
Fonte de energia e polêmicas, a usina termelétrica prevista para ser instalada em Suape pela Star Energy Participações despertou a preocupação de especialistas e entidades ambientais, durante audiência pública da Comissão de Meio Ambiente do Poder Legislativo – ontem pela manhã. Orçado em R$ 2 bilhões, o empreendimento ocupará área de 94 hectares. Dos recursos totais para a obra, R$ 1,6 bilhão será financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). O restante dos investimentos ficará a cargo do Grupo Bertin – controlador da empresa responsável pela geradora.
Ao longo do encontro, no auditório do Parlamento, autoridades no assunto classificaram a usina como “desnecessária”. Isso porque, a termelétrica não atuará na capacidade máxima de produção de energia, que será da ordem de 1,45 mil megawatts/hora. Na maior parte do tempo, a geradora estará desativada, somente sendo demandada quando da necessidade do sistema de fornecimento. “O custo para construção é muito alto. Acredito que temos outras necessidades mais urgentes do que essa reserva energética de luxo”, criticou o professor da Universidade Federal de Pernambuco, Heitor Scalambrini.
Segundo observou o docente, cada megawatt/hora produzido por meio desse tipo de usina custa R$ 150, o mesmo cobrado pela geração nuclear. O valor é em torno de R$ 50 mais caro do que outras fontes de energia, como a hidráulica e eólica.
Além disso, Scalambrini atentou para os riscos de contaminação humana e ambiental. “Nesta termelétrica será utilizado gás extremamente danoso, cujos efeitos podem atingir quem estiver em um raio de dez quilômetros da geradora”, alertou. Segundo afirmou, a emissão dos poluentes pode provocar de problemas respiratórios a, até mesmo, câncer.
Presente ao debate, o deputado federal Raul Henry (PMDB) condenou a construção do empreendimento. Como destacou o parlamentar, com o funcionamento da usina poderão ser emitidos, por dia, cerca de 24 mil toneladas de gás carbônico. A área, de acordo com o peemedebista, é um dos principais cartões postais do Estado. “Por isso e por todo o risco à população, entrei com representação junto ao Ministério Público Federal (MPF), solicitando um posicionamento do órgão em relação à instalação dessa usina termelétrica”, informou.
Autor do requerimento para realização da audiência pública, o deputado Daniel Coelho (PSDB) disse acreditar na possibilidade de reverter a decisão do Governo do Estado de permitir a construção da geradora. A gestão, que não esteve representada no debate, já assinou protocolo de intenções com o Grupo Bertin.
“A termelétrica gerará somente 500 vagas de emprego. É uma exposição muito alta para retorno tão pequeno. Outros Estados receberiam uma unidade da mesma empresa (Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte) e não concederam licenças. Por que nós faremos isso, se recebemos tantos outros investimentos de porte?”, indagou.
O presidente do colegiado, deputado José Humberto Cavalcanti (PTB), enalteceu a importância do debate. O parlamentar informou que encaminhará ao Poder Executivo as propostas e os alertas feitos pelos especialistas presentes ao encontro. “Esperamos que haja ressonância junto às secretarias e ao Governo do Estado. A Assembleia tem autonomia para propor outras audiências e envidar esforços para dar seguimento ao que foi discutido”, apontou.
Mobilização – Ao final da reunião, o deputado Daniel Coelho anunciou estar prevista para a próxima sexta-feira, dia 18, uma mobilização contrária à instalação da termelétrica. Outros deputados manifestaram apoio à iniciativa. O movimento se concentrará na Praça do Derby, a partir das 15h30.