Mulheres no Parlamento: eleições de 2018 apontam para novos caminhos de representação política

Em 09/11/2018
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A bancada feminina eleita em 2018 para a Assembleia Legislativa de Pernambuco é a maior da história: dez mulheres conseguiram uma, das 49 cadeiras do Parlamento Estadual. Foram elas: Alessandra Vieira, do PSDB; Clarissa Tércio, do PSC; Delegada Gleide Ângelo, do PSB; Dulcicleide Amorim, do PT; Fabíola Cabral, do PP; Juntas, do PSOL; Priscila Krause, do Democratas; Roberta Arraes, do PP; Simone Santana, do PSB; e Teresa Leitão, do PT.

Entre as representantes que chegaram à Alepe, a ascensão de um mandato coletivo e de parlamentares novatas no mundo político merece destaque, na avaliação da professora de Ciência Política da UFPE, Ana Maria de Barros. “Nós temos várias mulheres que vêm das organizações de bairro, do movimento feminista, mas também temos aí mulheres familiares de políticos tradicionais que ocupam espaço com essas mulheres que estão chegando. Mas a novidade dessa eleição aqui em Pernambuco é, sem dúvida nenhuma, o crescimento da bancada das pessoas que estão vindo dos movimentos sociais, por exemplo, a conquista do coletivo Juntas.”

O mandato coletivo Juntas, do PSOL, é composto por cinco mulheres que vão dividir uma das cadeiras na Alepe. Esse tipo de composição é um fenômeno recente e ainda não tem previsão legal. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, a candidatura precisa ser registrada em nome de uma única pessoa, que é a titular do mandato. No caso da Juntas, a representante nas urnas foi a vendedora ambulante Jô Cavalcanti, mas elas explicam que não há impedimentos jurídicos para que as decisões sejam compartilhadas.

Assim, o grupo espera ampliar a representatividade, como explica a professora Kátia Cunha, uma das integrantes. “Prioritariamente, a população pode esperar que essa mandata coletiva vai ser feita para o povo e com a participação do povo. Nada sobre a gente, sem a gente. Então, o princípio maior é decidir tudo na coletividade, com a participação popular.” Para isso, o grupo vai precisar se organizar internamente. 

Pelas regras, somente a titular do mandato pode assinar projetos de lei e participar das votações. Mas como tudo vai ser decidido de forma conjunta, o mandato coletivo possibilita que mais vozes sejam representadas por meio de um única vaga. Isso facilita o caminho para que mais mulheres cheguem ao mundo da política, na opinião da professora Ana Maria de Barros. “É uma experiência inovadora na política e que representa sim, esse segmento de mulheres que querem mais espaço de poder, já que não são oriundas das famílias tradicionais que estão na política, e começam a desbravar esse árduo e difícil terreno da política machista, principalmente aqui no Nordeste, onde os espaços políticos e de poder são tradicionalmente ocupados pelos homens.”

Por esses motivos, merece destaque o fato da deputada estadual mais bem votada ter sido uma mulher. A votação expressiva da Delegada Gleide Ângelo, do PSB, que obteve mais de 400 mil votos, pode ser considerada uma vitória para o segmento feminino, na opinião da deputada Simone Santana, do PSB, presidente da Comissão da Mulher“A sociedade mostrou que realmente está buscando novos representantes e cada vez mais próximos da realidade da população. Então, acho que foi significativo, espero que a gente só avance, que não haja retrocessos.”  

A deputada eleita Gleide Ângelo também acredita que os bons resultados foram reflexo da busca das mulheres por igualdade e justiça. “É injusto uma Assembleia como sempre foi, com 43 homens e 6 mulheres, isso não é igualdade. A nossa luta é por igualdade e estava muito desigual. Então, a gente tem muito que conquistar e como eu sempre digo às mulheres: precisamos ocupar os nossos espaços.”

A pesquisadora Ana Maria de Barros espera que as mulheres eleitas consigam transformar a realidade das pernambucanas. “A política, segundo Hannah Arendt, pode ser a mais bela expressão de amor ao mundo. Pela política nós podemos fazer transformações importantíssimas. Eu acho que essas mulheres que vem com muita vontade de trabalhar, com muita vontade de fazer a diferença, elas podem tornar Assembleia Legislativa muito mais próxima dos anseios, dos desejos e das pautas das mulheres pernambucanas.”

As deputadas eleitas tomam posse em primeiro de fevereiro de 2019, para um mandato de quatro anos.