Cultura: Comissão de Cidadania recebe propostas do setor para o PPA

Em 06/09/2023 - 12:09
-A A+

A escuta popular realizada na última terça (5) pela Comissão de Cidadania da Alepe revelou o sentimento de desamparo dos trabalhadores e trabalhadoras da cultura em relação ao poder público estadual. O evento foi parte de uma série de iniciativas do colegiado para colher sugestões destinadas ao Plano Plurianual (PPA) 2024-2027.

FOMENTO – Renata Barão criticou a burocracia para acessar editais. Foto: Giovanni Costa

Representando o Maracatu Fonte do Itaíba, de Paudalho, na Mata Norte, Renata Barão relatou o excesso de burocracia para acessar os recursos previstos em editais de fomento. “Como é que um cortador de cana que não foi alfabetizado, que passa o ano inteiro fazendo uma gola de caboclo para sair no Carnaval, vai sentar em frente a um computador e fazer tudo o que é pedido no edital?”, questionou. Mestra de maracatu, Renata acrescentou que ser mulher e negra trouxe dificuldades ainda maiores na busca por apoio do governo. Segundo ela, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) não enxerga as necessidades dos trabalhadores e grupos tradicionais do Estado.

Na avaliação da presidente da Comissão de Cidadania, deputada Dani Portela (PSOL), existe uma contradição em Pernambuco em relação ao incentivo dado aos atores da cadeia produtiva da cultura, tendo em vista que o Estado é conhecido nacionalmente pela efervescência cultural.  “Pernambuco é conhecido justamente por sua cultura, por ser esse Estado multicultural, mas não tem pensado prioritariamente nas pessoas que vivem, produzem e sobrevivem da cultura”, apontou.

NECESSIDADE – Para Dani Portela (centro), é preciso priorizar a cadeia econômica da cultura. Foto: Giovanni Costa

Oseás Borba Neto, do Grupo de Teatro João Teimoso, apontou a falta de investimentos nos equipamentos culturais. O ator e diretor defendeu a reabertura do teatro do Quartel da Polícia Militar no bairro do Derby, no Recife, espaço que se encontra fechado há 40 anos. E também comentou a situação do teatro Valdemar de Oliveira, no Centro do Recife, que foi invadido e totalmente depredado no começo do ano. 

TEATRO – Giordano Castro lamentou o mau estado dos palcos do Estado. Foto: Giovanni Costa

O ator e dramaturgo Giordano Castro, do grupo Magiluth, também participou da escuta pública desta terça. No último sábado, o coletivo teatral teve objetos e equipamentos furtados do Museu de Arte Moderna do Recife (Mamam). Castro lamentou a situação de vários espaços culturais da capital pernambucana. “Como muitos espaços na cidade estão à míngua, estão sucateados, o Mamam também foi vítima dessa situação, assim como o teatro Barreto Júnior, o teatro Apolo, que teve que cancelar espetáculo essa semana por causa de uma pane elétrica, o teatro Hermilo, que está fechado, e toda vez que fecha algum espaço, uma sala, a gente tem quase um infarto”, denunciou. 

Compondo a mesa dos trabalhos, Janaína Santos representou o setor de dança no Conselho Estadual de Política Cultural. Ela cobrou a valorização dos grupos ligados a essa linguagem artística. “Quando a gente fala de rever os cachês dos grupos culturais é porque o valor do que a gente desenvolve dentro de uma comunidade é muito grande. A gente está onde o governo não está, a gente faz o que o governo não faz. Eles deveriam enxergar isso”, afirmou. 

ECONOMIA – Carol Vergolino (esquerda) ressaltou a importância da cultura para o PIB brasileiro. Foto: Giovanni Costa

Carol Vergolino, ex-integrante do mandato coletivo Juntas, que ocupou uma cadeira na Alepe na legislatura de 2019 a 2022, também esteve presente no evento. Ela destacou que os mais de 7 milhões de trabalhadores e trabalhadoras da cultura no Brasil produzem 3,11% do produto interno bruto do País, mas não têm um orçamento adequado ao porte econômico da cadeia produtiva. “A gente não representa 1% do orçamento nem do Estado, nem do município, nem do País. O dinheiro que chega ao trabalhador da cultura, no outro dia está na rua, no mercadinho, gerando riqueza e imposto. Então, é preciso que o gestor entenda que a cultura é irmã da saúde, da educação e da segurança pública”, explicou.

A Comissão de Cidadania já realizou seis seminários regionais e cinco encontros temáticos sobre o Plano Plurianual 2024-2027. Com a participação da sociedade civil organizada, especialistas e gestores públicos, os eventos reuniram mais de 700 pessoas, e resultaram na apresentação de mais de 1500 propostas escritas ou encaminhadas pelo site da Alepe.

Ainda este mês, em data a ser definida, a Comissão de Cidadania pretende entregar um documento contendo as sugestões populares à governadora Raquel Lyra. Quem não puder participar da escuta presencialmente pode enviar as propostas em formulário específico disponível no site da Alepe.