A Comissão de Administração Pública da Alepe realizou, nesta quinta (19), uma audiência pública em Macaparana (Mata Norte) para debater a expansão da Casa Azul, um centro municipal de atendimento especializado a crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista (TEA). O objetivo do encontro foi apresentar o funcionamento da instituição e inspirar gestores municipais e estaduais a replicar o modelo em outras localidades. Ao final, a comitiva visitou a entidade.
Inaugurada em março deste ano, a Casa Azul é a primeira instituição pública voltada exclusivamente a atender pessoas com diagnóstico de autismo. Conta com uma equipe multidisciplinar de profissionais das áreas da psicopedagogia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia, que atendem 92 crianças.
Para a coordenadora do espaço e mãe de criança autista, Tatiana de Albuquerque, ter um centro especializado foi um ganho importante para os pacientes, que não precisam mais viajar e enfrentar filas em busca de tratamento em outras cidades. “Hoje a gente consegue acompanhar, de fato, essas evoluções. Assim, há qualidade de vida para as mães, porque é uma alegria ver cada conquista acontecendo por meio do desenvolvimento dos nossos filhos”, relatou.
A Casa Azul também possui um projeto de assistência e acolhimento às mães e familiares dos pacientes. Cíntia Maria da Silva, mãe de um menino de 9 anos que recebe tratamento na instituição, elogiou a abordagem humanizada no atendimento às famílias. “A gente aprende a lidar também com as crianças. As profissionais nos instruem e orientam, porque elas não estão o tempo todo com nossos filhos, nós que estamos.”
Na reunião, o neuropsicopedagogo Antônio Fábio Mansur elogiou a iniciativa, salientando que a ideia de que a pessoa com diagnóstico autista deve ficar isolada em casa é ultrapassada. “A criança precisa ser estimulada a sair, com um tratamento especializado tanto para ela quanto para a família”, reforçou.
Cenário estadual
De acordo com um relatório feito pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE), apresentado pelo auditor de Controle Externo João Francisco Alves, apenas 16 dos 185 municípios pernambucanos têm equipamentos públicos com atendimento aos vários tipos de deficiência, incluindo o transtorno do espectro autista.
O documento também aponta que 65% dos profissionais que atuam nesses locais não têm qualificação para atender pessoas com autismo. Ainda segundo o auditor, a partir dos resultados desse estudo, o TCE demandou o Governo do Estado a firmar, em abril deste ano, um termo de ajuste de gestão para realizar discussões com a sociedade civil e apresentar, no prazo de 150 dias, um plano de ação para preencher as lacunas observadas.
O evento contou com a participação de representantes de diversos municípios da região, como Machados, Nazaré da Mata, Tracunhaém e Vicência. O prefeito de Macaparana, Paulo Barbosa da Silva, conhecido como Paquinha, fez um apelo para que outros gestores municipais abracem a causa. “O apoio local promove qualidade de vida para essas famílias que ficam peregrinando para o Recife, muitas vezes sem conseguir atendimento para seus filhos, porque a fila é muito grande.”
Representando o Governo Estadual, as diretoras das gerências regionais de Saúde de Goiana e de Limoeiro, Daniele Uchôa e Anália Melo, se colocaram à disposição para colaborar. O integrante da Cavalaria da Polícia Militar, major Alexandre Arruda, mostrou um trabalho feito pela instituição, na Capital, com o uso terapêutico de cavalos para o desenvolvimento psicossocial de pessoas com deficiência ou necessidades especiais. Ele também se dispôs a realizar parcerias ou consultorias com a Casa Azul e demais municípios interessados no método.
Para o delegado do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência, Alex Oliveira, as iniciativas comentadas representam avanços importantes. Ele ressaltou a necessidade de replicar o modelo da Casa Azul em todos os municípios e engajar os gestores por meio das audiências públicas. “A partir dessas escutas, pretendemos fazer um relatório e levá-lo aos órgãos de fiscalização e controle e ao Governo do Estado, para que seja finalmente montado um planejamento de referência para a causa da pessoa com deficiência em Pernambuco”, informou.
O presidente da Comissão de Administração Pública da Alepe, deputado Antônio Moraes (PP), fez uma avaliação positiva do encontro e apontou os próximos passos a serem tomados pelo colegiado. “Vamos para outras regiões divulgar ações como essa. Queremos despertar e abrir o coração de outros prefeitos e prefeitas para aderirem a esse movimento que começou em Macaparana.”