
IGREJAS – Segundo Delegado Erick Lessa, instituições “estavam obedecendo a todos os protocolos de uso de máscaras e distanciamento social”. Foto: Roberto Soares
Restrições estabelecidas pelo Governo de Pernambuco para tentar impedir o aumento da transmissão de Covid-19 no Agreste foram alvo de debate entre os parlamentares, na Reunião Plenária desta quinta (20). O decreto proíbe comércio e atividade religiosa presencial das 18h às 5h, inclusive no fim de semana. As medidas entraram em vigor no último dia 18 e são válidas até 31 de maio.
A redução do funcionamento das igrejas foi o principal ponto criticado. Segundo o deputado Delegado Erick Lessa (PP), essas instituições “estavam obedecendo a todos os protocolos de uso de máscaras e distanciamento social”. “Foram pegas de surpresa pelo novo decreto, que praticamente impede os cultos”, lamentou. Ele disse que a determinação foi recebida com grande insatisfação por líderes católicos e evangélicos, que solicitam a revisão dos termos da norma.
Para o parlamentar, as famílias que perderam entes queridos na pandemia “precisam de socorro espiritual neste momento”. “Pedimos ao Governo Estadual que repense a edição de decretos que condicionem a liberdade de culto, presente na Constituição Federal e também garantida por lei aprovada nesta Casa tornando as igrejas essenciais”, defendeu Lessa.
O tema foi retomado por outros deputados ao longo da reunião. Clarissa Tércio (PSC) destacou que a medida foi adotada apenas uma semana após a sanção da norma estadual que autoriza atividades religiosas em situações de calamidade pública. Para ela, o texto tornou-se inócuo com a inclusão do trecho que permite ao Poder Executivo restringi-las em circunstâncias excepcionais.

DADOS – Pastor Cleiton Collins cobrou diálogo por parte do comitê científico que orienta ações de enfrentamento à pandemia. Foto: Jarbas Araújo
“O projeto original foi alterado e a matéria perdeu toda a sua essência. Muitos estão sofrendo com a morte de seus entes queridos e, nesta hora de dor e incerteza, as igrejas precisam estar abertas”, argumentou a parlamentar.
Pastor Cleiton Collins (PP) cobrou diálogo por parte do comitê científico que orienta as ações de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Também solicitou que sejam apresentados os dados que embasam as recomendações. Já William Brigido (REP) chamou atenção para o fato de que muitas pessoas, especialmente no Agreste e no Sertão, não dispõem de conexão com a internet, o que dificulta acompanharem cultos on-line. Para Alberto Feitosa (PSC), as restrições desrespeitam a vontade popular expressa na lei sobre a essencialidade de atividades religiosas.
Já a deputada Laura Gomes (PSB) sustentou que o aumento no número de casos no Agreste justifica o decreto – a região teve alta de 44% em 15 dias. De acordo com ela, “interesses eleitoreiros” estariam por trás da tentativa de “jogar a opinião pública, em especial religiosos e empresários, contra o Governo do Estado”. “Não dá para ignorar o quadro que levou o Executivo a adotar novas medidas restritivas. São vidas que estão em jogo, portanto, é preciso agir com responsabilidade.”
A socialista também reagiu a falas recentes da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, sobre uma suposta desigualdade na distribuição de imunizantes em Pernambuco. Para Laura Gomes, a cidade poderia ter muitas vacinas, “o que não ocorreu porque o Governo Federal desprezou repetidas oportunidades de compra no ano passado”. “Em momento algum, a gestora cobrou de quem repassa ao Estado”, disse.

DEFESA – Laura Gomes sustentou que aumento no número de casos justifica decreto: “Região teve alta de 44% em 15 dias”. Foto: Jarbas Araújo
Na avaliação de João Paulo (PCdoB), “o Governo pode intervir em todos os locais que estejam ameaçando a vida”. Na mesma linha, Tony Gel (MDB) pediu apoio das igrejas a medidas que preservem a saúde da população. O emedebista ainda pontuou que Caruaru só poderia receber mais vacinas com respaldo do Plano Nacional de Imunização (PNI) e a concordância de outros Estados.
Feiras
Por outro lado, Erick Lessa agradeceu ao Governo do Estado por permitir que as feiras do Polo de Confecções do Agreste funcionem às terças nos municípios de Toritama, Santa Cruz do Capibaribe e Caruaru. “Foi importante e contempla as demandas de todos, favorecendo uma recuperação do setor.”
Entretanto, para a deputada Priscila Krause (DEM), há pouca efetividade nas ações propostas pelo Poder Executivo. “Não consigo entender o critério que permite feiras às terças, mas as proíbe nas segundas. É preciso atuar de forma mais estrutural, por meio de mecanismos como a vacinação”, observou.
A democrata crê que o Governo do Estado poderia reforçar a imunização em regiões onde a epidemia está mais disseminada, como é o caso do Agreste. “Defendemos mais vacinas para aquela população”, assinalou. Ela citou Manaus (AM), que recebeu uma cota proporcionalmente maior de doses, para reforçar que o PNI permite tratamento diferenciado em crises sanitárias mais agudas.