Por iniciativa da Comissão de Defesa da Cidadania, a Assembléia promoveu, ontem, uma audiência pública para discutir a situação dos desaparecidos políticos. A reunião, segundo o presidente da comissão, deputado Roberto Leandro (PT), foi uma homenagem ao integrante fundador do Partido Comunista Revolucionário, Manoel Lisboa, cujos restos mortais passaram ontem por Pernambuco, e à advogada Mércia Albuquerque, que trabalhou para diversos presos políticos na época da ditadura militar.
“Essa iniciativa representa um resgate da luta do povo brasileiro pela democracia e é também uma homenagem a Manoel Lisboa, cujo corpo só agora foi encontrado, após uma busca de trinta anos, numa vala comum de um cemitério de São Paulo. Assim como também homenageia a advogada Mércia Albuquerque que sempre lutou pelos presos políticos durante a ditadura”, destacou Leandro. A audiência pública contou com a participação de representantes de diversas entidades que lutam pelos direitos humanos; do viúvo da advogada Mércia Albuquerque, Otávio Albuquerque; do sobrinho de Manoel Lisboa, Alfredo Moura de Lima; e Elzita Santa Cruz, mãe do desaparecido político Fernando Santa Cruz.
A coordenadora da Comissão Nacional dos Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Maria Amélia Teles, ressaltou a necessidade do Estado assumir sua responsabilidade em encontrar os militantes desaparecidos. Ela ainda frisou as dificuldades de resgatar as histórias e encontrar os restos mortais. “À cada momento fica mais complicado encontrar informações sobre a localização dos corpos porque as pessoas vão morrendo e os dados começam a se dissipar. Já está na hora do Estado assumir sua responsabilidade, se comprometer a buscar essas informações”, afirmou.
Num depoimento emocionado, o viúvo da advogada Mércia Albuquerque, Otávio Albuquerque, lembrou de momentos da luta de sua esposa e destacou as memórias deixadas por ela em diversas agendas e diários. Já Elzita Santa Cruz, mãe do desaparecido político Fernando Santa Cruz e do vereador de Olinda Marcelo Santa Cruz, que também foi preso político e esteve presente à reunião, destacou a necessidade de continuar a luta que foi deixada por seu filho e por outros militantes. “A luta do meu filho foi muito bonita. Vou lutar sempre para que a morte dele não tenha sido em vão e que outras mães não passem pelo que eu passei”, disse.
Os deputados Isaltino Nascimento (PT), Soldado Moisés (PL) e Antônio Moraes (PSDB) também participaram da reunião. Todos parabenizaram a iniciativa da comissão e salientaram a importância de não deixar essa questão ser esquecida.
Roberto Leandro informou que a colegiado ainda acompanhará a rede de integração de direitos humanos no Estado e lembrou que, apesar de existir uma representação da Assembléia integrando a comissão que analisa a situação dos anistiados no Estado, a comissão irá acompanhar o trabalho de localização e indenização dos restos mortais dos desaparecidos. “A Assembléia está fazendo essa justa homenagem ao mesmo tempo em que resgata a situação por que passam as famílias dos mortos e desaparecidos políticos, levantando as dificuldades dessas famílias que estão em busca da história de seus parentes. Estamos prestando uma homenagem a essas pessoas que morreram mas deixaram vivos seus ideais e sua luta”, salientou.