Ações de empoderamento ajudam a fortalecer juventude negra em Pernambuco

Em 11/05/2017 - 20:05
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INICIATIVAS – Frente Parlamentar de Combate ao Extermínio da Juventude Negra da Assembleia Legislativa tem levado debate sobre o tema a diversos municípios do Estado. Foto: João Bita

Almir Cunha

O Recife ocupa a sexta posição no ranking das cidades brasileiras que mais matam jovens negros no País. A informação é do Mapa da Violência, produzido pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais. Em Pernambuco, a chance de um jovem negro morrer é 11 vezes maior do que a de um jovem branco da mesma faixa etária, entre 12 e 19 anos. Os dados são do Índice de Vulnerabilidade Juvenil e Desigualdade Racial, organizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Na luta para transformar essa realidade, 12 jovens resolveram criar o coletivo Tururu, no bairro do Janga, em Paulista, Região Metropolitana do Recife. Com o foco em comunicação popular, o grupo já representou a comunidade vencendo dois prêmios nacionais. André Fidellis, comenta sobre o terceiro trabalho realizado, chamado “Ele era meu filho”, que dialoga com algumas mães que perderam os filhos assassinados. “Esse documentário tem o objetivo de dizer que as pessoas não são más, estão apenas perdidas. Porque ninguém nasce ladrão, ninguém nasce bandido, ninguém nasce querendo matar, todo mundo nasce com aquela inocência de criança.”

Uma proposta que poderia ajudar a reverter a atual situação da juventude negra é o debate de raça nas escolas. A medida é considerada importante por Biatriz Santos, do Coletivo Cara Preta, que atua em Pernambuco: “A gente entende que o trabalho de base é necessário, principalmente nesse processo de construção do ser e a escola é muito carente nesse debate sobre raça”.

A mudança de postura de quem atua na área de segurança pública também é um dos caminhos apontados pela ativista para a transformação da realidade social dos jovens negros. “A polícia militar tem o resquício muito forte da ditadura militar. Esses agentes precisam ter um treinamento mais humanitário, no sentido de conhecer a realidade com a qual eles vão estar trabalhando diariamente.”

A violência institucional também aparece nos relatos de Elvis Pinheiro, integrante do coletivo Butuka, que utiliza a mídia como instrumento de denúncia e resistência à violação de direitos no Estado. “Essa violência atinge principalmente a população periférica, a população negra, e um dos nossos vieses de ação é realmente fomentar essa identidade negra, para que as pessoas possam se identificar.”

Essa desigualdade social pode ser um fator preponderante para o extermínio da juventude negra. É o que acredita o coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho, Alexandre L´Omi Lôdo. Ele desenvolve atividades de formação, pesquisa e empoderamento do povo de terreiro em Pernambuco, há quatorze anos. “Quem morre nas favelas não é o branco, quem morre nas favelas é o povo negro, quem está dentro dos presídios é o povo negro, os menores apreendidos são da população negra, que faz parte sobretudo da classe social mais baixa da sociedade. Nós herdamos a senzala e os herdeiros da casa grande são os nossos opressores.”

A opressão vivida pela população negra também é lembrada pelo historiador Rodrigo Bione, que fez um resgate histórico da situação em nosso País: “A instituição da escravidão tinha como uma das suas práticas principais, na sua essência, a tentativa de reduzir o negro à condição de um ser sem história. Você via o batismo forçado, a concessão de um nome cristão, separação das famílias de forma violenta, os castigos corporais. Tudo isso era uma tentativa de destruir a história, de literalmente rebaixar um ser inferior. Infelizmente a gente ainda vê isso na sociedade hoje em dia.”  

A Assembleia Legislativa conta com uma Frente Parlamentar de Combate ao Extermínio da Juventude Negra, presidida pelo deputado Bispo Ossésio Silva (PRB). “Ela foi criada exatamente para dar um suporte a tantas outras instituições que já fazem esse trabalho de chamar atenção para o que vem acontecendo e que não estava sendo visto pela sociedade, muito menos pelo Governo.” Outra iniciativa do parlamentar nesse sentido, foi a autoria da lei que obriga os estádios e campos de futebol do Estado a fixar placas de combate ao racismo. As multas podem chegar a R$ 5 mil.