“Foi um tremor na mão esquerda que eu tentei esconder da família mas eles perceberam.”
“Eu estava trabalhando, aí me senti mal e corri pra o hospital. Quando eu cheguei lá, o médico disse que eu estava com Parkinson.”
“O Parkinson vai apertando, vai abraçando você.”
Os relatos dos pernambucanos José, Carlos e Maria dizem respeito a uma doença que, segundo a Organização Mundial de Saúde, acomete 1% da população com mais de 65 anos. O Mal de Parkinson é uma patologia neurodegenerativa que afeta o sistema nervoso e leva, progressivamente, à perda das habilidades motoras. Ele se manifesta através de alterações na fala e na escrita, lentidão dos movimentos e rigidez corporal, mas o sintoma mais característico é o tremor. Ao contrário do que muita gente acredita, a intensidade dos tremores não é proporcional à gravidade da doença, como explica o neurologista Paulo Brito, que atende pacientes de Parkinson no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife. “Quem treme muito, esse daí geralmente não tem problema mental. O outro tipo, que é o que treme pouco, que é o que fica endurecido, esse daí tem uma tendência a ter os problemas mentais. Ele tem 50% de chance para ter depressão, e outra quantidade dessa para ter doenças psicóticas.”
Apesar de ter os idosos como faixa etária vulnerável, o Parkinson não é exclusivo da terceira idade. Os primeiros sinais podem aparecer antes dos 40 anos, como alterações em outros órgãos que o paciente não associa à doença. De acordo com o neurologista Paulo Brito, essas manifestações podem aparecer de quatro a seis anos antes dos sintomas motores. “ Começa a não sentir o cheiro das coisas. Eles não tinham e passam a ter prisão de ventre. E aí, eles passam a ter também alterações no coração, que aí se faz exame e se detecta que a doença já atingiu o nervo que vai para o coração. E quando começa a tremer, não começa de vez.”
A evolução da doença de Parkinson foi silenciosa para o recifense Carlos Antônio Medeiros, de 72 anos. Sargento aposentado, ele recebeu o diagnóstico há sete anos, após ser socorrido durante o expediente na Guarda Patrimonial do Estado de Pernambuco. O maior lamento do militar é ter perdido a autonomia. “O que mais me incomoda hoje em dia é porque eu estou andando muito lento. As pisadas amarrando, entendeu? Aí minhas filhas, minha mulher, não deixam eu sair sozinho não. Eu saio acompanhado.”
Morador de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, o aposentado José Bezerra, de 69 anos, foi diagnosticado em 2012, após perceber um tremor na mão. Pai de três filhos, ele conta que tentou esconder o caso da família. “Porque primeiro eu queria saber do que se tratava, né? Mas eles se adiantaram e combinaram de marcar uma consulta. Aí eu recebi o diagnóstico, e eles ficaram mais preocupados que eu.”
O Ministério da Saúde estima que, no Brasil, mais de duzentas mil pessoas convivem com o Parkinson. Ainda sem cura conhecida, a enfermidade possui um protocolo para atendimento no SUS. O documento, criado em 2002 e atualizado em 2017, estabelece um tratamento multidisciplinar para a doença. O neurologista Paulo Brito, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, reforça a importância da medicação. “Se eles ficarem sem o remédio, eles ficam paralisados. É cruel. E aí você coloca um comprimido para ele tomar, com 40 minutos ele se levanta como se estivesse normal. Ele depende daquele remédio para viver, daí o governo ter cuidado de não faltar isso, porque quando falta é um desastre.” Em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou que a rede pública está habilitada para atender pessoas com Parkinson. Em nota, o órgão também divulgou que a Farmácia do Estado fornece mais de dez tipos de medicamentos.
Além dos remédios, quem tem Parkinson também precisa realizar outros procedimentos para impedir a evolução da doença, como fisioterapia e acompanhamento com fonoaudiólogo. Para o aposentado José Bezerra, fazer terapia também é importante para saber lidar com o problema. “Às vezes o aspecto psicológico contribui muito para incrementar sintoma na pessoa. Uma conversa ajuda. E aí ela tem muito mais condições de lidar com o fato, porque não é terrível, não. Terrível é a gente não estar preparado.”
A Associação de Parkinson de Pernambuco, ASP, disponibiliza, no Recife, terapias variadas para os portadores da doença. A presidente da ASP, Maria José Melo Santos, de 59 anos, conheceu a entidade depois que o marido teve Parkinson. Para ela, o tratamento oferecido pela Associação vai além da medicina. “A gente faz trabalhos fora, fazemos passeio, temos um bloco chamado Treme-Treme que sai antes do carnaval… É muito importante pra eles, porque quanto mais tempo eles ficarem parados, pior é.” Para seu José, que frequenta a ASP, o trabalho desenvolvido por lá foi fundamental. Seu Carlos, o policial aposentado, também é associado. Mesmo sem poder andar sozinho, ele afirma que conta com o apoio da família para não faltar às consultas e atendimentos. “Eu não desisto não, Deus me livre. Se eu desistir, eu acho que eu morro.”