Alepe - Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco

Art. 1º Fica concedido o Título de Cidadão Honorífico de Pernambuco a Irmã
Maria Aurieta Duarte Xenofonte pelos relevantes serviços prestados neste
Estado de Pernambuco.

Art. 2º Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação.

Art. 3º. Revogam-se às disposições em contrário.

Autor: Isaltino Nascimento

Nascida em 16 de agosto de 1938, última filha em uma família de seis filhos,
fui criada em meio a natureza e a simplicidade do povo na Região do Cariri, na
Cidade de Crato-CE .

Morou e fez missão e amigos em muitos estados do Nordeste do Brasil, seu
coração sempre pedia para ir para o meio do povo.
Morou no Seminário de Olinda e teve oportunidade de conversar com Dom Lamartine
e falou dos seus anseios, logo após ele falou com Dom Helder Câmara, então
bispo da Diocese de Olinda e Recife. Por esse intermédio e sem autorização da
sua congregação, Dom Helder a levou para Brasília Teimosa, e ainda disse para a
Provincial " deixe Ir. Aurieta ir, é o Espírito Santos que está soprando sobre
ela".

No dia 13 de maio de 1974, às 18:00 horas Pe. Roberto – OMI, a acolheu na
Comunidade Missionária, localizada à Rua Parú, 489. Nesta época nem se falava
em Comunidade Inter-gongregacional e já estavam na prática. Eram Ir. Denize (
Americana ), Ir. Jô ( Irlandesa ), Ir. Maragareth ( Belga ) e eu Ir. Aurieta (
Brasileira Cearense como o Dom ).
Em Brasília Teimosa, dedicava-se inteiramente a organização do povo, que ainda
sofria fortes indícios da repressão militar. Organizavam o Conselho de
Moradores com Moacir Gomes e todo o povo, e ajudamos no fortalecimento das
lutas pela permanência e posse da terra. Foram presença viva na construção das
Vilas Moacir Gomes, Vila da Prata e Vila Teimosinho. Nas ruas o povo todo
gritava" daqui não saio daqui ninguém me tira". Todavia, sentia que ainda
faltava algo, sonhava com a formação superior.

Já no fim dos anos 70, após ser aprovada em vestibular dava inicio a outra
parte importe de sua vida, Comunicação Social e Psicologia Social curso de
formação superior pela Universidade Federal de Pernambuco-UFPE e Faculdade de
Filosofia do Recife - FAFIRE. Conciliar missão, estudo, trabalho e vida de
comunidade não foi fácil. Diariamente tinha que pegar oito transportes para
trabalhar em uma escola em Campina do Barreto. A vida era sacrificada, porém
gratificante. Nas segundas-feiras já era certo o momento de oração e celebração
na casa dos Oblatos de Maria Imaculada no bairro de Candeias.

Em 1982,teve como marco uma nova experiência, com a fundação da Turminha do
Flau, em 28 de outubro daquele ano. Instituição da sociedade civil, sem fins
lucrativos, com o objetivo de educação para o trabalho. Suas ações iniciais
eram voltadas para as necessidades básicas, onde as crianças e adolescentes
iram para as ruas vender o picolé de saquinho que na comunidade é conhecido
como flau.

No mesmo ano de fundação, Rudolf Winkelhorst, um amigo da época do Seminário de
Olinda, a convidou para conhecer a Alemanha, e nesta ocasião a apresentou a
Frei Beda que se interessou pelo trabalho e passou a ser um parceiro. Fez a
doação da primeira máquina de fabricação de picolé, e o flau de saquinho,
passou a ser industrializado. De terça a domingo os meninos vendiam picolé e
tinham orientação religiosa e de cidadania voltada para a conscientização da
história da comunidade, dos seus direitos e deveres. Na sexta-feira à noite
todos se reuniam numa grande assembléia onde avaliavam a semana, planejavam a
próxima e no fim eram-lhe repassado o pagamento de tudo que vendiam durante a
semana. A alimentação era escassa, pois da venda de picolé apenas 30% ( trinta
por cento) desse valor era atribuído a reposição de material. Os 70% (setenta
por cento), era repassado para os meninos, que levavam para casa para ajudar a
suprir as necessidades básicas das famílias.

Em 1983, através de um pedágio, ficou sabendo da existência da Comunidade da
Ilha de Deus, com todas as suas necessidades. O povo estava passando fome, e
nenhuma autoridade tinham visão dos fatos, ou se tinham, fingiam não ver. Como
Frei Beda já era um parceiro da Turma do Flau, seria prudente que ele também
tomasse conhecimento desta realidade. Os dois projetos, Turma do Flau e Escola
Saber Viver – Ilha de Deus, passaram a ser apoiados pelo Aktionskreis Pater
Beda.

Junto as pescadeiras da Ilha de Deus, realizaram várias passeatas em protesto
contra as fábricas da Região Metropolitana do Recife, que estavam poluindo os
rios e acabando os peixes e mariscos, único meio de sobrevivência dos moradores
da localidade. A ponte foi mais uma luta das mulheres da Ilha de Deus e ficou
conhecida como vitória das mulheres.

Com a ajuda de Frei Beda e dos amigos alemães, construíram a Escola Saber
Viver, e posteriormente algumas casas para as pessoas. Aos poucos o povo ia
conquistando seu espaço e tomando mais consciência dos seus direitos. Com o
projeto das casas de alvenaria, os próprios moradores construíam suas casas.
Recebiam do Aktionskreis Pater todo material necessário, transportavam de barco
até a Ilha, e pagavam à Escola Saber Viver com peixe e crustáceos para
melhorando a alimentação das crianças que eram atendidas pela instituição.

Anualmente 350 crianças/adolescentes passam de educação para o Trabalho para a
era de Educação para a Vida . Com uma alimentação de qualidade, o reforço das
atividades pedagógicas em parceria com as escolas, as crianças passaram a ter
um pouco de lazer, tudo foi mudando para melhor. A Turma do Flau, vem
vivenciando uma trajetória histórica e participativa na história do Brasil,
porém, sem perder de vista a sua mística: Dos pobres os mais pobres!