
MARCO – Encontro foi promovido pela Comissão de Defesa da Mulher. Data coincide com o dia da morte da fisioterapeuta Mirella Sena de Araújo, há exatamente um ano. Foto: Jarbas Araújo
As medidas adotadas pelo Poder Público para fazer frente aos assassinatos de mulheres relacionados à condição de sexo feminino foram debatidas, nesta quinta (5), em audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. A reunião foi uma atividade do Dia de Combate ao Feminicídio, estabelecido por lei, e tendo como marco o dia da morte de Mirella Sena de Araújo, há exatamente um ano. Familiares da fisioterapeuta, que desde então se mobilizam no enfrentamento à violência contra a mulher, também participaram da discussão.
Mirella foi morta por um vizinho, a golpes de faca no apartamento onde morava, em um flat em Boa Viagem (Zona Sul do Recife). Durante a audiência pública, os pais dela, Suely Araújo e Wilson Pacheco, lembraram que a filha não tolerava violência contra a mulher. “Quando uma mulher é assassinada, todas nós morremos também. Mata-se a avó, a mãe, a filha, a militante. É inadmissível que no século 21 a gente continue sendo um país machista. Mirella lutou de todas as formas, mas não conseguiu. Por isso, lutamos para mudar essa realidade”, expressou Suely, emocionada.
O pai de Mirella reforçou que a iniciativa da família busca dar continuidade a uma causa que ela própria estaria apoiando, se estivesse viva. Pacheco defendeu que o tema seja debatido nas escolas para conscientizar os jovens que vivenciam situações de violência doméstica e evitar que repitam esses comportamentos.
Presidente da Comissão e autora do projeto de lei do Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, a deputada Simone Santana (PSB) relembrou outros casos ocorridos em 2017. Os crimes citados tiveram como vítimas a dona de casa Eliane Maria da Costa, a empregada doméstica Aldenice da Hora, a secretária Gisely Kelly Tavares dos Santos e a estudante Remis Carla da Costa.
“Nos casos em que as vítimas pertencem a famílias de baixa renda e são negras ou pardas (e a maioria das mulheres vítimas de violência doméstica e feminicídio se encaixa nesse perfil), suas histórias não ganham repercussão e se perdem nas estatísticas. Até mesmo os crimes mais emblemáticos de feminicídio ainda avançam a passos lentos para serem reconhecidos por sua motivação de gênero e julgados como tal”, apontou a parlamentar, considerando como avanço a criação da categoria feminicídio nos Boletins de Ocorrência da Polícia Civil no Estado.
Durante a audiência, a titular da secretaria estadual da Mulher, Sílvia Cordeiro, e outras participantes do Grupo de Trabalho Interinstitucional sobre Feminicídio (GTIF) expuseram as medidas adotadas para dar mais eficiência às investigações e processos judiciais das mortes violentas de mulheres com perspectiva de gênero. “No final do trabalho, vamos apresentar o protocolo e receber contribuições da Alepe, de movimentos sociais e do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Pernambuco”, informou a gestora.
Chefe do Departamento de Polícia da Mulher de Pernambuco, a delegada Gleide Ângelo frisou que a sociedade precisa se envolver no debate, pois a polícia, sozinha, não pode antecipar a ocorrência do feminicídio. “A gente tem que trabalhar para que a mulher não morra. Em 2017, dos 78 casos notificados, apenas duas procuraram a Polícia antes. Os vizinhos não denunciam, as pessoas se afastam e a mulher que sofre violência doméstica fica sozinha. Precisamos todos trabalhar juntos para mudar essa cultura”, afirmou.
Também participaram da reunião representantes do Ministério Público de Pernambuco, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), da Defensoria Pública e das polícias Militar e Científica.