
PREOCUPAÇÃO – Integrante das Juntas, que solicitaram o debate, Carol Vergolino pediu atenção aos mais vulneráveis: “Não podemos repetir a desigualdade social do cotidiano também na festa”. Foto: Jarbas Araújo
As incertezas relacionadas ao Carnaval 2022 em Pernambuco provocaram audiência pública na Comissão de Educação e Cultura da Alepe, nesta quinta (9). Em evento virtual, representantes do Poder Público e da sociedade civil apontaram a necessidade de se pensar um modelo alternativo de folia, coerente com o momento epidemiológico e atento às necessidades das cadeias culturais e produtivas envolvidas. O debate foi solicitado pelo mandato coletivo Juntas (PSOL).
A codeputada Carol Vergolino defendeu a participação coletiva na formulação de uma proposta que não exclua a população mais vulnerável, como trabalhadores informais e produtores de cultura popular. “O decreto do Governo do Estado em vigor permite eventos com até 7,5 mil pessoas. Que espaço vamos disponibilizar para as festas populares e o público que não pode pagar?”, indagou a psolista. “Não podemos repetir a desigualdade social do cotidiano em nosso Carnaval.”
Cultura e economia
Secretário estadual de Cultura, Gilberto Freyre Neto informou que a expectativa da Secretaria de Saúde é apresentar definições sobre o evento na primeira quinzena de janeiro, com dados epidemiológicos atualizados. No entanto, ele reconheceu a importância dos ciclos festivos para manter a vivacidade da cultura e o sustento dos trabalhadores. “Os R$ 74 milhões da Lei Aldir Blanc que Pernambuco ficou responsável por gerir, apesar de financiar uma quantidade enorme de projetos, não atende a todos”, pontuou o gestor.

SAÚDE – Secretário de Cultura, Gilberto Freyre Neto aguarda decisão, com dados epidemiológicos atualizados, na primeira quinzena de janeiro. Foto: Jarbas Araújo
“Sinto a possibilidade real de termos um Carnaval diferente, com mais controle de público, mas sem deixar os atores envolvidos completamente parados, como em 2021″, afirmou o presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Marcelo Canuto. A entidade já está promovendo atividades culturais com medidas de controle sanitário, como os ciclos natalinos de 12 municípios. “É preciso pensar em um caminho alternativo para atender à demanda desse segmento tão importante”, avaliou.
Da União dos Afoxés de Pernambuco, Fabiano Santos sugeriu a criação de uma comissão que envolva produtores culturais, autoridades da área de saúde e representantes do Poder Público a fim de elaborar esse modelo alternativo de festa. “Não podemos promover um apartheid no Carnaval, com eventos privados liberados e pequenas manifestações populares impedidas de acontecer. Ao mesmo tempo, não é concebível promovermos um Carnaval genocida”, opinou Lindivaldo Júnior, do Comitê de Salvaguarda do Frevo.
Presidente do Galo da Madrugada, Rômulo Meneses estima que 40 mil pessoas sejam diretamente afetadas caso o bloco seja cancelado, sem contar os impactos no setor de turismo, como hotéis e restaurantes. “O que o Governo do Estado vai oferecer para a nossa categoria se não houver Carnaval?”, indagou Luciana Mendonça, diretora da União Nacional dos Camelôs, Feirantes e Ambulantes do Brasil (Unicab). “Precisamos pensar de maneira horizontal para não fazermos uma festa racista e excludente”, advertiu Tássia Seabra, do Coletivo de Culturas Periféricas.
Saúde

GALO DA MADRUGADA – Rômulo Meneses estima que 40 mil pessoas sejam diretamente afetadas caso o bloco seja cancelado. Foto: Jarbas Araújo
Para a epidemiologista da Fiocruz Fátima Militão, “não há cenário seguro para a realização do Carnaval”. A especialista disse compreender a preocupação da cadeia produtiva, mas alertou que o momento ainda é de incertezas. “Nossa cultura não pode ser homicida”, opinou.
Também da Fiocruz, Paulette Albuquerque atua com a promoção de educação popular e saúde nas comunidades. Ela relatou uma difícil conjuntura de miséria na periferia do Recife. “Sabemos que a Covid-19 veio para ficar, e é possível que tenhamos que conviver com diversas variantes do vírus. É necessário criar um novo modelo que não puna quem mais precisa do Poder Público”, frisou.
Parlamentares
Presidente da Comissão de Educação e Cultura, o deputado Romário Dias (PSD) lamentou a ausência de representantes da Secretaria Estadual de Saúde, também convidados para o debate. “Vamos reunir todas as sugestões apresentadas neste encontro e encaminhar ofício para o Governo de Pernambuco”, orientou. “Com esta audiência pública, a Alepe e a cadeia produtiva do Carnaval estão sinalizando que querem contribuir com o Executivo na formulação de uma proposta”, acrescentou a deputada Teresa Leitão (PT).

PROPOSTAS – “Vamos reunir as sugestões e encaminhar ofício para o Governo de Pernambuco”, orientou Romário Dias, que preside o colegiado. Foto: Jarbas Araújo
O vereador do Recife Marco Aurélio Filho (PRTB), que preside a comissão instalada na Casa José Mariano para tratar do Carnaval da Capital, defendeu que o Poder Legislativo e a sociedade participem da discussão em torno de um modelo alternativo para a folia. A articulação também foi sustentada pelos vereadores Ivan Moraes e Dani Portela, ambos do PSOL. “Precisamos de uma decisão baseada na ciência, mas que não reproduza no Carnaval o racismo da sociedade”, advertiu Moraes. “Não queremos uma festa que segregue quem pode ou não pode pagar”, complementou Portela.