Legislativo defende Zona da Mata

Em 03/05/2000 - 00:05
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Legislativo defende Zona da Mata Sessão especial foi proposta pelo deputado tucano Antônio Moraes A Assembléia Legislativa debateu ontem, em sessão especial, a crise econômica e social da Mata Norte e Sul do Estado, constatando que ambas necessitam de medidas urgentes para recuperar sua economia, através da ação conjunta do setor público, dos empresários e trabalhadores, voltadas para fortalecer sua base produtiva e assegurar a geração de emprego e rendas.

A reunião, presidida por Antônio Moraes (PSDB), contou com a participação de lideranças patronais e sindicais, sendo a mesa composta pelos empresários Armando Monteiro Filho, Fausto Pontual, Adilson Pedrosa, Maria da Vitória Carneiro Cavalcanti e o sindicalista Antônio Marques dos Santos, Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape).

No início da sessão, o deputado Antônio Moraes, autor da proposta sobre a questão, assegurou que a área detém expressivo potencial no setor da monocultura da cana-de-açúcar e também reúne condições para diversificar a produção em determinadas regiões do seu território, tais como café, banana, pimenta do reino, inhame e outros produtos.

Antônio Moraes adiantou que há uma situação de crise na região da Mata e diante da situação causa estranheza que uma minoria demonstre repulsa à agroindústria canavieira, atividade responsável pelo maior número de utilização de mão de obra no Estado e que, na Mata Norte, vem sofrendo perdas, pois das 10 usinas de açúcar existentes apenas cinco continuam funcionando, com dificuldades de produção e de capital de giro.

O parlamentar adiantou que, apesar das limitações, as indústrias mencionadas geram ainda 100 mil empregos diretos e indiretos, quadro que pode ser agravado se não forem adotadas medidas urgentes e eficazes. As empresas em funcionamento – afirmou – podem também fechar suas portas, transformando a área num verdadeiro barril de pólvora, com conseqüências imprevisíveis, aumentando os desníveis e o surgimento de favelas nos centros urbanos.

Nessa ordem de idéias, o empresário Manoel Gregório Maranhão, da Associação dos Fornecedores de Cana, sugeriu o restabelecimento do diálogo visando soluções de forma ordeira, pacífica, pois é imperativa, inadiável, a adoção de uma proposta de resposta rápida. Assim, a discussão deve envolver todos os agentes do processo, ou seja, o Governo do Estado, os empresários, os trabalhadores, pois a cana ainda é o maior ativo de Pernambuco.

O presidente da Fetape, Antônio Marques dos Santos, também defendeu amplo entendimento para resolver a crise na Zona da Mata, acentuando que tal posição deve levar em conta a concentração da propriedade, a modernização das relações de trabalho, a diversificação da produção, exigindo reforma agrária, implantação da agricultura familiar e frentes de trabalho.

De acordo com Antônio Marques, a crise na Zona da Mata penaliza mais os trabalhadores, que vêm perdendo seus empregos e tendo de migrar para as áreas urbanas, onde não encontram trabalho e engrossam as fileiras da marginalidade.

Essa situação exige também melhoria da rede escolar, hospitalar, problemas que têm de ser resolvidos com a retomada da produção, do programa do álcool, para gerar empregos e fortalecer a economia da região.

Os males sofridos pelo setor açucareiro no Estado também foram apontados na sessão especial pelo empresário e ex-ministro da Agricultura Armando Monteiro.

Ele culpou o Governo Federal pela falta de investimentos no Nordeste e debateu com os deputados estaduais saídas para a região da Mata em Pernambuco.

“Sou otimista por natureza, mas sei que do Governo Federal não vem nada para a indústria açucareira do Nordeste”, lamentou Monteiro. Ele fez questão de destacar o “empenho” do governo estadual e da Assembléia Legislativa para resolver o problema. “Registro o interesse do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que procurou inclusive o presidente da República para mostrar a situação. Vejo também com satisfação a luta da AL”, afirmou.

Armando Monteiro denunciou os “interesses que existem por trás” do estado de falência do setor no Nordeste. “Enquanto a atividade cresce em São Paulo, sofremos aqui uma redução drástica na produção. A única opinião unânime nessa questão é que o Governo Federal tem sido absolutamente irresponsável com a produção açucareira no Nordeste”.

Carlos Lapa (PSB) concordou com as críticas feitas ao Governo Federal. “Se há uma coisa que ninguém discorda é o total descaso do Governo FHC com a questão”.

E foi mais além. “O presidente é o culpado, mas também têm culpa aqueles que o acompanham aqui no Estado. Isto precisa ser dito claramente”, advertiu.

Para João Paulo (PT), é lamentável a falta de perspectiva dos trabalhadores da Zona da Mata. Ele conclamou a união de todos os setores envolvidos na questão.

“Apesar das diferenças entre trabalhadores, produtores e usineiros, temos que lutar para que Pernambuco não seja prejudicado”, apontou.

O líder do Governo, deputado Romário Dias (PFL), lamentou que, apesar do debate, “nada seja feito depois que sairmos daqui”. “O problema é que Pernambuco tem cruzado os braços há vários anos, diferentemente de outros estados. Esta reunião é um exemplo disto. Deveríamos ter aqui todos os parlamentares – federais e estaduais – e secretários de Estado, no sentido de encontrarmos um norte sobre a questão”, opinou. Segundo Dias, a questão da zona da Mata precisa ser resolvida “de uma vez por todas”.

Catende – Ranilson Ramos (PPS) aproveitou para apresentar “os excelentes resultados, com uma safra superavitária e a consolidação da auto-sustentação”, da Usina Catende, que está sendo administrada judicialmente desde 1995, quando foi iniciado o processo de falência da empresa. “Enquanto fornecedores e empresas estão praticamente parados na entressafra, a Usina Catende acaba de implantar um programa de qualificação para 1.200 trabalhadores demitidos, com recursos próprios”, afirmou. (Marconi Glauco/Nagib Jorge Neto)