Reações ao fechamento do Hospital Jesus Nazareno marcam audiência em Caruaru

Em 18/03/2024
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A Comissão de Saúde da Alepe debateu nesta segunda, na Câmara Municipal de Caruaru, o plano anunciado pelo Governo do Estado de fechar o Hospital Maternidade Regional Jesus Nazareno – também conhecido como Fusam – após a inauguração do Hospital da Mulher do Agreste. Na audiência pública, profissionais da saúde e representantes da sociedade defenderam a  manutenção da unidade.

O debate foi solicitado pela deputada Rosa Amorim, do PT, que enfatizou a importância do hospital. A Fusam é uma referência no atendimento de gestantes e crianças em todo o Agreste. A unidade realiza uma média de 18 partos por dia, dos quais 86% são de alto risco. Sobre o anúncio da transferência dos atendimentos para o Hospital da Mulher, Rosa Amorim argumenta que Caruaru, como uma cidade polo, precisa não apenas manter, mas expandir sua rede de saúde para atender às necessidades da população.

Nós, que já lidamos com a negativa pela alta demanda que nós temos aqui, as mulheres do Agreste vão parir em sua maioria no Recife hoje, então, nós achamos que não é o momento para fechar leitos, mas sim abrir leitos. É um hospital que atende diversos outros segmentos para além apenas do parto, então nós queremos aqui encontrar alternativas para que tenham os dois hospitais funcionando e que a gente possa atender a população do Agreste.”

Diretora do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Pernambuco, Marília Cavalcanti reforçou que o serviço precisa ser ampliado, e não substituído. De acordo com ela, o problema da Fusam é de superlotação, e não apenas de infraestrutura. Ela acredita, ainda, que o fechamento da unidade põe em risco a vida de mulheres e crianças. 

Existe um extrapolamento de lotação dos serviços. A gente encontra em vários plantões um número enorme de mulheres perto de parir, já em trabalho de parto ativo, e a gente acaba com corredores lotados de mulheres grávidas. A gente também tem um serviço lá de atendimento de vítimas de violência doméstica, de mulheres vítimas de violência doméstica, que a gente precisa ampliar.”

Vice-presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, Ana Carolina Tabosa reforçou que, mesmo com sobrecarga e necessidade de investimentos, o Jesus Nazareno entrega 6 mil partos por ano e cerca de 30 mil procedimentos. Hoje a gente tem na nossa rede materna e infantil mulheres ainda parindo em macas baixas, sem um leito adequado para ser bem assistida e a gente precisa de uma ampliação de serviços, ampliação de serviços de mastologia, e ginecologia para também bem atender a mulher pernambucana. Então, neste momento, a gente não consegue vislumbrar o fechamento de um serviço que tanto entrega a população.”

Na mesma linha, o conselheiro do Cremepe – Conselho Regional de Medicina -, Miguel Arcanjo, reconheceu que a abertura de leitos de UTI no Hospital da Mulher do Agreste é um avanço para a sociedade, mas  ressaltou que não dá para abrir mão dos leitos já existentes no Jesus Nazareno. Como muitos participantes da audiência, ele disse que o atendimento materno-infantil hoje é muito precário no Estado.

Representando o Conselho de Saúde de Caruaru, Romário Santos apontou possíveis interesses privados em comprar o terreno onde hoje funciona a Fusam. Ele ainda lamentou os atrasos na inauguração do Hospital da Mulher e cobrou melhorias para o Hospital Regional do Agreste e o Hospital São Sebastião. 

Vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem, Thaíse Torres relatou dificuldades de dialogar com o Governo e também alertou para os prejuízos do fechamento de leitos. “Estamos hoje, aguardando um diálogo com o Estado que não tem sido fácil, mas representando o Corem, 400 profissionais da Fusam, a gente está no movimento de proposição para a manutenção do Jesus Nazareno, mesmo que haja a abertura do Hospital da Mulher do Agreste. A gente tem uma superlotação, uma alta transferência, uma peregrinação muito grande, então fechar 120 e abrir 153 não vai resolver.”

O representante da loja maçônica Dever e Humanidade, Antônio José Soares,  desmentiu a informação de que a entidade, que cedeu o terreno na década de 1940 para a construção do hospital, estaria reivindicando agora a posse da área. Essa justificativa teria sido dada pelo Governo para o fechamento da unidade, mas Antônio José disse que a loja maçônica foi surpreendida com o que afirmou ser uma notícia falsa.

Durante os debates, Rosa Amorim e o deputado Abimael Santos, do PL, lamentaram a ausência de representantes do Governo do Estado e da diretoria da Fusam. Como encaminhamentos, Rosa mencionou a articulação de ações junto ao Ministério Público e a cobrança ao Governo pela manutenção e ampliação dos serviços da Fusam.