Comissão de Cidadania debate enfrentamento da Covid-19 nas periferias

Em 30/06/2020 - 17:06
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VULNERÁVEIS – Colegiado presidido por Jô Cavalcanti, das Juntas, enviará sugestões sobre o tema ao Governo do Estado. Foto: Reprodução/Roberto Soares

A partir de discussão com especialistas nesta terça (30), a Comissão de Cidadania da Alepe encaminhará ao Governo do Estado sugestões para melhorar o enfrentamento à pandemia de Covid-19 nas periferias e junto aos segmentos mais vulneráveis da população. Contribuições também serão feitas no sentido de indicar possíveis riscos no processo de reabertura econômica, além de medidas para conter o avanço do novo coronavírus no Interior de Pernambuco.

No debate, realizado por sugestão do deputado Pastor Cleiton Collins (PP), a professora de Medicina Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Bernadete Perez ressaltou a importância de a base comunitária e territorial ser priorizada pelas ações de combate à Covid-19. Para isso, propôs que representações da sociedade sejam incluídas nas estratégias adotadas pelo Poder Público. Ela defendeu, ainda, que as iniciativas de vigilância estejam mais atentas aos modos de habitar, trabalhar, viver e circular da população. E, diante da desigualdade territorial, que sejam adotados programas de renda mínima e mais garantia de segurança aos usuários do transporte público.

A médica enfatizou que cidadãos pobres ou em situação de rua, trabalhadores informais, idosos e indígenas têm maior vulnerabilidade social em relação à epidemia. “A desigualdade se expressa nas maneiras diferentes de as pessoas conseguirem se proteger. Deixar apenas na mão delas a proteção – no que diz respeito, por exemplo, ao uso de máscara e à circulação para o trabalho – é uma forma de reproduzir a desigualdade e um terreno fértil para a doença”, disse. Ela citou iniciativas espontâneas de lideranças comunitárias e povos indígenas para lidar com a crise sanitária atual.

INICIATIVA – Discussão foi realizada por sugestão do Pastor Cleiton Collins, que se revelou “alarmado com o comportamento de parte da população”. Foto: Reprodução/Roberto Soares

De acordo com a professora, o Governo Federal tem se ausentado da coordenação dos esforços dos Estados e municípios, “abandonando as pessoas à própria sorte”. “A aposta nacional é em uma ‘imunidade de rebanho’ – uma palavra horrível –, com a pandemia correndo livremente nos territórios. Teremos alguns milhões de mortes no Brasil, se essa for a única resposta”, alertou.

Ex-professor da UFPE, o geógrafo Jan Bitoun falou sobre o projeto desenvolvido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação para troca de conhecimento científico sobre a Covid-19. Um mapa elaborado por meio dessa iniciativa mostra que, nas áreas com melhores condições de moradia, o acesso a diagnósticos é mais frequente do que nas de assentamentos precários, onde a letalidade, por outro lado, é maior. “A conclusão do trabalho foi muito triste. A gente viu que as pessoas nas comunidades chegam ao diagnóstico mais tarde ou carregam comorbidades [as quais contribuem para o agravamento da doença] que não tinham sido tratadas no passado”, lamentou.

Presidente da Comissão de Cidadania, a deputada Jô Cavalcanti, do mandato coletivo Juntas (PSOL), observou que Pernambuco se aproxima da marca de cinco mil mortes por Covid-19. A parlamentar defendeu mais diálogo com a sociedade sobre a reabertura econômica e a desativação de hospitais de campanha no Recife. Segundo a psolista, a ata da reunião, com recomendações feitas pelos especialistas, será encaminhada ao Poder Executivo. “Precisamos avançar na redução dos riscos. Uma grande parcela da população age como se a pandemia tivesse acabado, mas as reportagens mostram que o número de casos vem crescendo. E quem está sendo mais atingido são moradores das periferias”, advertiu.

MEDICINA SOCIAL – “A desigualdade se expressa nas maneiras diferentes de as pessoas conseguirem se proteger”, apontou Bernadete Perez. Foto: Reprodução/Roberto Soares

Vice-presidente do colegiado, Cleiton Collins revelou-se alarmado com o comportamento de parte da população. “No Interior, as coisas parecem que estão normais. Poucas pessoas usando máscaras, comércio sem orientação. E, na Região Metropolitana do Recife, ocorrem aglomerações que não víamos nem em tempos normais. Está faltando orientação sobre a situação do Estado e como as pessoas devem se comportar”, avaliou. 

A vereadora Michele Collins, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal do Recife, também participou do encontro. Ela cobrou um olhar específico do Poder Público para pessoas com deficiência ou doenças raras, imigrantes e população em situação de rua. Também alertou para os aumentos dos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes e de violência contra idosos e mulheres.

Reabertura econômica Bernadete Perez lembrou que Pernambuco ainda não cumpre os requisitos indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para flexibilizar o isolamento social. De acordo com a professora da UFPE, não há capacidade de testagem e monitoramento, dados seguros de redução sustentada na transmissão do vírus e redes de saúde com capacidade permanente de atender os pacientes graves. 

SITUAÇÃO – Ex-professor da UFPE, Jan Bitoun destacou mapa que mostra acesso maior a diagnósticos em áreas com melhores moradias. Foto: Reprodução/Roberto Soares

Jean Bitoun, por sua vez, demonstrou preocupação com a forma como ocorre a retomada da construção civil em Pernambuco. Chamou atenção, ainda, para a necessidade de os gestores estarem atentos ao transporte dos trabalhadores para o corte de cana, na Zona da Mata, e, no caso do Agreste, à circulação no Polo de Confecções e às atividades da Bacia Leiteira. Nos Sertões, considerou que a fruticultura irrigada e o Polo Gesseiro demandam um olhar especial, assim como as feiras.

O geógrafo analisou a ampliação do acesso à internet como essencial para que a população se informe sobre a pandemia e adote medidas de prevenção. Ele defendeu, também, uma maior capilaridade da rede de saúde no Interior. “É importantíssimo saber quem de fato assessora o Governo Estadual e como são tomadas as decisões, no sentido de ter uma coordenação melhor e uma consideração da diversidade do território pernambucano”, agregou.

Ao comentar as falas, o deputado Antonio Fernando (PSC) afirmou que o Executivo deve dialogar mais com prefeitos e sociedade civil, antes de implementar os decretos relativos ao combate à Covid-19. João Paulo (PCdoB) pontuou as dificuldades econômicas que Estados e municípios vão enfrentar, lembrando ser insuficiente a ajuda do Governo Federal.