o processo de escuta dos cirandeiros continua em andamento.
Pela Fundarpe, Julia Bernardes confirmou a elaboração do plano de salvaguarda, juntamente com o Iphan. Além disso, ela também comentou o esforço da entidade para, em âmbito estadual, preservar a ciranda.
“A gente sabe que precisa ampliar os recursos, só que é importante que não apenas a Fundarpe, mas também outros órgãos contribuam para isso”, defendeu.
Coordenadora de Cultura Popular do Estado na Secretaria de Cultura, Jamila Marques disse ter assumido o cargo há uma semana com a missão de ser ponte entre os grupos culturais e o poder público.
“Tem uma necessidade muito grande de estruturar as políticas públicas, e eu estou aqui para colaborar com a construção delas”, comentou.
Encaminhamentos
As deputadas Dani Portela (PSOL) e Rosa Amorim (PT) reiteraram a importância de se desburocratizar o acesso a recursos públicos de fomento à cultura.
A psolista pontuou, ainda, ser fundamental a liberação de valores para além dos ciclos carnavalesco e junino, e condenou a disparidade no pagamento de cachês a bandas reconhecidas nacionalmente e às manifestações culturais locais.

RESULTADO – Para o deputado Waldemar Borges, escuta irá orientar ação da comissão de Educação e Cultura. Foto: Amaro Lima
A petista também criticou a falta de valorização de cirandeiros e cirandeiras. Para ela, para que haja um reconhecimento concreto, “é preciso haver orçamento suficiente”. “Não adianta apenas elaborar leis. É necessário que elas se convertam em iniciativas práticas”, complementou.
O presidente da comissão, Waldemar Borges, destacou que a escuta dos mestres cirandeiros permitirá ao grupo parlamentar cobrar do Estado melhorias nas políticas públicas em andamento.
Ainda durante o encontro, o colegiado apresentou um vídeo sobre a importância da ciranda, com a participação de vários mestres e mestras. A produção se originou de iniciativa do gabinete de Borges e contou com imagens de Luana Rocha.
“Hoje, a gente sai com o compromisso de procurar os entes públicos que promovem eventos para tentar garantir um espaço de participação mais efetivo para essa expressão cultural e outras tantas linguagens locais”, asseverou o socialista.
Reunião Ordinária
Antes de promover o debate, a comissão promoveu Reunião Ordinária, em que foram distribuídos e aprovados diversos projetos de lei.