O analfabetismo atinge 11% da população pernambucana acima dos 15 anos. O dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, a Pnad, do IBGE, mostra que estamos acima da média nacional, de 5,6%, e também revela que Pernambuco permanece estagnado no mesmo percentual desde 2018. Professores, parlamentares e gestores reunidos em uma audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Alepe, nesta quarta (23), debateram estratégias para levar e, principalmente, manter adultos em sala de aula.
O Governo do Estado quer dobrar a quantidade de estudantes da educação de jovens e adultos (EJA), segundo a gerente de Políticas Educacionais do Campo da Secretaria de Educação, Waldênia Carvalho. Ela disse que idosos pretos e pardos são os mais atingidos pelo analfabetismo, com índice que chega a 30%, mas a população-alvo inclui outros grupos. “Nós temos ainda o desafio dos assentamentos, dos acampamentos, dos povos quilombolas, dos povos indígenas e dos ciganos, com os quais a gente precisa ter um olhar muito mais cuidadoso porque são itinerantes”, explicou. A gestora também destacou a necessidade de atuação nas periferias urbanas e nos presídios. Parcerias com prefeituras e a reabertura de escolas de referência no horário noturno também foram citadas pela gerente.
Na avaliação de Ronildo Oliveira, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, o fechamento das turmas EJA observado nas escolas de referência é resultado do que chamou de política da meritocracia: com metas a bater para garantir os bônus, muitas unidades fecharam as portas para alunos fora da idade convencional. Inaldo Lucas, da União Brasileira de Estudantes, também considerou o modelo de educação integral pouco inclusivo para quem precisa conciliar estudos e trabalho.
Valorização
O Secretário de Educação de Camaragibe, Mauro Silva, trabalhou durante 10 anos no Programa Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educação. Ele acredita que a discussão precisa ir além da abertura de vagas porque mesmo no período em que o País contou com uma política nacional que atendia duas mil pessoas a cada ciclo, os resultados foram muito aquém do esperado. “A gente precisa que a educação de jovens e adultos trabalhe na perspectiva de públicos específicos, com metodologia específica, com currículos específicos, para que a gente possa dar conta e para que eles efetivamente aprendam e cresçam nesse processo”.
Mostrar ao aluno e ao professor quais mudanças a educação pode promover na sociedade é essencial na visão da representante da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação, Maria Luíza Aléssio. “O que a gente precisa oferecer para um adulto que decide, depois de um dia de trabalho, ir para uma escola, ou para uma sala de uma associação, é mostrar que ele pode ter um projeto de vida, e a gente só pode ter um projeto de vida se quem está na frente dele também acredita naquilo”, afirmou. O deputado João Paulo, do PT, que propôs a audiência pública, acredita que é preciso avançar nos debates, e incluir problemas como o preconceito e a exclusão digital, que pode aumentar o abismo entre os mais pobres e empregos melhores. Também participaram do encontro o deputado Jarbas Filho (MDB) e a deputada Dani Portela (PSOL).