
Considera Patrimônio Cultural e Turístico do Estado de Pernambuco o ALTO DO MOURA, no município de Caruaru.
Texto Completo
Art. 1º - O ALTO DO MOURA passa a ser considerado Patrimônio Cultural e
Turístico do Estado de Pernambuco.
Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.
Turístico do Estado de Pernambuco.
Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.
Autor: Miriam Lacerda
Justificativa
Considerado pela UNESCO - "O maior Centro de Artes Figurativas das
Américas", o ALTO DO MOURA é uma comunidade de artistas, que fica distante 7 Km
do centro da cidade de Caruaru, e concentra mais de 1.000 artesãos.
E qual a origem do ALTO DO MOURA? nos idos de 1850, iniciou-se a
formação de um pequeno povoado nas margens da BR-232 e do Rio Ipojuca. Existia
uma lagoa nas proximidades do local e da linha férrea, chamada de Lagoa
Fedorenta. Beirando a lagoa, havia um local mais alto conhecido como Alto da
Fedorenta. Ao notar que essas terras estavam desocupadas, não tinham dono, um
trabalhador oriundo do sertão, que havia chegado em busca de trabalho nos
engenhos de corte de cana, chamado Antonio Moura, imediatamente chamou seu
genro e cercou o local, ficando como proprietário, pois era o costume da época.
Com o passar dos anos, este povoado foi crescendo, chegando ao
conhecimento dos que moravam na Vila de Caruaru. Antes de ser chamado de Alto
dos Mouras, o povoado ainda teve outro nome - Bernardo, que foi desaparecendo à
medida que Antonio Moura tornava-se conhecido. No início, o povo dizia: Seu
Antonio Moura que mora no Alto da Fedorenta; depois, seu Antonio do Alto dos
Mouras, e, definitivamente, Alto do Moura.
O Alto do Moura, com terras férteis, o Rio Ipojuca com muita água, era
um incentivo para a população dedicar-se a agricultura. Com o passar do tempo,
foi descoberto que a argila da região de ótima qualidade, era ideal para peças
utilitárias. Daí surgiram os louceiros que faziam panelas, moringas, potes,
chaleiras, jarras, quartinhas, etc. Logo, o povoado, hoje um bairro, ficava
conhecido como o lugar dos oleiros.
No entanto, o lugar só passou a concentrar artesãos que moldavam o
dia-a-dia do homem nordestino, após a mudança de VITALINO para lá, já com 38
anos, nos idos de 1947, juntamente com mulher e filhos, o qual foi estimulado
pelo artista plástico e colecionador pernambucano Augusto Rodrigues, admirador
da excelência de seu trabalho.
No ALTO DO MOURA, Vitalino ficou perto da famosa Feira de Caruaru, que
tinha centenas de barracas onde se comercializava de tudo. Na sua banca
oferecia bonecos feitos com barro. Logo seus trabalhos ganharam fama,
tornando-o conhecido e admirado. Com singular destreza, esculpia cenas do
cotidiano sertanejo em que vivia. Seus trabalhos eram diferentes dos levados
pelos outros artesãos que abordavam sempre os mesmos temas: animais, maracatus,
bumbas, cinzeiros, potes, jarros, pratos, moringas, etc.
O sucesso de Mestre Vitalino como bonequeiro repercutiu junto aos
seus companheiros do ALTO DO MOURA, os quais passaram a admirar o seu talento.
Isto fez com que muitos passassem a esculpir bonecos. Dentre esses, os
principais eram: Zé Caboclo, Manuel Eudócio, Elias Francisco dos Santos, Zé
Rodrigues, Manoel Galdino, Luiz Antonio da Silva, hoje conhecidos como seus
discípulos.
Importante salientar que estes seguidores contaram sempre com ajuda de
Vitalino, que não tinha medo da concorrência e via de bom grado a participação
dos amigos, nunca se negando a transmitir seus conhecimentos e suas técnicas: o
trato do barro (escolher o barro, socar, peneirar, armazenar); os cuidados com
a secagem das peças (secagem natural, à sombra, para evitar rachaduras durante
a queima); e a correta queima no forno a lenha (esquente, manutenção e elevação
da temperatura e o esfriamento). A amistosa relação mestre/discípulos criou um
clima onde todos se ajudavam assimilando entre si técnicas e temas. Muitas
criações eram copiadas de um e produzidas por outro. Não havia o dono da cena,
o detentor do direito daquela imagem. Copiar obra de outro companheiro era
prática aceita com naturalidade por todos.
Com o passar do tempo, contando com a expansão dos meios de
comunicação, os bonequeiros passaram a ter conhecimento, rapidamente, dos
novos acontecimentos nacionais e internacionais, e os registravam através de
seus trabalhos. Um dos exemplos mais significativos ocorreu quando o homem foi
a Lua. Logo a seguir já havia boneco retratando um Astronauta.
A integração entre o pessoal do ALTO DO MOURA era tanta que haviam
bonequeiros que dividiam um mesmo espaço, trabalhando no mesmo cômodo da
casa. Na hora de colocar a marca de autoria na peça, não era usual assinar e
sim marcar com carimbo. E, de tão amigos que eram, usavam, se necessário, o
carimbo do colega, pelas mais diversas razões: não possuíam, tinham perdido o
seu, etc. Mas, entre eles, cada um sabia o que tinha feito, o que era seu, que
tinha seu traço, seu estilo. Outra prática que ocorria era vender trabalhos sem
gravar o nome do autor. Tanto que é comum encontrar, hoje em dia, entre as
peças expostas em museus e constantes em livros e catálogos, a anotação
autoria desconhecida.
Os bonequeiros se juntavam quando recebiam uma encomenda de vulto.
Certa ocasião um deles tinha de produzir 2000 figuras retratando "Agentes de
Viagens" para um evento em Recife. A solução foi formar um mutirão, com muitos
trabalhando simultaneamente na encomenda, para que a entrega fosse feita no
prazo combinado. Quando receberam, repartiram o valor em função da produção de
cada um. Os bonequeiros se profissionalizaram e viviam do ofício. Expunham
seus trabalhos na Feira de Caruaru, principalmente aos sábados, dia de maior
movimento. No entanto, face às dificuldades do transporte e do risco de quebra
das peças no manuseio, tanto na ida quanto na volta, passaram a vendê-las em
suas próprias casas no ALTO DO MOURA. Outra vantagem desta medida é que
deixaram de perder um precioso tempo para ir e voltar, sem contar as horas que
ficavam trabalhando na feira, quando ficavam impossibilitados de produzir.
Apoiado na fama de seus artistas, o ALTO DO MOURA passou, então, a
atrair cada vez mais visitantes, fregueses que iam comprar peças para si
próprios ou para revender em outras cidades. Encomendas não paravam de chegar.
Para atender os compromissos, os artesãos tinham que trabalhar muito e quase
sempre contavam com a ajuda de toda a família na produção. No entanto, a renda
auferida mal dava para o sustento com condições mínimas de conforto. Os
intermediários que adquiriam as peças, para revender para as lojas do Recife e
de outras regiões, só se dispunham a pagar preços muito baixos. Os artesãos,
quase sempre com dificuldades de quitar suas contas vencidas, e desorganizados
neste aspecto, não tinham outra saída a não ser aceitar o preço injusto que
lhes impunham. Nenhum artesão acumulou riqueza nem viveu folgadamente. Vitalino
e todos os demais morreram pobres.
O modo atual de modelar os bonecos é quase idêntico ao do passado.
Fazem tudo manualmente usando ferramentas improvisadas. As peças continuam a
ser queimadas em fornos circulares rústicos, com lenha do sertão. Quanto à
decoração, quase nada é esmaltado sendo o acabamento em terracota. Há, no
entanto, os que decoram os trabalhos pintando com tintas comerciais,
normalmente com cores fortes e brilhantes. Há registros que alguns ceramistas
esmaltavam suas peças com zarcão. Hoje ninguém mais usa esta técnica.
No ALTO DO MOURA cada residência se transforma em ateliê, envolvendo
toda a comunidade local, desde o mais simples ajudante até aqueles que moldam o
barro, transformando-o em arte. Hoje, arte e artesãos vêem suas peças
ultrapassarem as fronteiras do país, retratando sua terra, sua cultura, seu
povo, sua gente.
Lá também funciona a Casa-Museu de Mestre Vitalino, administrado pelo seu filho
Severino, instalado na antiga casa, construída em 1959, onde o mais famoso
bonequeiro viveu, trabalhou e morreu. No local estão expostos objetos de uso
pessoal do artista, suas ferramentas de trabalho, móveis e utensílios, e fotos
retratando sua trajetória. No quintal, permanece o rústico forno a lenha
circular, em que fazia suas queimas.
Por toda essa riqueza histórica, cultural e turística, o ALTO DO MOURA
merece ser considerado Patrimônio Cultural e Turístico do Estado de Pernambuco.
Américas", o ALTO DO MOURA é uma comunidade de artistas, que fica distante 7 Km
do centro da cidade de Caruaru, e concentra mais de 1.000 artesãos.
E qual a origem do ALTO DO MOURA? nos idos de 1850, iniciou-se a
formação de um pequeno povoado nas margens da BR-232 e do Rio Ipojuca. Existia
uma lagoa nas proximidades do local e da linha férrea, chamada de Lagoa
Fedorenta. Beirando a lagoa, havia um local mais alto conhecido como Alto da
Fedorenta. Ao notar que essas terras estavam desocupadas, não tinham dono, um
trabalhador oriundo do sertão, que havia chegado em busca de trabalho nos
engenhos de corte de cana, chamado Antonio Moura, imediatamente chamou seu
genro e cercou o local, ficando como proprietário, pois era o costume da época.
Com o passar dos anos, este povoado foi crescendo, chegando ao
conhecimento dos que moravam na Vila de Caruaru. Antes de ser chamado de Alto
dos Mouras, o povoado ainda teve outro nome - Bernardo, que foi desaparecendo à
medida que Antonio Moura tornava-se conhecido. No início, o povo dizia: Seu
Antonio Moura que mora no Alto da Fedorenta; depois, seu Antonio do Alto dos
Mouras, e, definitivamente, Alto do Moura.
O Alto do Moura, com terras férteis, o Rio Ipojuca com muita água, era
um incentivo para a população dedicar-se a agricultura. Com o passar do tempo,
foi descoberto que a argila da região de ótima qualidade, era ideal para peças
utilitárias. Daí surgiram os louceiros que faziam panelas, moringas, potes,
chaleiras, jarras, quartinhas, etc. Logo, o povoado, hoje um bairro, ficava
conhecido como o lugar dos oleiros.
No entanto, o lugar só passou a concentrar artesãos que moldavam o
dia-a-dia do homem nordestino, após a mudança de VITALINO para lá, já com 38
anos, nos idos de 1947, juntamente com mulher e filhos, o qual foi estimulado
pelo artista plástico e colecionador pernambucano Augusto Rodrigues, admirador
da excelência de seu trabalho.
No ALTO DO MOURA, Vitalino ficou perto da famosa Feira de Caruaru, que
tinha centenas de barracas onde se comercializava de tudo. Na sua banca
oferecia bonecos feitos com barro. Logo seus trabalhos ganharam fama,
tornando-o conhecido e admirado. Com singular destreza, esculpia cenas do
cotidiano sertanejo em que vivia. Seus trabalhos eram diferentes dos levados
pelos outros artesãos que abordavam sempre os mesmos temas: animais, maracatus,
bumbas, cinzeiros, potes, jarros, pratos, moringas, etc.
O sucesso de Mestre Vitalino como bonequeiro repercutiu junto aos
seus companheiros do ALTO DO MOURA, os quais passaram a admirar o seu talento.
Isto fez com que muitos passassem a esculpir bonecos. Dentre esses, os
principais eram: Zé Caboclo, Manuel Eudócio, Elias Francisco dos Santos, Zé
Rodrigues, Manoel Galdino, Luiz Antonio da Silva, hoje conhecidos como seus
discípulos.
Importante salientar que estes seguidores contaram sempre com ajuda de
Vitalino, que não tinha medo da concorrência e via de bom grado a participação
dos amigos, nunca se negando a transmitir seus conhecimentos e suas técnicas: o
trato do barro (escolher o barro, socar, peneirar, armazenar); os cuidados com
a secagem das peças (secagem natural, à sombra, para evitar rachaduras durante
a queima); e a correta queima no forno a lenha (esquente, manutenção e elevação
da temperatura e o esfriamento). A amistosa relação mestre/discípulos criou um
clima onde todos se ajudavam assimilando entre si técnicas e temas. Muitas
criações eram copiadas de um e produzidas por outro. Não havia o dono da cena,
o detentor do direito daquela imagem. Copiar obra de outro companheiro era
prática aceita com naturalidade por todos.
Com o passar do tempo, contando com a expansão dos meios de
comunicação, os bonequeiros passaram a ter conhecimento, rapidamente, dos
novos acontecimentos nacionais e internacionais, e os registravam através de
seus trabalhos. Um dos exemplos mais significativos ocorreu quando o homem foi
a Lua. Logo a seguir já havia boneco retratando um Astronauta.
A integração entre o pessoal do ALTO DO MOURA era tanta que haviam
bonequeiros que dividiam um mesmo espaço, trabalhando no mesmo cômodo da
casa. Na hora de colocar a marca de autoria na peça, não era usual assinar e
sim marcar com carimbo. E, de tão amigos que eram, usavam, se necessário, o
carimbo do colega, pelas mais diversas razões: não possuíam, tinham perdido o
seu, etc. Mas, entre eles, cada um sabia o que tinha feito, o que era seu, que
tinha seu traço, seu estilo. Outra prática que ocorria era vender trabalhos sem
gravar o nome do autor. Tanto que é comum encontrar, hoje em dia, entre as
peças expostas em museus e constantes em livros e catálogos, a anotação
autoria desconhecida.
Os bonequeiros se juntavam quando recebiam uma encomenda de vulto.
Certa ocasião um deles tinha de produzir 2000 figuras retratando "Agentes de
Viagens" para um evento em Recife. A solução foi formar um mutirão, com muitos
trabalhando simultaneamente na encomenda, para que a entrega fosse feita no
prazo combinado. Quando receberam, repartiram o valor em função da produção de
cada um. Os bonequeiros se profissionalizaram e viviam do ofício. Expunham
seus trabalhos na Feira de Caruaru, principalmente aos sábados, dia de maior
movimento. No entanto, face às dificuldades do transporte e do risco de quebra
das peças no manuseio, tanto na ida quanto na volta, passaram a vendê-las em
suas próprias casas no ALTO DO MOURA. Outra vantagem desta medida é que
deixaram de perder um precioso tempo para ir e voltar, sem contar as horas que
ficavam trabalhando na feira, quando ficavam impossibilitados de produzir.
Apoiado na fama de seus artistas, o ALTO DO MOURA passou, então, a
atrair cada vez mais visitantes, fregueses que iam comprar peças para si
próprios ou para revender em outras cidades. Encomendas não paravam de chegar.
Para atender os compromissos, os artesãos tinham que trabalhar muito e quase
sempre contavam com a ajuda de toda a família na produção. No entanto, a renda
auferida mal dava para o sustento com condições mínimas de conforto. Os
intermediários que adquiriam as peças, para revender para as lojas do Recife e
de outras regiões, só se dispunham a pagar preços muito baixos. Os artesãos,
quase sempre com dificuldades de quitar suas contas vencidas, e desorganizados
neste aspecto, não tinham outra saída a não ser aceitar o preço injusto que
lhes impunham. Nenhum artesão acumulou riqueza nem viveu folgadamente. Vitalino
e todos os demais morreram pobres.
O modo atual de modelar os bonecos é quase idêntico ao do passado.
Fazem tudo manualmente usando ferramentas improvisadas. As peças continuam a
ser queimadas em fornos circulares rústicos, com lenha do sertão. Quanto à
decoração, quase nada é esmaltado sendo o acabamento em terracota. Há, no
entanto, os que decoram os trabalhos pintando com tintas comerciais,
normalmente com cores fortes e brilhantes. Há registros que alguns ceramistas
esmaltavam suas peças com zarcão. Hoje ninguém mais usa esta técnica.
No ALTO DO MOURA cada residência se transforma em ateliê, envolvendo
toda a comunidade local, desde o mais simples ajudante até aqueles que moldam o
barro, transformando-o em arte. Hoje, arte e artesãos vêem suas peças
ultrapassarem as fronteiras do país, retratando sua terra, sua cultura, seu
povo, sua gente.
Lá também funciona a Casa-Museu de Mestre Vitalino, administrado pelo seu filho
Severino, instalado na antiga casa, construída em 1959, onde o mais famoso
bonequeiro viveu, trabalhou e morreu. No local estão expostos objetos de uso
pessoal do artista, suas ferramentas de trabalho, móveis e utensílios, e fotos
retratando sua trajetória. No quintal, permanece o rústico forno a lenha
circular, em que fazia suas queimas.
Por toda essa riqueza histórica, cultural e turística, o ALTO DO MOURA
merece ser considerado Patrimônio Cultural e Turístico do Estado de Pernambuco.
Histórico
Sala das Reuniões, em 6 de abril de 2009.
Miriam Lacerda
Deputada
Informações Complementares
Status | |
---|---|
Situação do Trâmite: | Enviada p/Redação Final |
Localização: | Redação Final |
Tramitação | |||
---|---|---|---|
1ª Publicação: | 14/04/2009 | D.P.L.: | 6 |
1ª Inserção na O.D.: | 02/06/2009 |
Sessão Plenária | |||
---|---|---|---|
Result. 1ª Disc.: | Aprovada | Data: | 02/06/2009 |
Result. 2ª Disc.: | Aprovada | Data: | 04/06/2009 |
Resultado Final | |||
---|---|---|---|
Publicação Redação Final: | 05/06/2009 | Página D.P.L.: | 9 |
Inserção Redação Final na O.D.: | |||
Resultado Final: | Aprovada | Data: | 08/06/2009 |
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