Usina nuclear: João Paulo aponta riscos para população de Itacuruba

Em 18/03/2021 - 18:03
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VÍTIMAS – Comunista alega que iniciativa fere a Constituição Estadual, ameaça saúde física e mental dos cidadãos e traz extensos impactos ambientais. Foto: Evane Manço

Em discurso no Grande Expediente desta quinta (18), o deputado João Paulo (PCdoB) retomou o debate que vinha sendo promovido na Alepe sobre a possível instalação de uma usina nuclear em Itacuruba (Sertão de Itaparica). Reafirmando sua oposição ao empreendimento, o parlamentar alegou que a iniciativa fere a Constituição Estadual, põe em risco a saúde física e psicológica da população local e traz extensos impactos ambientais.

“Pergunto se as vantagens econômicas de curto prazo, como a geração de empregos na fase de construção da usina, valeriam o sacrifício humano, os riscos de acidentes e impactos negativos à população de Itacuruba, que seria, mais uma vez, vítima das consequências negativas de um empreendimento energético”, pontuou o comunista, lembrando o processo de reassentamento de comunidades do município, nos anos de 1980, para instalação da Hidrelétrica de Itaparica.

De acordo com o deputado, as medidas de reparação prometidas na ocasião não foram integralmente cumpridas. “A tragédia marcou as pessoas e traduziu-se em um grande problema de saúde pública. Segundo o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Itacuruba registrou em 2006 a maior taxa de suicídio do Brasil”, lamentou. Para ele, o novo empreendimento afetaria diretamente etnias indígenas e povos remanescentes de quilombos que lutam pela demarcação de suas terras na região.

João Paulo ressaltou, ainda, os riscos de acidentes nucleares que, apesar de raros, teriam grande potencial devastador, como observado em Fukushima (Japão) e em Chernobyl (Ucrânia). “A questão econômica também deve ser avaliada. A tecnologia atômica consome grande volume de energia fóssil, tornando a relação entre insumo e produção extremamente baixa”, disse, destacando o movimento feito por países como França e Alemanha, que vêm fechando algumas de suas usinas nucleares e investindo em fontes limpas.

APARTE – “Não há dinheiro que pague o valor de uma vida”, disse Doriel Barros. Foto: Evane Manço

O parlamentar comentou, por fim, decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) que declarou inconstitucional trecho da Carta Magna do Estado de Sergipe proibindo a atividade nuclear, já que essa seria uma prerrogativa da União. “A decisão não nos impede de participar de um debate sobre a busca de uma energia limpa, que permita a sobrevivência da terra e da espécie humana”, concluiu.

O discurso motivou os apartes dos deputados Alberto Feitosa (PSC), Teresa Leitão (PT), Juntas (PSOL), Doriel Barros (PT) e Isaltino Nascimento (PSB). Apenas o primeiro se posicionou favoravelmente à instalação da usina. “Imaginem as vantagens econômicas trazidas pelo empreendimento, que deverá mobilizar um investimento de U$ 50 bilhões na região”, afirmou, rebatendo dados sobre o fechamento de usinas nucleares na França. “O País está desativando velhas plantas e investindo em nova tecnologia em outras unidades. A Alemanha, por sua vez, tem a maior tarifa e a energia que mais polui na Europa”, completou Feitosa.

“Pernambuco não precisa de uma usina nuclear. Há outras formas de ampliar nossa capacidade energética”, alegou Teresa Leitão. “Fizemos um trabalho de escuta dos povos tradicionais da região e eles se opõem ao projeto”, declarou Jô Cavalcanti, do mandato coletivo Juntas. “Não há dinheiro que pague o valor de uma vida”, disse Barros. “Os interesses econômicos de uma minoria não podem se sobrepor aos da maioria da população pernambucana”, acrescentou Nascimento. 

O deputado Antonio Fernando (PSC), que presidia a Reunião Plenária, também se posicionou sobre o tema. Ele informou que os rejeitos do empreendimento poderão ser aproveitados como combustíveis de outras usinas e que o Estado não pode negar as vantagens econômicas do projeto.