Audiência discute tombamento de sítio histórico em Abreu e Lima

Em 26/06/2023 - 16:06
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PRESERVAÇÃO – A arqueóloga Cláudia Oliveira propõe a criação de um parque estadual na área. Foto: Nando Chiappetta

O tombamento do Sítio Histórico de São Bento, em Abreu e Lima (Região Metropolitana), foi debatido em Audiência Pública realizada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico da Alepe, nesta segunda (26).  Representantes dos governos municipal, estadual e federal e da sociedade civil defenderam a preservação do local, que está em ruínas. A discussão sobre o Sítio envolve aspectos históricos, de resgate da memória; ecológicos, de preservação natural; e econômicos, de disputa territorial.

URGÊNCIA – “Não podemos perder mais nenhum tijolo dessa construção”, disse o secretário Natalício Alves. Foto: Nando Chiappetta

A professora do Departamento de Arqueologia da UFPE, Cláudia Oliveira, apresentou informações sobre a área que, segundo ela, é um complexo histórico com potencial para ser um museu a céu aberto. 

“Lá a gente encontra as ruínas da Fazenda de São Bento, muito rica em história; as ruínas do Engenho Jaguaribe, um dos primeiros instalados no Litoral Norte de Pernambuco; e também o Forno da Cal, uma estrutura que fabricava o produto para a lavoura de cana-de-açúcar e poderia ser transformada em museu sobre a tecnologia da produção”, explicou a professora. A proposta dela é a criação de um parque estadual para integração e preservação de aspectos ecológicos e culturais da área. 

Moradores da região denunciaram o abandono do Sítio Histórico. Uma das estruturas, a Igreja de São Bento, foi erguida em 1660 e é considerada marco da história de Pernambuco. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Abreu e Lima, Severino Farias fez um apelo pela conservação do local. “Peço que olhem com carinho para esse monumento”, pediu. 

PROCESSO – “Tombamento não tem prazo, ele é muito elástico”, explicou Augusto Eugênio, da Fundarpe. Foto: Nando Chiappetta

O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Natalício Alves, que também participou da reunião, informou que há licitações abertas para o escoramento das ruínas da Igreja e para a reestruturação da estrada que dá acesso ao local. “Não podemos perder mais nenhum tijolo dessa construção. Ali está a história de Abreu e Lima, de Pernambuco e do Brasil”, comentou o gestor.

Entraves para o tombamento

O assessor jurídico da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Augusto Eugênio, informou que a proposta de tombamento deve ser encaminhada ao órgão.

PESQUISA – Deputado Mário Ricardo: levantamento da propriedade do terreno já foi iniciada. Foto: Nando Chiappetta

“Há uma solicitação a ser apresentada pelo presidente do Instituto, e a Fundarpe aguarda esta proposta para abrir o processo. Já passamos todas as nossas observações e estamos aguardando que se movimentem para isso. Processo de tombamento não tem prazo, ele é muito elástico”, acrescentou.

Um entrave relacionado a esse trâmite é a identificação da propriedade do terreno. Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, o deputado Mário Ricardo (Republicanos) afirmou que essa investigação está em curso. 

“O Ministério Público está fazendo esse levantamento para saber quem é o proprietário das terras. Vai fazer uma pesquisa nos cartórios de Abreu e Lima, Itamaracá, e Igarassu para descobrir. Independentemente de a quem pertença, o fato é que existem as ruínas, que têm importância histórica e precisam do tombamento, que vamos iniciar”, avaliou o parlamentar.

CONFLITOS – Poder público precisa resolver disputas sobre o terreno, alerta a senadora Teresa Leitão. Foto: Nando Chiappetta

O grande potencial histórico, cultural, turístico e de desenvolvimento do Sítio Histórico foi apontado pela senadora Teresa Leitão (PT-PE). Ela destacou as disputas sobre aquelas terras.

“É uma área privilegiada, por isso está sob conflito, com construções irregulares e especulação imobiliária. O poder público precisa ter um olhar muito forte ali para preservar o nosso passado histórico”, observou a senadora.

Massacre na Ditadura

A importância de resguardar a memória do local foi reforçada por Monsenhor Manoel Marques de Miranda, pároco da Igreja de São José, em Abreu e Lima. Ele lembrou um episódio que também ocorreu no local, em 1973. 

O caso, conhecido como massacre da Granja São Bento, envolveu o assassinato de seis integrantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) em Pernambuco, que lutavam contra a Ditadura Militar. “Deveria ser construído um monumento pelos que foram mortos ali. O povo que não conhece a própria história está condenado a repeti-la”, sugeriu o líder católico.

Também estiveram presentes na Audiência Pública representantes da Secretaria de Turismo de Pernambuco, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Câmara Municipal de Abreu e Lima.