
CENÁRIO – “Adubo está muito caro, por isso emprega-se a ‘cama de galinha’”, explicou o vice-prefeito de Barra de Guabiraba, Eugênio Filho. Foto: Roberta Guimarães
Para combater a infestação de moscas-dos-estábulos não basta apenas fiscalizar: é preciso ajudar produtores agrícolas e aviários a se adequar às regras sanitárias. A posição foi defendida por representantes dos municípios pernambucanos mais afetados pela praga, em reunião presencial promovida pela Comissão de Administração Pública da Alepe na manhã desta terça (28).
Segundo especialistas em defesa agropecuária, a infestação pela Stomoxys calcitrans – que afeta, principalmente, cavalos e bois – pode ser causada por irregularidades no uso da chamada “cama de frango” ou “cama de galinha”. Composto pela mistura de palha e esterco de aviários, esse material é utilizado como fertilizante em culturas de inhame, cará e banana.
A infestação por moscas-dos-estábulos gera feridas, perda de peso e até a morte do gado bovino. As cidades de Barra de Guabiraba, Bonito, Gravatá, Amaraji e Cortês, entre outras localidades do Agreste e da Mata Sul, foram as mais atingidas. “Estimulamos o manejo e o transporte correto, mas, ainda assim, os animais da região têm sofrido bastante, assim como agricultores e pecuaristas. O adubo está muito caro, por isso emprega-se a ‘cama de galinha’”, explicou o vice-prefeito de Barra de Guabiraba, Eugênio Filho, que é engenheiro agrônomo e produtor rural.

CUIDADO – Especialistas apontam o manejo correto como solução. “Se medidas da Adagro forem cumpridas, vão minimizar o problema”, disse Fernando Miranda. Foto: Roberta Guimarães
Em audiência pública virtual realizada pela Assembleia no último dia 1º de setembro, especialistas em defesa e fiscalização agropecuária do Governo Estadual apontaram o manejo correto como solução. O esterco aviário precisa ser coberto por lonas quando transportado nas estradas. Ao ser usado como fertilizante, deve ser enterrado e passar por compostagem, entre outros procedimentos.
“Essas medidas já foram definidas em portaria da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária (Adagro) em 2014 e, se forem cumpridas, vão minimizar muito o problema”, reforçou Fernando Miranda, diretor de Defesa e Inspeção Animal do órgão.
No entanto, implantar métodos para evitar os transtornos esbarra nos efeitos da crise econômica sobre os produtores rurais. “Temos hoje agricultores com dificuldade até mesmo para concluir a colheita, por causa dos custos de mão de obra. Estamos tentando fazer com que haja um equilíbrio entre pecuária e agricultura. Também esperamos ajuda do Governo do Estado para solucionar o problema”, disse Eugênio Filho. Segundo ele e outros gestores municipais, o apoio poderia vir na forma de subsídio, assistência técnica ou pesquisa para inovar no trato com o material.
“Precisamos buscar soluções. Se os produtores tiverem que deixar de usar a ‘cama de frango’, que opção terão? Comprar um saco de adubo a R$ 120? Estamos vendo o cará sendo vendido por R$ 10 a arroba. Desse jeito, nem vão mais querer colher na roça”, afirmou o secretário de Meio Ambiente de Gravatá, Luiz José da Silva. Para ele, só a união dos municípios e uma política direcionada do Poder Executivo Estadual podem enfrentar a questão.

PESQUISA – “Problema já ocorreu em outros Estados e foi devidamente controlado”, lembrou Antônio Moraes. Foto: Roberta Guimarães
Presidente do colegiado de Administração, o deputado Antônio Moraes (PP) sugeriu alternativas para o problema da mão de obra. Ele propôs que se incentivem beneficiários do Programa Chapéu de Palha a executarem esse trabalho. “Ninguém deseja proibir a ‘cama de frango’, só estimular o uso da forma adequada, pensando no coletivo. Não queremos prejudicar nenhum setor produtivo”, salientou. “Como a questão da mosca-dos-estábulos ocorre sazonalmente, durante poucos meses do ano, e ainda está concentrada em poucas cidades, essa solução seria mais simples.”
O parlamentar enalteceu a boa vontade das entidades envolvidas na fiscalização, como o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) e a Polícia Militar. Ele também indicou a inclusão da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a fim de que auxilie pesquisas científicas sobre a relação entre a ‘cama de frango’ e o inseto. “Essa situação já aconteceu em outros Estados e foi devidamente controlada. É o que devemos fazer em Pernambuco”, concluiu.