
DIVERSIDADE – Artes visuais, apresentações musicais e outras expressões artísticas permearam o encontro, que também debateu temas como racismo e intolerância religiosa. Foto: Sabrina Nóbrega
Um Grande Expediente Especial de valorização das tradições e da cultura do povo negro movimentou o auditório da Assembleia nesta quinta (23). Artes visuais, apresentações musicais, artesanato, capoeira e outras expressões artísticas permearam o encontro, que também debateu temas como racismo, intolerância religiosa e manutenção de desigualdades sociais históricas. O evento foi convocado pelo deputado Isaltino Nascimento (PSB) para marcar o Mês da Consciência Negra.
“O intuito deste encontro é promover uma celebração da beleza, da cultura e dos saberes do povo negro. É uma história de lutas, mas também de muita riqueza e de coisas positivas para destacar”, disse o parlamentar durante a abertura da reunião. Quem também defendeu a valorização da história negra foi o babalorixá Pai Ivo de Xambá. “É preciso mostrar para as pessoas que o negro é mais do que um povo que sofreu na senzala. Nós temos cultura e contribuímos com a inteligência do País”, pontuou.
No entanto, a dificuldade da população negra chegar às universidades foi pontuada pelo representante do Quilombo Cultural Malunguinho, Alexandre L´Omi L´Odó. Mestre em Ciência da Religião, ele ressaltou que apenas 5% da população brasileira tem acesso a cursos de mestrado e doutorado no Brasil. “Para a população negra ocupar esse espaço de poder é necessário haver uma mudança profunda. Com a redução da verba destinada à pesquisa, veremos ainda menos negros nesse território”, lamentou.
Coordenadora do Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Cepir-PE), a ialorixá Mãe Elza de Iemanjá falou sobre os simbolismos e crenças das religiões de matriz africana e defendeu o combate à intolerância religiosa. “Ninguém tem direito de julgar a fé alheia. Chega de aceitar que nos digam que fazemos algo errado. A tolerância que tolera a intolerância é suicida”, defendeu.
Coordenador do Observatório das Religiões e professor da Universidade Católica de Pernambuco, Gilbraz Aragão informou que uma denúncia de discriminação religiosa é registrada a cada 15 horas no Brasil, e que a maior parte delas envolve cultos de matriz africana. “Para enfrentar a intolerância temos criado legislações e políticas, mas precisamos, em paralelo, fortalecer a educação. A escola precisa ser um local de aprendizagem crítica, que reflita sobre as diversas experiências religiosas”, acrescentou.
Representante da Coordenadoria de Igualdade Racial do Governo do Estado, Marta Almeida direcionou o discurso para a necessidade de combater o racismo institucional. “Acabamos com a fase do lamento e, agora, estamos no momento do enfrentamento. Não podemos aceitar desculpas, como crise ou falta de dinheiro, para a ausência de políticas sociais pensadas e voltadas para os negros”, disse. “Infelizmente, o racismo é um crime perfeito no Brasil: quem o comete coloca a culpa na própria vítima”, pontuou o presidente do Movimento Negro Unificado de Pernambuco, Zé Oliveira.
Os presentes ainda assistiram à leitura de poesias de César Monteiro e à apresentação do Grupo musical Bongar, composto por jovens do terreiro Xambá do Quilombo do Portão do Gelo, em Olinda. No final, todos destacaram a trajetória de lutas do jornalista e advogado Edvaldo Ramos pelo movimento negro de Pernambuco.