Brasão da Alepe

Requerimento 3388/2025

Texto Completo

Requeremos à Mesa, ouvido o Plenário e cumpridas as formalidades regimentais, que seja registrado um voto de pesar pelo falecimento de Jorge Mario Bergoglio, Sua Santidade, o Papa Fancisco, ocorrido no dia 21 de abril de 2025.

Autor: Dani Portela

Justificativa

Na madrugada do dia 21 de abril de 2025, cessou a voz que tantas vezes ecoou por sobre os muros da fé para tocar as dores do mundo. Partiu, aos 88 anos, o Papa Francisco, o 266.º sucessor de Pedro, mas, sobretudo, o primeiro pastor do sul global a conduzir os rumos do catolicismo - a maior religião do país - em tempos de águas tão revoltas.

Nascido Jorge Mario Bergoglio, em 17 de dezembro de 1936, no bairro popular de Flores, em Buenos Aires, filho de imigrantes italianos e da esperança latino-americana, o menino que seria papa cresceu entre trilhos de ferro e rezas sussurradas por sua avó paterna. A fé, em sua casa, não era dogma; era presença contínua que edificou a sua existência.

Formado técnico em química, conheceu o trabalho, a doença e o silêncio de um pulmão a menos ainda muito jovem. Aos 21 anos, ingressou na Companhia de Jesus, tornando-se, portanto, um Jesuíta. Ali moldou-se no estudo e no serviço, no rigor e na escuta, bem como no espírito inquieto que caracteriza os que jamais se acomodam à injustiça.

Ordenado sacerdote em 1969, percorreu os caminhos difíceis da Argentina sob a sombra da ditadura. Entre os anos 70 e 80, quando tantos se calaram, ele ensinava filosofia e teologia com a firme convicção de que pensar era também um ato de fé — e de resistência. Em 1998, assumiu o arcebispado de Buenos Aires e, com ele, um compromisso irrevogável com os pobres, os invisíveis, os que vivem nas margens e nos becos esquecidos pela concentração de riquezas, mas diretamente afetados pelas desigualdades geradas por esta acumulação injusta.

Na cidade de Buenos Aires, Bergoglio escolheu habitar um apartamento modesto, recusar os privilégios do cargo e andar de metrô. Sua rotina era de trabalho, silêncio e fé.

Foi nomeado cardeal em 2001, e, já então, era conhecido por sua simplicidade, sua sobriedade e sua firmeza contra as mazelas sociais. Em 2013, após a renúncia de Bento XVI, foi eleito papa, tornando-se o primeiro não europeu em mais de 1200 anos de história da Igreja Católica. Escolheu o significativo nome de Francisco, o santo da simplicidade, da humildade, da obra, do amor e da dedicação aos pobres.

Francisco foi o papa da periferia do mundo. O papa do gesto antes da palavra. Recusou o luxo do Palácio Apostólico, preferiu a singeleza da Casa Santa Marta. Foi o líder que, ao invés de se elevar sobre os outros, abaixou-se para lavar os pés de refugiados e prisioneiros. Falava de Deus com a ternura de quem O encontrou nos rostos sofridos das favelas, nos campos de refugiados, nas mãos cansadas dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Durante seu pontificado, liderou corajosamente reformas importantes. Reabriu a Igreja às pessoas LGBTQIA+, acolhendo-as com a delicadeza e a humildade de quem compreende que a humanidade, a dignidade e o amor precedem qualquer ideal mundano. Autorizou a bênção a casais do mesmo sexo e, ao ser duramente criticado pelos setores conservadores, respondeu com caridade e firmeza: "Não podemos ser juízes que apenas negam, rejeitam e excluem".

O Papa Francisco foi um advogado incansável em defesa da justiça social e de uma ordem econômica mais igualitária, denunciando o consumismo desenfreado condenando a desigualdade social causada pela exacerbada concentração de riquezas, tanto de pessoas quanto de países. Neste sentido, atuou como mediador entre Cuba e Estados Unidos, buscando uma pacificação entre os dois países, assim como advogou pela pacificação nos conflitos do Oriente Médio, sobretudo entre Israel e Palestina. 

Francisco foi, ainda, uma importante voz contra o aquecimento global e a destruição do meio ambiente. Enquanto defensor da ecologia integral, com sua encíclica Laudato Si’, que se ergue como um dos documentos mais profundos já escritos sobre a crise planetária, o Papa Francisco compreendia que a fé não é fuga do mundo, mas mergulho amoroso em sua carne ferida.

Também não se esquivou de confrontar a dor causada por dentro da própria Igreja: reconheceu e exigiu enfrentamento aos abusos cometidos contra mulheres e crianças dentro da instituição— uma chaga que, enfim, encontrou nele um pastor que não se omitia. Sua defesa da transparência na Igreja, da abertura, do diálogo e das efetivas punições para quem cometeu eventuais males em nome da fé, reaproximou os fiéis da instituição, transmitindo confiança, firmeza e ética.

Francisco foi, em essência, um Papa sábio e político. Mas não político no sentido partidário, e sim no mais nobre dos sentidos: aquele que se preocupa com a cidade das pessoas (a polis), com a dignidade dos humanos, com a justiça das estruturas sociais. Foi o Papa dos pobres, dos imigrantes, dos esquecidos, dos marginalizados. E, por isso, foi também o Papa da esperança.

Hoje, o mundo despede-se de uma figura que não será lembrada por suas vestes, mas por seus gestos e ações. Que não será reconhecida pelos títulos, mas pela coragem de ter encarado desafios, renovado a Igreja, e não á toa, escolhido o nome e a missão de um santo que amou todas as criaturas, indiscriminadamente.

Francisco deixa o mundo mais próximo da paz, mesmo que ainda tão distante dela. Foi, como ele mesmo disse certa vez, “um pecador a quem o Senhor olhou”. E nós, ao olharmos para ele, vimos algo da mensagem que o próprio evangelho traz, encarnado em uma pessoa: humildade, humanidade, comprometimento e fé.

Que a sua memória e a sua obra nos lembre que a fé, quando verdadeira, não se contenta em rezar pelos que sofrem, mas caminha ao lado deles.

 

Histórico

Dani Portela
Deputada


Informações Complementares

Status
Situação do Trâmite: ENVIADO_PARA_COMUNICACAO
Localização: SECRETARIA GERAL DA MESA DIRETORA (SEGMD)

Tramitação
1ª Publicação: 23/04/2025 D.P.L.: 27
1ª Inserção na O.D.:




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